QUEBRA DE DECORO

Sem cassação: Comissão de Ética sugere censura a vereador do PL

Por Julio Codazzi | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Flavio Pereira/CMSJC
Thomaz Henrique está no segundo mandato como vereador em São José
Thomaz Henrique está no segundo mandato como vereador em São José

A Comissão de Ética da Câmara de São José dos Campos recomendou que o presidente da Casa, Roberto do Eleven (PSD), aplique sanção de censura verbal ou escrita ao vereador Thomaz Henrique (PL), que foi acusado por um morador de cometer atos de discriminação contra a comunidade LGBTQIAP+.

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O parecer da comissão cita que Thomaz infringiu dois incisos do Código de Ética dos Vereadores: "praticar ato nas dependências da Câmara que comprometa o respeito, a dignidade e as responsabilidades compatíveis com o comportamento de um representante do povo"; e "praticar ofensas físicas ou morais aos seus pares, ou a qualquer pessoa, nas dependências da Câmara, por intermédio de atos físicos ou palavras injuriosas, ou aos membros da Mesa Diretora ou das comissões e que extrapolem os limites da inviolabilidade nos termos regimentais e deste código".

Ao lado da advertência verbal ou escrita, a censura é a punição mais branda prevista no Código de Ética. As mais rigorosas são a suspensão do mandato por 30 dias e a perda do mandato. O parecer foi assinado pelo vereador Gilson Campos (PRD) e recebeu a concordância dos outros quatro parlamentares da comissão: Zé Luís (PSD), Milton Vieira Filho (Republicanos), Fernando Petiti (PSDB) e Lino Bispo (PL).

A Câmara informou que o presidente da Casa "manifestará sua decisão após o recesso parlamentar" - ou seja, a partir de agosto. Já Thomaz afirmou que discorda do parecer da comissão (leia mais abaixo).

Representação.

Na representação feita no início de junho, o morador João Vitor Ferreira de Souza afirmou que Thomaz "tem usado seu cargo, o plenário da Câmara e suas redes sociais para espalhar mensagens e fazer declarações que incentivam a discriminação, atacam e humilham, de forma especialmente agressiva, pessoas transexuais, e com isso, toda a comunidade LGBTQIAP+".

A representação traz uma série de postagens e vídeos em que Thomaz aborda o tema. Em uma das publicações, por exemplo, o vereador diz que São José teria um ambulatório para fazer "mudança de sexo" em crianças. Em outra, ao debochar de políticas de cotas para pessoas trans em universidades, o parlamentar afirma: "não estude, seja um travesti".

A denúncia também cita que, na campanha eleitoral de 2024, Thomaz divulgou um vídeo em que, numa cena virtual, dava um chute em uma mulher trans. "Isso não é só transfobia - é incentivo à violência", diz trecho da representação.

Comissão.

Antes de emitir o parecer, a Comissão de Ética notificou Thomaz para apresentar defesa, mas o vereador do PL não se manifestou. Ao concluir pela sanção de censura verbal ou escrita, a comissão entendeu que as condutas de Thomaz "ultrapassaram os limites aceitáveis nesta Casa" e apontou que a imunidade parlamentar não é absoluta.

"Tal garantia [imunidade parlamentar] não é absoluta, como qualquer outra garantia, não se podendo permitir que a pretexto da inviolabilidade, possam ser proferidas ofensas verbais a ponto de denegrir completamente a imagem das pessoas, grupos ou promover discurso de ódio, sob pena de malferimento do princípio da dignidade da pessoa humana. Ou seja, a garantia constitucional da imunidade material do parlamentar caso extrapole os limites da manifestação com conteúdo discriminatório ou de ódio, deixará o parlamentar sujeito a sanções, seja ela penal, cível ou da própria Casa Legislativa, por incorrer em abuso de poder".

O parecer da comissão ressaltou que, na legislatura passada, Thomaz já recebeu advertência verbal após dizer, em uma sessão de abril de 2024, que: "quem sabe se o governo militar tivesse matado mais comunistas, mais terroristas, tinha evitado o que está acontecendo hoje no Brasil". "Nota-se portanto a reincidência da conduta", destacou o relator.

O parecer também destacou que Thomaz responde a inquérito policial também por homofobia e é réu em processos judiciais pela declaração sobre a ditadura e por ataques a servidores.

Thomaz.

Questionado pela reportagem, Thomaz afirmou discordar do parecer. "A Comissão de Ética comete um erro ao não arquivar a representação, mas a punição branda, dada por uma maioria de vereadores governistas, deverá nos ajudar a arquivar as demais denúncias na Justiça, visto que tanto a Polícia Federal, quanto o Ministério Público Federal já afirmaram não ver nenhum crime ou discurso de ódio em discursos feitos sob a égide da imunidade parlamentar".

Comentários

1 Comentários

  • Alex Marques 01/07/2025
    Espero que recorram, pois não se pode perder a oportunidade de livrar SJC desse lixo. #ForaThomaz.