Na capital da fé católica do país, a religião teve papel importante na Revolução Constitucionalista de 1932, que teve o Vale do Paraíba como um dos principais palcos da guerra. Nesta quarta-feira (9), o combate completa 93 anos.
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Nesse contexto, a região abrigou duas unidades de ‘Batalhões da Fé’, grupos de combatentes com denominações religiosas que foram à luta para derrubar o então governo provisório de Getúlio Vargas e definir uma nova Constituição para o país.
O movimento paulista começou em 9 de julho e teve Cunha como palco da primeira luta travada entre as forças constitucionalistas e fuzileiros navais do governo federal.
Também aconteceu na região o primeiro bombardeio aéreo por aviões governistas, em Cachoeira Paulista. Já na vizinha Cruzeiro ocorreu o primeiro combate aéreo do país. As cidades de Lorena e Guaratinguetá também foram bombardeadas nos dias de conflito.
Nossa Senhora Aparecida.
Uma frente de combate chamada 'Linha Nossa Senhora Aparecida' ou um 'Batalhão Padroeira do Brasil' podem soar estranho para quem pouco sabe sobre a Revolução de 1932.
Durante os três meses de conflito, Nossa Senhora esteve nas trincheiras do combate, presente nos corações dos leigos e religiosos que lutaram pela democratização do país.
O nome da linha de combate foi uma homenagem à Padroeira do Brasil, feita pelo Estado Maior do Exército Constitucionalista.
O conflito não envolveu oficialmente a Igreja Católica, mas também não impediu a atuação de religiosos que concordavam com a proposta revolucionária de apoiar o movimento que exigia uma nova Constituição para o Brasil e a manutenção do respeito político pelo estado de São Paulo.
Por ser um ponto estratégico para a Frente Norte do conflito, Aparecida foi bombardeada por ataques aéreos, o que motivou a ação de sacerdotes que tomaram nitidamente posição favorável à Revolução, sendo o principal deles o padre Antão Jorge.
Hospital militar.
Líder nato, Antão colaborou com o regimento do corpo expedicionário de aparecidenses prontos para o combate. O missionário redentorista organizou com os Vicentinos um hospital militar, com sede na atual escola Chagas Pereira, chamado Hospital da Revolução, para o atendimento de feridos.
Em carta ao arcebispo dom Duarte Azevedo, disse Antão: “A menor entre as cidades paulistas não quer ser a última a contribuir para o triunfo do ideal pelo qual São Paulo está se batendo. A Padroeira do Brasil nos dê quanto antes, a paz após a Vitória do Ideal Constitucionalista”.
Ao mesmo tempo em que seminaristas deixavam o Seminário Santo Afonso, partindo em trens lotados para a capital paulista, padre Antão acolhia intensamente jovens padres brasileiros, que se assumiram capelães militares.
Entre eles, segundo o Centro de Documentação e Memória do Santuário Nacional, estava o padre Antônio Pinto de Andrade, que esteve nas frentes de batalha em cidades como São José do Barreiro e Silveiras. Também o padre Geraldo Pires de Souza, conferencista e escritor, que também esteve nos campos de batalha. Seus capacetes hoje estão no Museu Nossa Senhora Aparecida.
Imagem da santa.
Outro dilema enfrentado em Aparecida era de retirar ou não a imagem de Nossa Senhora Aparecida de seu santuário para mantê-la em segurança.
Em setembro, diante da necessidade de “esconder” a imagem em um abrigo subterrâneo, o arcebispo mostrou preocupação com os combatentes, que beijavam a Imagem sempre ao retornarem à luta.
“Tirar a Imagem é arrancar-lhes a principal esperança. Que será depois se nossos soldados ficarem desesperados de sua vitória, por verem retirada a Padroeira, como se nossa causa já estivesse perdida?”, questionou.
Em 25 de setembro, a imagem foi levada para o Palácio de São Luís, residência oficial do arcebispo de São Paulo, dom Duarte Leopoldo e Silva.
O conflito se encerrou e a imagem da Virgem de Aparecida foi trazida para a cidade pelo próprio padre Antão, em 6 de outubro daquele ano, de onde continua abençoando e protegendo seus filhos.
Frei Galvão.
Em Guaratinguetá, um agrupamento foi batizado em homenagem a Frei Galvão, que se tornaria o primeiro santo brasileiro.
O Batalhão Frei Galvão lutou na Serra da Mantiqueira, próximo ao túnel e em outros pontos da região. Com a proteção de Frei Galvão, a unidade não teve baixas. “Nome [do batalhão] foi escolhido pela fé dos paulistas que nele se alistaram em prol de tão nobre causa”, diz texto da Casa de Frei Galvão.
Uma fotografia do artista plástico Ernesto Quissak registrou alguns dos participantes do Batalhão Frei Galvão na Guerra dos Paulistas.
Segundo informações históricas, o Batalhão Frei Galvão contou com soldados que protagonizaram uma estratégia militar genial, que levou as tropas federais em Cunha a retornarem às linhas originais.