ANÁLISE

‘Protecionismo de Trump pode prejudicar o Vale’, diz historiador

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução / RS / Fotos Públicas
Donald Trump assume como o 47º presidente dos Estados Unidos
Donald Trump assume como o 47º presidente dos Estados Unidos

A vitória do republicano Donald Trump, que assume nesta segunda-feira (20) como o 47º presidente dos Estados Unidos, traz preocupações para analistas, especialmente pelas tendências protecionistas do republicano à frente da economia americana, o que pode trazer dificuldades para o Brasil e o Vale do Paraíba.

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Trump foi eleito após conquistar mais de 270 delegados do colégio eleitoral e superar a candidata democrata, Kamala Harris. O republicano venceu em 28 estados, enquanto que a adversária ficou com 19.

Os EUA são o principal parceiro comercial da região, além de destino de mais da metade das exportações de aviões de São José dos Campos, cidade sede da Embraer e maior vendedora de aviões para o exterior.

De acordo com dados do governo federal, os americanos compraram US$ 3,270 bilhões das empresas do Vale em 2024. Isso representa 30% do total exportado pela região no ano passado – US$ 11,042 bilhões.

A China aparece na segunda colocação, com US$ 2,330 bilhões em produtos comprados das cidades do Vale, 21% da totalidade.

Os americanos aumentaram em 30% as importações da região em 2024 comparado a 2023, durante o governo do democrata Joe Biden, enquanto que a China ampliou o comércio com o Vale em 11,8% no mesmo período.

Quanto ao comércio de aviões, os americanos responderam por 60% das exportações de São José dos Campos no ano passado, com Canadá (16%) e Espanha (7%) na sequência. Ou seja, os EUA são parceiros comerciais indispensáveis ao Vale, por isso o novo governo Trump atrai tanto a atenção.

A dúvida é como ficará a relação comercial entre Brasil e EUA se Trump efetivar a promessa de adotar uma postura mais protecionista, dificultando a venda de produtos de fora para os EUA, o que afetaria sobremaneira o Brasil. Trump também tem mais conflitos com a China, parceira comercial indispensável e estratégica do Brasil.

História.

Na avaliação de Moacir José dos Santos, professor de História e do curso de Relações Internacionais da Unitau (Universidade de Taubaté), algumas posturas defendidas por Trump causam preocupação no Brasil e na região, como as relacionadas à questão ambiental, política internacional e economia.

“No primeiro mandato e ao longo dessa campanha, Trump ressaltou que não acredita nas mudanças climáticas, o que é preocupante, A ausência dos EUA nos grandes fóruns de discussão das medidas que podem ser tomadas para mitigar as mudanças climáticas tem impacto ambiental, político e econômico importante”, disse o professor.

No caso do Brasil, além do viés negacionista ambiental, também preocupa a promessa de Trump de elevar os impostos para produtos importados, o que vai afetar o agronegócio do Brasil e o setor de mineração e siderúrgico, que têm papel importante nas exportações para os Estados Unidos.

“Há uma preocupação mundial com essa política protecionista mais agressiva de Trump, que pode ter efeitos recessivos e inflacionários na economia internacional”, avaliou Moacir.

“Pode ter consequências negativas para o Vale do Paraíba, que já tem enfrentado dificuldades por conta da redução da atividade industrial e do emprego industrial. As medidas de Trump podem afetar a economia brasileira, especialmente o Vale.”

Impostos.

Segundo o historiador, Trump parte da premissa de que se elevar impostos vai atrair empresas para investir nos EUA, o que não é “algo tão linear”.

“Isso pode gerar pressão inflacionária e dificuldades internas nos EUA, o que afeta a economia mundial e o Brasil, gerando um encadeamento negativo que afeta outras economias, como a brasileira. Temos uma grande integração entre as empresas pelo mundo. Não é mudança simples elevar barreiras tarifárias para as empresas retornarem, além de que o emprego foi drasticamente alterado pela automação”, afirmou Moacir.

Para ele, outro ponto de preocupação é o conflito com a China, com uma questão militar envolvida.

“Países têm falado em sair da dependência do dólar, que se tornou a principal moeda na transação internacional. Se isso acontecer, provocará perda de poder dos EUA. O que Trump fizer pode ser um elemento de impacto negativo para os EUA a médio e longo prazo”, disse.

Quanto à questão política, Moacir acredita que os dois países agirão primeiro com pragmatismo, mas que a baixa estima de Trump por valores democráticos pode afetar a relação com o Brasil.

“Boas relações internacionais são importantes para os países. Brasil teve boas relações entre George W. Bush e Lula, no primeiro mandato, mas Trump não se move de maneira tão pragmática. Num primeiro momento, as relações serão basicamente formais, e o que preocupa é que Trump não tem preocupação com valores da democracia e as boas relações internacionais.”

Comentários

1 Comentários

  • Levi Andrade 20/01/2025
    O Brasil não precisa dos EUA para ser prejudicado. Quando o país tem corrupção, altos impostos, narcotráfico invandido o país, ele mesmo se prejudica.