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Tigrão a assessores: 'quer sentar na cadeira, pague pela cadeira'

Por Julio Codazzi | Taubaté
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução/TV Câmara
Coletor Tigrão foi vereador em Taubaté de 2021 a 2024
Coletor Tigrão foi vereador em Taubaté de 2021 a 2024

Um dos arquivos entregues à Polícia Civil pelo ex-chefe de gabinete do ex-vereador Coletor Tigrão (Cidadania), que denunciou um suposto esquema de rachadinha no gabinete, é o áudio de uma mensagem de voz no qual o ex-parlamentar exige que os assessores façam doações em dinheiro para a campanha eleitoral de 2024 - na qual Tigrão não conseguiu ser reeleito.

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O áudio tem pouco mais de três minutos e foi enviado pelo então vereador em um grupo de WhatsApp do qual os assessores faziam parte (ouça o áudio no link que está no fim da matéria). Na mensagem de voz, enviada no início da campanha do ano passado, Tigrão cobra que todos os funcionários façam contribuições. "Quer sentar na cadeira, pague pela cadeira".

Na mensagem de voz, o então vereador ameaça demitir os assessores que não contribuíssem financeiramente. "Quem me ajudar a fortalecer a campanha, vai estar comigo. Quem não me ajudar, infelizmente eu não vou poder fazer nada". À reportagem, Tigrão negou que a mensagem configure alguma irregularidade (leia mais abaixo).

Áudio.

Na mensagem, Tigrão chega a falar que a contribuição em dinheiro seria uma obrigação dos assessores. "Quem quiser sentar na cadeira, me ajuda a tocar a campanha, me ajuda a fortalecer, que vai sentar na cadeira. Se não quiser também, irmão, não vou poder fazer nada com vocês. É obrigacão de vocês, não tô obrigando ninguém", disse.

"Eu quero que todo mundo ajude. Se cada um quer sentar na cadeira, cada um vai fortalecer pela sua cadeira. Ficou quatro anos aí, sentadinho no ar condicionado, todo mundo trabalhando, batalhando, agora chegou a hora de todo mundo também ajudar pela cadeira", afirmou.

"Quem me ajudar a fortalecer a campanha, vai estar comigo. Quem não me ajudar, infelizmente eu não vou poder fazer nada", acrescentou. "Quer sentar na cadeira, pague pela cadeira, fortalece pela cadeira, ajude pela cadeira, que cada um vai ter sua cadeira. Se não quiser, eu chego agora, outubro, a gente pede conta lá ou antes de outubro a gente libera todo mundo todo mundo seguir o caminho de cada um", concluiu o então vereador na mensagem.

Campanha.

À Justiça Eleitoral, Tigrão declarou receita de R$ 15 mil na campanha do ano passado - todo o dinheiro veio do partido. Já as despesas somaram R$ 13.612.

Questionado pela reportagem nessa terça-feira (25), o ex-vereador negou que tenha exigido as doações ou que tenha ameaçado os servidores de demissão. "Não ouvi isso [exigência para dar dinheiro]. Eu ouvi pedido de apoio na campanha, porque não teríamos verba para campanha. Partido não iria liberar verba. Aí ficaria difícil a reeleição".

Tigrão deixou a Câmara em dezembro e, desde janeiro, atua na Assembleia Legislativa como assessor do deputado estadual Ortiz Junior (sem partido), que é ex-prefeito de Taubaté. O ex-vereador afirmou que, apesar da mensagem de áudio, nenhum dos assessores contribuiu financeiramente com a campanha. "Corri sozinho, com meu suor".

Rachadinha.

A denúncia foi feita em junho do ano passado à Polícia Civil por Bruno de Souza França, que foi chefe de gabinete de Tigrão entre janeiro de 2021 e outubro de 2024.

À Polícia, Bruno disse que repassava mensalmente R$ 2.000 do salário para o então vereador, e que os demais assessores faziam o mesmo - essa seria uma condição para que mantivessem os cargos.

Além da mensagem de áudio, Bruno também entregou à Polícia comprovantes de pagamentos de R$ 2.450,67 e de R$ 3.380, que seriam referentes a parcelas e tributos de um carro que Tigrão teria adquirido, e também de um empréstimo que teria feito para repassar mais dinheiro ao então vereador - o valor do empréstimo não foi citado, mas o pagamento da operação seria feito em 12 parcelas que somavam R$ 5,6 mil.

No inquérito é apurado suposto crime de concussão, que consiste na exigência de uma vantagem indevida por parte de um agente público. Rachadinha é como é chamada popularmente a prática que consiste na devolução de parte dos salários de assessores a políticos.

Em outubro do ano passado, Bruno chegou a fazer a denúncia à Câmara. O caso foi remetido para a Comissão de Ética que, em dezembro, arquivou a denúncia por falta de provas.

Bruno atua na GCM (Guarda Civil Municipal) de Taubaté desde 2008, mas ficou licenciado da corporação no período em que trabalhou na Câmara. O ex-assessor alega já ter sofrido ameaças por parte de Tigrão e, por temer que a família sofra represálias, não faz pronunciamentos públicos sobre o caso. Já Tigrão nega a prática de rachadinha e afirma que processará o ex-chefe de gabinete por calúnia.

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