
Morreu na noite de terça-feira (15) o bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino. Um dos últimos expoentes da chamada ala progressista da Igreja Católica, o religioso estava com 92 anos. Seu nome esteve ligado ao do cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, de quem foi bispo auxiliar.
Clique aqui para fazer parte da comunidade de OVALE no WhatsApp e receber notícias em primeira mão. E clique aqui para participar também do canal de OVALE no WhatsApp.
Dom Angélico nasceu em Saltinho, no interior de São Paulo, em 1933. Era o quinto filho de um casal católico que teve nove crianças. Aos oito anos, era coroinha. Aos 13 anos, entrou pela primeira vez em um seminário, que ele iria abandonar aos 20 para voltar dois anos depois. Foi ordenado padre em 1959. O papa Paulo 6º o fez bispo em 1974, e se tornou auxiliar de dom Paulo, fazendo seu trabalho pastoral em São Miguel Paulista, na zona leste paulistana. Adotou como seu lema: “Deus é Amor”.
Ali se transformaria no principal incentivador de outro religioso que marcou a região pelo seu trabalho pastoral ao lado dos movimentos sociais de luta pela moradia: padre Ticão. Mais tarde, o padre seria o confessor do governador Mário Covas (PSDB).
Além do trabalho na zona leste, Bernardino coordenou a Pastoral Operária da Igreja Católica. Foi aí que nasceu a ligação do religioso com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2000, o papa São João Paulo 2º o nomeou bispo de Blumenau (SC), o primeiro da cidade, onde permaneceu até completar 75 anos. Após se tornar bispo emérito da cidade, dom Angélico foi morar na residência do Padre Antônio Leite Barbosa Júnior, na Vila Brasilândia, na zona norte de São Paulo.
No dia 7 de abril de 2018, dom Angélico rezou uma missa ao lado de Lula horas antes de ele se entregar à Polícia Federal, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Quatro anos depois, o religioso foi o responsável por abençoar o casamento do presidente com Rosângela da Silva, a Janja. Era 18 de maio de 2022 e Lula se preparava para se candidatar mais uma vez à Presidência. No último dia 5 de abril, o casal presidencial foi visitar o religioso em sua casa.
Na oportunidade, o presidente escreveu em uma rede social: “Fizemos uma visita ao querido Dom Angélico. Ao longo de nossas vidas, dividimos muitos momentos e histórias. Eu o conheci durante as greves dos metalúrgicos do ABC, nos anos 70 e 80. Foi quando nos tornamos amigos. Dom Angélico celebrou meu casamento com Janja, casou meus filhos, batizou meus netos. Fiquei muito feliz de poder reencontrar meu amigo de longa data. Que Deus esteja contigo, Dom Angélico”.
Condolências.
Nesta terça-feira (15), Lula publicou nas redes sociais um texto lamentando a morte de dom Angélico. “Recebi com profunda tristeza a notícia do falecimento do querido Dom Angélico, que dedicou sua vida à solidariedade e ao amor ao próximo, como nos ensinou Jesus Cristo. Das greves dos trabalhadores em São Paulo nas décadas de 70 e 80, passando por momentos históricos da luta pela redemocratização e pela justiça social no nosso país, estivemos sempre juntos do lado da verdade e do bem comum”, disse o presidente.
“Guardo as lembranças do grande amigo que fez da ternura e da bondade os princípios que guiaram sua vida. “Amai-vos e não armai-vos” era sua lição para todos nós. Dom Angélico esteve comigo nos momentos mais preciosos de minha vida, nos casamentos dos meus filhos, batizados dos meus netos e meu casamento com Janja. Na semana passada, eu e Janja o visitamos num encontro de muito carinho e boas recordações. Descanse em paz, companheiro. Minha solidariedade a todos os fiéis que acompanharam sua trajetória”, completou o presidente.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) também divulgou nota lamentando a morte do bispo emérito. “A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil enviou condolências a dom Rafael Biernaski, aos familiares e amigos de dom Angélico”.
“Seja este momento forte da nossa Liturgia fonte da força e consolo para todos que sentem a despedida deste irmão. Acreditando na Ressurreição, desejamos que brilhe para ele a luz eterna”, escreveu a CNBB.
* Com informações do jornal Folha de S.Paulo