CRIME ORGANIZADO

PCC monta 'tribunais do crime' com 'pena de morte' no Vale

Por Da redação | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 2 min
Imagem ilustrativa

À revelia da lei, as peças movem-se pelo tabuleiro e põem o rei em xeque. Mate? Só se o crime autorizar.
Agora, neste exato momento, o tabuleiro está armado na RMVale, a região mais violenta de São Paulo, e não se trata de um jogo de xadrez.

É um duelo entre o estado paralelo do crime organizado e o Estado. Com seu próprio 'código penal', o PCC (Primeiro Comando da Capital) julga, condena e pune, até mesmo com a pena de morte, em suas 'quebradas' na região. Nos 'tribunais do PCC', chamados 'tabuleiros', 'sangue se paga com sangue'.

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A Polícia Civil investiga o desaparecimento de pessoas no Vale do Paraíba relacionado aos 'tabuleiros', como o caso de Wanessa Donizete Pedroso, de 42 anos, que foi sequestrada, julgada e morta, de acordo com a investigação policial (ler aqui). “Eles [PCC] montam o tabuleiro todos os dias", afirma um policial.

O júri é composto por 'irmãos' presos e que estão nas ruas. Os 'crimes' mais graves são estupro e roubo dentro do PCC, em geral ligado aos lucros com a venda de drogas. O tribunal é usado para decidir imbróglios em 'quebradas', incluindo problemas relacionados a moradores sem envolvimento com a facção.

"Quando o cara [o 'réu'] é sequestrado, nem dão o direito dele falar. Ele fica amarrado, com alguém tomando conta. Aí vem a ordem para matar e eles dão o 'ok' para o sequestrador. Depois a gente acha o corpo. O PCC não cobra só se fizer algo para alguém da facção. Se fizer qualquer coisa na quebrada deles, eles cobram", disse uma fonte policial ouvida por OVALE.

Aplicada nos tabuleiros, a pena de morte é chamada de 'decreto'. No entanto, ela seria rara. "Até para matar 'jack' [a gíria para estuprador] está difícil. É preciso pedir autorização", afirmou um homem ligado ao tráfico de drogas em São José, autor de ao menos três homicídios.

"Aqui, levaram um cara para lá [tabuleiro], acusaram ele de ser dedo-duro da polícia. Foi levado, mas não conseguiram provar. E o PCC não deixou matar. Daí, o rapaz [traficante que pediu o julgamento] ficou chateado, porque não pôde 'fazer' [matar]", disse outro homem ligado ao tráfico.

Nas chamadas 'quebradas', o tráfico atribui ao PCC a redução drástica na quantidade de homicídios -- a posição é atestada por parte dos especialistas em setor, e questionada por outra parcela, assim como pelo Estado.

Em áreas como a região sul de São José, a ordem é conhecida como 'Bandeira Branca'. As fontes policiais, agentes, ex-presos e pessoas ligadas ao crime foram ouvidas na condição de serem mantidas em sigilo.

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