O secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Guilherme Piai, disse que o Vale do Paraíba “tem um potencial altíssimo de se tornar mais produtivo, de melhorar a produção agropecuária”.
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Para ele, a região pode tornar pastos degradados cultiváveis e produtivos e dar suporte para expandir a cultura de grãos. “Está crescendo, mas a gente pode expandir mais”, afirmou Piai em entrevista exclusiva a OVALE.
O secretário estadual esteve no Vale do Paraíba na última semana para participar do meeting especial sobre o agronegócio promovido por OVALE, na noite de terça-feira (18), em São José dos Campos. Na ocasião, Piai se reuniu com um grupo de 30 dos principais empresários, autoridades e líderes da RMVale (Região Metropolitana do Vale do Paraíba).
Ele falou sobre o potencial produtivo do Vale, do mapa agrícola de São Paulo, do encontro em São José dos Campos e dos programas do governo estadual para auxiliar os produtores, como o de melhoria das estradas rurais.
Confira trechos da entrevista com o secretário de Agricultura de São Paulo.
Como o senhor avalia o encontro no meeting de OVALE e a iniciativa do jornal?
Importante demais. Você está numa mídia de muita credibilidade, com um alcance muito grande e a gente encontrou muitos empresário, geradores de emprego, produtores rurais, mulheres e homens do campo que movimentam a nossa economia. Então, o gestor público não tem que ficar lançando política pública da cabeça dele. Ele tem que ter humildade para ouvir a iniciativa privada, atender as necessidades e perguntar o que vocês precisam para crescer e gerar mais empregos. O emprego é o melhor programa social que existe.
E a gente tá trabalhando muito pelo agro de São Paulo. O Vale tem um potencial altíssimo de se tornar mais produtivo, de melhorar a produção agropecuária, tornando pastos degradados cultiváveis e produtivos, a gente tem muito pasto degradado aqui ainda, dando suporte para expandir a cultura de grãos daqui, que está crescendo, mas a gente pode expandir mais.
E também valorizando a cadeia leiteira que é muito forte, a bacia do leite que é muito reconhecida, mas a gente consegue também com crédito, com suporte, melhorando o manejo, com a assistência técnica, aumentar a produtividade. A média dos produtores vinculados às cooperativas é uma média baixa, de 250, 300 litros de leite por dia. Se a gente apoiar a cooperativa e dar suporte para esses produtores, para eles expandirem essa produtividade, ele for para 400, 500 litros de leite, o custo fixo dele é o mesmo.
Esse pequeno aumento que ele tem traz mais retorno financeiro do que ele já tira de leite. Então, a gente está trabalhando com inteligência, com parceria, com as cooperativas, que é uma joia rara do estado de São Paulo também. E ontem a gente pode ouvir todas essas demandas, anotar, algumas já resolvidas na hora e agora a gente vai trabalhar para solucionar o restante.
Quais são essas demandas do Vale?
Bom, aqui a gente ouviu muito a questão das estradas, por ser uma região montanhosa e choveu muito. Arrebentou com as estradas rurais e a gente está com um programa de logística rural fantástico. Nós vamos fazer 1.000 km de estradas rurais esse ano. Um programa completo com sinalização, com mata-burro, com pontos.
E a gente tem alguns municípios aqui no Vale com 3.000 km de estradas rurais. O Estado de São Paulo tem 175 mil. É sete vezes mais do que a gente tem de vias pavimentadas. Então, foi uma demanda em comum, até porque o produtor depende disso para chegar na sua propriedade, para escoar sua mercadoria, às vezes para o seu filho ir numa escola, então é estrada rural e dignidade. Então, isso foi uma demanda em comum.
E o agro de São Paulo, o que os produtores pedem, justamente, ele não é exigente não, ele quer uma estrada digna e suporte para produzir. Crédito. Só de a gente não atrapalhar a iniciativa privada já é um grande feito, mas no estado de São Paulo nós estamos incentivando. Então nós estamos com um recorde do cadastro ambiental rural, isso valoriza a propriedade, dá desconto em juros de financiamentos.
Nós estamos com um recorde de entrega de títulos rurais, recorde de seguro rural, que é um calcanhar de Aquiles do agro Brasileiro, a gente não tem 12% de área coberta, China tem 70%, Estados Unidos tem 90%. São Paulo é o único estado do Brasil que fez seguro rural, a gente colocou R$ 110 milhões, recorde de crédito pelo Feap, que é o Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista, com 2 anos de carência para pagar, com juros de 3% ao ano. Irrigação também, a gente está expandindo muito a área irrigada, então todas as pautas que o produtor traz para produzir mais e ter prosperidade, a gente está apoiando incondicionalmente.
A ideia é recuperar e manter a estrada rural?
É estrada rural. Pela secretaria, temos autonomia e segurança jurídica para atuar em estradas rurais. Quando vai para pavimentada se torna a estrada vicinal, aí é o DER.
