
Um psicólogo de 45 anos fez um acordo com o Ministério Público para evitar uma ação penal após ter filmado as partes íntimas de uma mulher na Rodoviária Nova de São José dos Campos. Ele, que confessou o crime, foi agredido por populares após ter sido flagrado pela vítima.
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A filmagem foi feita usando o celular e por debaixo da saia da mulher, que tem 37 anos e estava ao lado da filha de 7 anos na época da importunação sexual, crime tipificado no Código Penal. A mãe disse que a menina ficou traumatizada com o caso, que aconteceu em 8 de dezembro de 2023, mas com desfecho nesta semana.
O psicólogo pagou multa de meio salário mínimo (R$ 706) por determinação da Justiça, valor que será encaminhado à vítima. Ele pagará o mesmo valor para uma instituição de caridade. Ele ainda teve que cumprir medidas estabelecidas pelo MP para evitar a ação penal, como manter atualizado seu endereço residencial e não ser processado pela prática de nova infração penal enquanto não cumpridas às demais condições do acordo.
Ele também foi obrigado a comprovar, mensalmente, o cumprimento das condições na Vara das Execuções Criminais de São José dos Campos. O acordo foi homologado em 14 de novembro de 2024, na 3ª Vara Criminal de São José.
A vítima considerou baixo o valor imposto como multa ao psicólogo e disse que o dinheiro não paga os custos que ela teve no tratamento da filha, que ficou traumatizada com o episódio. “Não paga os gastos que tenho com ela por causa do que aconteceu naquele dia na rodoviária. Ela ficou muito chocada e com muito medo”, disse a mãe.
O crime.
A mulher contou que estava na Rodoviária Nova de São José para trocar uma passagem e andava pelo terminal com a filha, momento em que sentiu um vulto atrás de si. Instintivamente, ela segurou a bolsa, pensando se tratar de uma tentativa de roubo, mas quando olhou para o lado percebeu um celular por baixo da sua saia.
“Quando me dei conta vi um rapaz filmando por baixo da minha saia, um rapaz comum. Não pensei duas vezes e fui para cima dele perguntar o que ele estava fazendo. Ele ficou muito nervoso e saiu correndo. Fui atrás dele com a minha filha, pedindo ajuda das pessoas para pará-lo”, contou a mulher.
Ela correu atrás do importunador e gritou por socorro. Populares cercaram o psicólogo e o pararam. Quando eles souberam do que se tratava, começaram a agredir o importunador, que ficou bastante machucado na época.
A mulher se afastou da cena para que a filha não visse a agressão e aguardou a chegada da GCM (Guarda Civil Municipal). Ela depois foi até a delegacia registrar a ocorrência. Antes, disse que “chorou muito” depois que “a ficha caiu”.
O psicólogo, que disse trabalhar como educador de jovens e gestor de projetos, admitiu a filmagem das partes íntimas da mulher. Ele contou que desceu na rodoviária de São José vindo de São Paulo quando viu a mulher passar. “Sem um motivo específico”, segundo ele contou à polícia, resolveu segui-la e filmar por baixo da saia dela.
No momento que ligou a câmera e iria começar a filmar, a mulher percebeu imediatamente e ele ficou nervoso com a situação. Como ela começou a gritar e falar do marido, o psicólogo resolveu fugir do local.
Quando estava fugindo, ele foi abordado por populares. Disse que foi agredido por umas três pessoas e que também tinham outras tentando cessar a agressão. Ele disse ainda que roubaram sua mochila com um notebook e a carteira de trabalho. O telefone celular também foi arrancado de sua mão.
Questionado sobre o motivo de ter filmado as partes íntimas da mulher, ele alegou que estava com problema em seu casamento e que foi um “fato isolado”.
Com a chegada da GCM à rodoviária, o homem foi encaminhado para o pronto-socorro do Hospital Municipal, na Vila Industrial, e depois compareceu à delegacia.
Trauma.
A mulher disse que não teve mais nenhum contato com o caso até ser informada, por meio de um oficial de justiça no último sábado (12), do valor que receberia do importunador. O dinheiro deve ser depositado na conta dela nos próximos dias.
No entanto, ela contou que filha ficou marcada pelo episódio e precisou de atendimento psicológico. “Ela chorava muito e não queria mais usar saia e vestido, porque achava que alguém poderia vir e filmar. Procurei uma terapia para ela, que passa até hoje. Graças a Deus ela está bem melhor, mas não vai esquecer”, disse a mulher.
“Achei o valor de meio salário mínimo um absurdo, que não paga os custos que tive com a minha filha. Vou procurar minha advogada para entrar com um pedido de reparação”, completou.