DECISÃO JUDICIAL

STF anula interdição de casas da Missão Belém em Jundiaí

Por Camila Bandeira |
| Tempo de leitura: 3 min
Jornal de Jundiaí
Unidade feminina da Missão Belém em Jundiaí acolhe cerca de 100 mulheres em situação de vulnerabilidade
Unidade feminina da Missão Belém em Jundiaí acolhe cerca de 100 mulheres em situação de vulnerabilidade

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou na terça-feira (27) a decisão judicial que interditava, por motivos sanitários, as duas casas de acolhimento da Missão Belém em Jundiaí. A decisão reconhece que a instituição tem caráter religioso e não deve ser tratada como clínica terapêutica.

Segundo o ministro, o Tribunal de origem e o Ministério Público de São Paulo desconsideraram a natureza religiosa da Missão Belém ao equipará-la a uma comunidade terapêutica. Para ele, tal interpretação inviabiliza as atividades da organização e desampara pessoas em situação de vulnerabilidade.

“Como não se trata desse tipo de instituição, precisamos analizar a situação das Casas de Acolhimento da Missão Belém a partir da legislação aplicável às Organizações Religiosas”, afirmou o ministro Gilmar Mendes, em referência ao artigo 5º, inciso VI, da Constituição Federal. A Missão Belém está amparada pela proteção constitucional conferida à liberdade religiosa, que garante autonomia para definir sua estrutura, práticas e administração sem ingerência do Estado.

O ministro também destacou que não é razoável exigir da organização o cumprimento de normas destinadas a comunidades terapêuticas, como manter responsável técnico habilitado, fichas clínicas e registro técnico de atendimentos, sem considerar suas particularidades religiosas.

Além disso, o ministro relembra que o juiz de primeira instância reconheceu que as pessoas acolhidas recebem bom tratamento. “O encerramento das atividades da instituição ensejariam o abandono de dezenas de pessoas que estão num ambiente saudável, organizado e respeitoso, relegando-as a lugar nenhum, facilitando que retornem às ruas”.

O advogado da Missão Belém, Pablo Henrick Vital, comentou a decisão. "O Ministro Relator já se manifestou de forma expressa quanto ao mérito da questão apresentada, proferindo decisão relevante, na qual reconheceu que a Missão Belém é uma organização religiosa e não uma comunidade terapêutica ou instituição de longa permanência para idosos, como havia sido equivocadamente enquadrada pelo Ministério Público de São Paulo".

Sobre a Missão Belém

A Missão Belém é uma Organização Religiosa Católica fundada em 2005 pelo Padre Gianpietro Carraro e por Cacilda da Silva Leste, com sede na Arquidiocese de São Paulo. Em Jundiaí, a instituição mantém duas unidades – uma para homens e outra para mulheres – que acolhem cerca de 210 pessoas. O lema que norteia o trabalho dos missionários é “Ser família para quem não tem família”.

O lema da Missão Belém é “Ser família para quem não tem família”

A proposta da Missão é acolher pessoas em situação de rua, ajudá-las a se reestruturarem e, sempre que possível, promover o reencontro com suas famílias de origem. No entanto, muitos optam por permanecer ali, encontrando no convívio da comunidade um verdadeiro lar.

É o caso de um idoso que viveu por sete anos na instituição. Após localizar sua família, ele foi levado para uma clínica, mas poucos meses depois fugiu e retornou à Missão Belém. Disse à família que sua casa verdadeira era ali, junto dos missionários que o acolheram. 

Outro relato marcante vem de uma mulher acolhida na unidade feminina. Ela contou ao Jornal de Jundiaí que está há mais de dois anos na casa e que foi ali que reencontrou a esperança. “Deus me salvou. A Missão Belém me ajudou demais. Saí das drogas com ajuda deles, sem remédio”, conta.

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