OPINIÃO

É hora de levar a sério a prevenção do câncer de intestino

Por Dra. Fernanda Letícia Cavalcante | Coloproctologista
| Tempo de leitura: 2 min
É hora de levar a sério a prevenção do câncer de intestino
É hora de levar a sério a prevenção do câncer de intestino

O câncer de cólon e reto, também conhecido como câncer de intestino, já é o terceiro tipo mais comum no Brasil, atrás apenas do câncer de pele não melanoma e do câncer de mama feminino. E o que já é preocupante tende a se agravar nos próximos anos.

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Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), entre 2023 e 2025, o país deve registrar 45.630 novos casos por ano, sendo 23.660 em mulheres e 21.970 em homens. A projeção da Fundação do Câncer é ainda mais alarmante: até 2040, os diagnósticos anuais podem ultrapassar 70 mil, representando um aumento de mais de 20%.

Estamos diante de um cenário que exige ação imediata. Entre 2015 e 2023, a cobertura de planos de saúde registrou uma alta de 80% nos diagnósticos de câncer colorretal. Isso mostra, por um lado, a ampliação do acesso a exames e diagnósticos. Por outro, revela uma tendência preocupante de crescimento da doença, inclusive entre pessoas mais jovens.

Fatores como sedentarismo, excesso de peso, consumo de carne vermelha, alimentos ultraprocessados, tabagismo e álcool estão entre os principais hábitos associados ao risco da doença. A maioria dos casos e internações ainda ocorre entre pessoas com mais de 65 anos, mas há registros crescentes em faixas etárias mais baixas: consequência direta das mudanças nos padrões alimentares e de comportamento.

A Fundação do Câncer também aponta aumentos regionais importantes. As regiões Centro-Oeste e Norte podem registrar crescimento superior a 30% até 2040. Já o Sudeste, apesar de concentrar o maior número de casos, deve apresentar uma alta de 18%.

É urgente reforçar o rastreamento por meio da colonoscopia a partir dos 45 anos, mesmo em pessoas sem sintomas. A detecção precoce de pólipos pode evitar a evolução para quadros mais graves. Exames como o de sangue oculto nas fezes também têm papel relevante, mas a colonoscopia é a principal ferramenta diagnóstica. A remoção de pólipos ainda benignos, durante o exame, aumenta drasticamente as chances de cura e reduz o número de internações e óbitos.

Dados do Observatório da Saúde Pública mostram que, em 2022, quase 96 mil pessoas foram internadas por câncer colorretal no país. Foram registradas 20.245 mortes, com números praticamente equilibrados entre mulheres (10.356) e homens (9.889). A taxa nacional é de 47,2 internações por 100 mil habitantes, ou seja, uma estatística que precisa ser enfrentada com políticas públicas mais eficazes.

Casos como o da cantora Preta Gil, que trouxe visibilidade ao tema, ajudam a reforçar campanhas e a pressionar por avanços nas estratégias de rastreamento precoce. Mas é fundamental que o debate ultrapasse os ciclos da mídia e resulte na estruturação de programas permanentes, com colonoscopia regular para a população com mais de 45 anos ou com fatores de risco.

O câncer de intestino é silencioso nas fases iniciais. E justamente por isso, a prevenção não pode ser tratada como uma escolha. É uma necessidade. A colonoscopia salva vidas.

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