De uma maneira geral, secretário, fale um pouco do mapa agrícola de São Paulo. O que o estado produz?
É um mapa complexo e abrangente, mas se eu posso falar que São Paulo é líder nacional e mundial na produção de açúcar, de etanol, o setor sucroenergético que é muito forte, nós temos quase 6 milhões de hectares de cana de açúcar. É mais da metade da área plantada do Brasil, é o setor que mais sustenta a balança comercial, que mais gera emprego e nós temos uma pressão caipira aqui, hoje a transição energética passa pela cana, etanol de primeira geração, segunda geração, SAF, biogás, biometano, então isso está trazendo muitas oportunidades para o estado de São Paulo. O governador está incentivando muito essa transição energética, os combustíveis renováveis, isentando até o IPVA de caminhões e ônibus movidos a hidrogênio, biogás e biometano e veículos flex, veículos híbridos onde a segunda fonte é o etanol. Isso é um direcionamento da matriz energética do estado de São Paulo.
Nós somos muito fortes também na laranja. Nós somos o maior exportador. De cada 10 copos de sucos de laranja tomados no mundo, sete são de São Paulo. Também é muito significativo na nossa balança comercial. Proteína: São Paulo não tem o maior rebanho, mas nós somos um estado com o maior número de confinamentos e maior número de plantas frigoríficas. A gente também é um grande estado exportador de proteína animal, que está entre os três ‘top itens’ da nossa balança comercial.
E aí, em grãos, dando um panorama, a gente está produzindo em torno de 10 a 12 milhões de toneladas de grão por ano. Esse número está crescendo. E o que a gente produz aqui de milho, por exemplo, é insuficiente. A gente precisa importar. O que a gente produz de leite é insuficiente, a gente precisa importar, laranja também, porque o grande público consumidor está no estado de São Paulo.
Por isso que o governador lutou muito pela reforma tributária, onde tributo vai ser feito no final da cadeia, no consumo, e São Paulo tem 45 milhões de consumidores e a gente acredita que isso vai ajudar muito o estado de São Paulo, mas é um agro que tem hoje uma participação gigante no agro brasileiro, nós somos o estado que mais exporta no Brasil. Nós passamos o Mato Grosso em exportações.
Isso é muito significativo porque a gente tem 23 milhões de hectares, eles têm mais de 90 milhões de hectares. E ao mesmo tempo, isso sendo muito forte, em primeiro colocado, é o estado que tem a maior diversificação de culturas. A gente tem a cidade da uva, a gente tem a cidade da laranja, do morango, da goiaba. E isso, essa diversificação de grãos, de pecuária, do setor sucroenergético, produtos florestais também, a gente exporta muito.
Essa diversificação permite que em momentos de seca e de fenômenos climáticos, como a gente teve nos últimos dois anos, a gente permanecesse em primeiro colocado. A seca afeta muito a cultura dos grãos. Então, Mato Grosso foi muito prejudicado. Já o setor de seguro energético, a cana é muito mais resistente.
Então, ao mesmo tempo em que São Paulo é uma potência agroambiental, que a gente também faz toda a lição de casa no quesito ambiental, ninguém no mundo faz o que a gente faz, a gente é exemplo para o mundo, essa diversificação de culturas torna a nossa gestão mais complexa, porque é diferente você ter um estado com duas, três culturas e outro com 200, 300 culturas. E faz a gente estar em primeiro colocado hoje na balança comercial.
Que tipo de outra cultura o senhor acha que caberia fazer aqui no Vale?
O milho e a soja estão crescendo por aqui, tem potencial. Precisa tomar cuidado com a drenagem, porque acumula muita água. Como é montanhoso, quando chove tem um acúmulo de água muito grande. Quem está conseguindo resolver o problema da drenagem está tendo uma alta produtividade, porque fica sempre úmido, então não falta água. Então, isso é uma coisa importante. E a pecuária de corte também é um potencial.
Hoje o Brasil é o maior exportador de proteína do mundo. Os Estados Unidos, que eram um grande exportador, hoje são importadores. Essa guerra comercial Estados Unidos e China está abrindo uma oportunidade muito grande para a gente vender ainda mais para a China, que está sinalizando que vai colocar sanções sobre as carnes americanas e não renovar as plantas frigoríficas dos Estados Unidos. O número de fêmeas no mundo diminuiu muito, inclusive na Austrália, então a pecuária de corte pelos próximos anos tem tudo para viver momentos de ouro.
E a aqui a gente tem um potencial gigantesco para isso, mas é o que eu sempre falo, primeiro nós precisamos recuperar esses pastos degradados. O gado entra pela boca, não adianta você falar em genética se não tiver um manejo adequado. Então, o Vale tem um potencial muito grande, não só para melhorar a produtividade do setor da pecuária de leite, como eu já disse, mas também de corte. Ao invés do pecuarista produzir 4, 5, 10 arroba por hectare, com integração lavoura, pecuária e floresta, ele pode produzir 30, 40 arroba por hectare, com irrigação. Então, a gente consegue verticalizar a produção e levar muito mais prosperidade para o produtor.
