Gabriela Dorigon Maza, de 25 anos, mãe de um menino de dois anos, foi demitida de seu emprego como atendente de caixa em uma situação inesperada. A jovem havia sido internada com urgência após sofrer uma grave hemorragia digestiva causada por uma úlcera, o que colocou sua vida em risco.
Mesmo se recuperando e com risco de complicações, ela retornou ao trabalho, mas, para sua surpresa, foi mandada embora pouco depois de receber alta hospitalar.
“Eu estava vomitando sangue, desmaiei no serviço, minha pressão chegou a 19 por 12. Fui internada do dia 22 ao dia 26. Quando voltei, no dia 27, me mandaram embora porque passei mal no trabalho”, disse Gabriela, emocionada.
Enquanto esteve internada, Gabriela ficou restrita ao leito, recebendo apenas soro, vitaminas e medicamentos para conter o sangramento. “Se eu levantava, minha pressão caía e eu passava mal. Corria risco de vida. No fim, descobriram que eu estava com gastrite hemorrágica aguda, que pode matar se não cuidar”.
A jovem contou que passou por momentos de medo intenso: “eu tenho um filho pequeno para cuidar, só pensava nela. Se eu morresse, quem ia olhar por ela?”, questionou.
Mesmo assim, ao sair do hospital, decidiu cumprir com sua obrigação e voltou ao emprego, onde estava em período de experiência. No entanto, não encontrou compreensão com seu estado de saúde. “Eles falaram que iam me mandar embora porque eu estava internada e passei mal no serviço”, lamentou.
Saúde não espera
Gabriela ressaltou a importância de cuidar da saúde, apesar das dificuldades do dia a dia. “Saúde não é brincadeira. Serviço a gente arruma outro, saúde não”, desabafou.
Ela também faz um apelo para que casos como o dela não se repitam. “Espero que as pessoas tenham mais empatia e amor pelo próximo. Eu amo trabalhar com o público, sou simpática, atenciosa e proativa. Mas o que fizeram comigo não se faz nem com um animal”, afirmou.
Agora, além da preocupação com a saúde, Gabriela precisa encontrar forças para buscar um novo emprego e garantir o sustento do filho pequeno. “Espero arrumar um emprego melhor. Meu Deus é fiel e tudo pode. Mas a questão da saúde tem que ser prioridade.”
Há ilegalidade?
A advogada trabalhista e professora universitária Daiene Kelly Garcia, mestre em Direito pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Franca, explicou que, no caso de Gabriela, não existe previsão legal de estabilidade devido à doença, a menos que a condição esteja diretamente relacionada ao trabalho — como doenças ocupacionais, acidentes de trabalho ou gravidez durante o contrato de experiência.
“Não é uma conduta ilegal, mas é imoral e repugnante, na medida em que desconsidera o quadro de saúde e social dessa mãe, com filhos pequenos para criar”, explicou.
Daiene ressaltou que, mesmo sendo legalmente permitido, a postura da empresa ignora a função social que muitas companhias costumam adotar, criando benefícios para apoiar mães trabalhadoras, como licença-maternidade estendida ou auxílio creche. “Essas políticas existem justamente porque se reconhece que a reinserção da mãe no mercado de trabalho enfrenta barreiras, e cabe também à empresa ajudar a superá-las”, comentou.
Por outro lado, a advogada também reconhece a situação delicada enfrentada pelo empregador, especialmente em empresas de pequeno porte. “É compreensível, pois contrataram alguém porque precisavam. E esse alguém, por motivos de força maior, não pôde atender às expectativas naquele momento.”
Além disso, segundo ela, é frustrante para o empregador manter no quadro um funcionário ausente ou que passa mal diante dos clientes, gerando constrangimento e até desconforto em quem presencia a situação.
Apesar da fragilidade da situação, Daiene acredita que não há grande viabilidade para uma ação judicial com chances reais de sucesso. Para ela, o ideal seria sempre manter um canal aberto de diálogo, de preferência mediado por uma assistente social, mas reconhece que, para pequenas empresas, isso muitas vezes não é economicamente possível.
Comentários
6 Comentários
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ISRAEL PEREIRA 29/07/2025É o fim da picada... Não pode mais nem quase morrer que já é demitido quando volta... Sei lá... Se eu fosse essa mulher exporia o mercadinho... É caro manter um funcionário doente mas fica mais caro ainda perder a moral, a reputação... Que Deus abençoe que ela consiga um emprego ainda melhor!... Saúde! -
Angela Rocha da Silva rosa 29/07/2025Em 2013 trabalhei na Renner , só Deus sabe o quanto queria trabalhar lá !!! Mais infelizmente comecei sentir dores de cabeça muito fortes !!! E chegava a desmaiar!! Implorei para liberarem o plano de saúde ,não liberaram diziam que era só após 3 meses ,passava mal um dia sim outro sim também ,me levavam pra enfermaria do shopping ,mediam pressão etc e falava que não era nada dai me mandavam embora pra casa sozinha eu dependia de ônibus !!! Sentia tonturas muito fortes e pedi para chamarem uma ambulância para me levar no PS e sabe o que me falaram ,não pode entrar viaturas dentro do shopping !! E eu ia sozinha correndo risco de acontecer algo mais sério na rua comigo , nem o trabalho de ligar para alguém da família não tinham !! Ok sabe o que eu tinha um tumor cerebral!!! Após muitos meses tentando uma consulta com especialistas que eu consegui o diagnóstico , só que quando consegui já estava demitida!! Não assinei a recisão no ato !! E pasmem levaram até o hospital pra eu assinar Na época entrei com processo e não ganhei Agente só tem valor quando está com saúde ,no meu caso foi uma doença que apareceu !! Eu não escolhi ficar doente ,esperava pelo menos empatia da parte da empresa -
Freitas 29/07/2025Empresas privadas não tem função social pois não são agraciadas pelo Estado com dinheiro tomado da população via impostos para cobrir os prejuízos, como ocorre nas estatais. Espero que a moça se recupere, trate corretamente sua doença enquanto recebe o seguro desemprego. -
Cortella 28/07/2025Nem tudo que é ético é legal, nem tudo que é legal é ético. Pode ser até legal, mas não é uma atitude digna de uma pessoa que se importa minimamente com outra pessoa. Não precisa nem ser cristão. Humanidade básica. -
Darsio 28/07/2025É por isso que existe por parte das elites, uma clara campanha para desqualificar o regime de CLT, pois preferem trabalhadores que possam ser submetidos a um regime análogo a escravidão. -
Antônio Henrique 28/07/2025EU acho que deveria colocar o nome dessa empresa se é que podemos chamar isso de empresa né por essa falta de valorização do ser humano juntamente com o funcionário é que as empresas estão cada dia mais sem mão de obra e tomara que fique cada vez mais