
Em novo depoimento à Polícia Civil, o ex-chefe de gabinete do ex-vereador Coletor Tigrão (Cidadania) afirmou ter repassado mensalmente cerca de 20% do salário bruto ao então parlamentar entre 2021 e 2024, período em que ambos atuaram na Câmara de Taubaté.
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O depoimento foi prestado no dia 22 de janeiro, mas somente esse mês o termo de declarações foi juntado ao processo instaurado em julho do ano passado no qual é apurado o suposto crime de concussão, que consiste na exigência de uma vantagem indevida por parte de um agente público.
À Polícia, Bruno de Souza França afirmou que outros assessores também eram obrigados a repassar parte dos salários ao então vereador - essa seria uma condição para que mantivessem os cargos. À reportagem, Tigrão negou o suposto esquema de rachadinha, como é chamada a prática que consiste na devolução de parte dos salários de assessores a políticos.
Depoimento.
Bruno foi chefe de gabinete de Tigrão entre janeiro de 2021, no início da legislatura passada, até 6 de outubro de 2024, dia da eleição municipal, quando o então vereador não conseguiu ser reeleito. Quando deixou a Câmara, o salário do assessor era de R$ 10.449,50.
No último depoimento à Polícia, Bruno afirmou que fez repasses mensais de R$ 2.000 a Tigrão entre janeiro de 2021 e outubro de 2024 - isso representaria uma soma de R$ 92 mil no período. "A quantia era entregue em cédulas e moedas correntes", diz trecho do termo de declarações.
Segundo Bruno, o "vereador afirmava possuir projetos sociais e que os repasses seriam destinados ao financiamento desses projetos", mas, com o passar do tempo, "todos os assessores perceberam que os recursos não eram destinados para esse fim e sim para benefício próprio do vereador".
Bruno disse também que, além dos repasses mensais de R$ 2.000, ainda teve que pagar contas do então vereador, de R$ 2.450,67 e de R$ 3.380, referentes a parcelas e tributos de um carro que Tigrão teria adquirido. Nesses casos, o ex-assessor apresentou comprovantes à Polícia.
O ex-assessor também apresentou comprovantes de um empréstimo que teria feito para repassar mais dinheiro ao então vereador - o valor do empréstimo não foi citado, mas o pagamento da operação seria feito em 12 parcelas que somavam R$ 5,6 mil.
Bruno disse ter sido exonerado em outubro do ano passado após negar uma exigência de Tigrão, que teria dito a ele: "Se quiser continuar no cargo, você deverá efetuar o repasse de seu décimo terceiro mais metade de seu salário até dezembro de 2024". O ex-assessor voltou a afirmar que teria sido ameaçado pelo então vereador, e que por isso deu declarações contraditórias anteriormente à Polícia.
Denúncia.
A denúncia foi feita por Bruno à Polícia Civil em 5 de junho do ano passado. O inquérito foi instaurado em 29 de julho. Mas, ao ser ouvido pela segunda vez, em 13 de setembro, o assessor recuou e não confirmou o que havia dito inicialmente, em junho.
Bruno voltou a procurar a Polícia em 7 de outubro, um dia após a exoneração, dizendo que havia sofrido ameaça de Tigrão e por isso teria desmentido a denúncia original.
Também em outubro, Bruno procurou o então presidente da Câmara, vereador Alberto Barreto (PRD), e fez o mesmo relato. O caso foi remetido para a Comissão de Ética que, em 10 de dezembro, arquivou a denúncia por falta de provas.
Repercussão.
Bruno atua na GCM (Guarda Civil Municipal) de Taubaté desde 2008, mas ficou licenciado da corporação no período em que trabalhou na Câmara. Procurado pela reportagem, o ex-assessor disse temer que a família sofra represálias e não quis se pronunciar.
Tigrão deixou a Câmara em dezembro e, desde janeiro, atua na Assembleia Legislativa como assessor do deputado estadual Ortiz Junior (sem partido), que é ex-prefeito de Taubaté. Ouvido pela reportagem nessa segunda-feira (24), o ex-vereador classificou como "fake news" a denúncia. "Nunca precisei do dinheiro deles [assessores]. Só precisava ser eu mesmo e trabalhar honestamente pela população".
Tigrão disse ainda que irá processar Bruno por calúnia. "Esse cara sem futuro tenta desmoralizar meu nome e não vai conseguir. Será cobrado na justiça [por] essa alegação injusta".
Comentários
2 Comentários
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Alessandro de Lima Mendes 25/02/2025Tipo do assunto que deve fazer muitos políticos ler, e preferir não comentar.
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Paulo de Oliveira 24/02/2025Taubaté parece mais séria que as outras cidades da região e ainda acontece isto, nem quero pensar nas outras cidades.