Como vocês estão fazendo para recuperar esses espaços degradados?
A gente tem um programa chamado Integra São Paulo, em parceria com a rede ILPF [Integração Lavoura Pecuária Floresta], começou na gestão do secretário Itamar [Borges], do Chiquinho Matuto [ex-secretário de Agricultura de São Paulo], nós já fizemos 1,300 milhão de hectares. A gente faz a parceria com o produtor, ele se integra à rede, a gente tem a CATI [Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável] que dá toda assistência com o programa. Nós temos o FEAP, que é o Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista que financia sua operação. Além de você distribuir renda, você torna uma área ociosa e improdutiva numa área produtiva que gera renda.
Eu estive na FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura] em Roma e falou: “Programas de recuperação de passagem degradada são melhor do que programas sociais de distribuição de renda, que é distribuição de renda na veia do produtor”. Você também mitiga os efeitos das mudanças climáticas. O pasto degradado está emitindo o gás do efeito estufa. Porque tem duas vezes mais gás carbônico no solo do que na atmosfera. O pasto recuperado e produtivo, ele está estocando isso. Então, além de uma pegada social, você tem uma pegada ambiental nesse programa.
Produtores rurais têm certa desconfiança em serem parceiros de governos. Como é que o senhor está notando isso no dia a dia? Consegue quebrar essa desconfiança?
Sim, a gente tem uma receptividade muito boa. Nossa defesa agropecuária, que é um órgão fiscalizador que mantém a sanidade animal do estado de São Paulo, que tem um papel de segurança alimentar. Você vê São Paulo hoje, um grande produtor de ovos do Brasil, ali em Bastos, principalmente, a gente não teve nenhum caso de gripe aviária aqui. Gripe aviária que já pegou quase 200 milhões de aves nos Estados Unidos e agora chegou ao rebanho, está na pecuária leiteira e está na pecuária de corte também, que está atrapalhando a sanidade animal dos Estados Unidos. Aqui a gente não teve nenhum caso.
Nós estamos livres da vacinação da aftosa. São Paulo hoje está livre disso, cumprindo 100% das metas e, ao mesmo tempo, caminhando ao lado do produtor, não com aquele intuito de fiscalizar e prejudicar, mas de acompanhar, de sugerir, de dar prazo para eles regularizarem. Em um ano, conseguimos estabelecer uma meta de 100 selos de produtores de origem vegetal, selos artesanais. Produtores artesanais que viviam na ilegalidade, hoje recebem o selo, vendem para o poder público, vendem no estado inteiro, vendem no Brasil, dependendo do tipo de selo.
Até hoje na história do estado tinha 42 estabelecimentos com esse selo. Nós fizemos 100 em um ano, mais que o dobro do que existia em mais de 20 anos. O produtor entra no site, coloca as informações, recebe o selo na hora. Depois de 90 dias a gente vai ver se as informações são verdadeiras. E até hoje 100% das informações são verdadeiras.
Isso mostra a dignidade da mulher e do homem do campo. Então, esse direcionamento que a gente deu no governo Tarcísio, de caminhar ao lado do produtor, onde eu ando no estado inteiro, a receptividade é muito boa. No CAR [Cadastro Ambiental Rural], que assustava um pouco os produtores, hoje ele vê que o CAR é importantíssimo, porque se ele tem um CAR validado, que é o raio-X da ambiental da propriedade dele, ninguém pode falar que ele desmata, que ele tem algum problema de preservação de água, não pode impor barreiras de produção para ele.
Hoje ele consegue desconto em financiamentos, paga muito mais barato no crédito rural, isso valoriza a propriedade dele, então muitos estão tomando essa consciência. Hoje vários confinamentos já não recebem mais gado que a fazenda não está com o CAR validado. As usinas já não arrendam fazendas que não estão com o CAR validado. Então isso está agregando valor para o produtor. Eu sinto que hoje o clima está muito bom, claro, que sempre existe a resistência e nenhum trabalho é unanimidade. A gente está pronto para receber críticas, mas aonde a gente anda é elogios.
Comentários
1 Comentários
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Alexandre 23/03/2025É preciso ir além da produção de leite, eucalipto e arroz na região. Existe um trecho planaltino considerável entre a serra da Mantiqueira e o litoral que pode ser explorado por multinacionais do agronegócio de diversas formas (culturas). O que estimula investir na RMVale seriam as boas rodovias e o porto de São Sebastião que agora tem uma boa via de acesso. Seria justamente por este motivo que São Paulo deve ter passado o Mato Grosso em exportação, temos melhor infraestrutura para escoamento de produção. Ainda contribui o grandioso duplo-reservatório de água em Paraibuna e Santa Branca. Agronegócio consome muita água. Por fim, a Revap poderia produzir fertilizantes a partir do gás, uma carência brasileira.