COLETOR TIGRÃO

Polícia investiga ex-vereador de Taubaté por suposta rachadinha

Por Julio Codazzi | Taubaté
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução/TV Câmara
Tigrão foi vereador entre 2021 e 2024
Tigrão foi vereador entre 2021 e 2024

A Polícia Civil investiga um suposto esquema de rachadinha que teria sido implantado no gabinete do ex-vereador Coletor Tigrão (Cidadania), que atuou na Câmara de Taubaté de 2021 a 2024 e não foi reeleito para a atual legislatura.

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A prática, que consiste na devolução de parte dos salários de assessores a políticos, começou a ser investigada após denúncia feita por um assessor do então parlamentar, que também acusou Tigrão de ameaçá-lo.

No inquérito, que foi instaurado em julho do ano passado, é apurado o suposto crime de concussão, que consiste na exigência de uma vantagem indevida por parte de um agente público. O ex-vereador nega a acusação e diz que irá processar o ex-assessor.

Denúncia.

No dia 5 de junho do ano passado, Bruno de Souza França, que na época era o chefe de gabinete de Tigrão, procurou o 1º DP (Distrito Policial) de Taubaté para registrar um boletim de ocorrência contra o vereador.

No boletim, Bruno afirmou que "o vereador exigia que parte de seus vencimentos e de outros assessores fosse repassado para ele [Tigrão], inclusive férias e 13º, e que durante todo o tempo que trabalhou com ele fez esses repasses" - Bruno estava no cargo desde janeiro de 2021 e, em junho de 2024, recebia salário de R$ 10.449,50.

O então chefe de gabinete disse ainda que, naquele dia, Tigrão queria demitir um dos assessores, e que o vereador fez ameaças a Bruno após ele se posicionar contra a exoneração. "O ameaçou dizendo que se ele não concordasse com o que estava sendo imposto, que a vítima [Bruno] e sua família não morariam mais na cidade de Taubaté, que a conversa com ele [Tigrão] seria outra, não em justiça. Que ele [Tigrão] era da favela e que a história seria outra".

Nova ameaça.

O inquérito foi instaurado em 29 de julho. Mas, ao ser ouvido pela segunda vez, em 13 de setembro, Bruno recuou e não confirmou o que havia dito inicialmente, em junho.

Bruno voltou a procurar a Polícia Civil em 7 de outubro, dizendo que havia sofrido nova ameaça de Tigrão e por isso teria desmentido a denúncia original. "Fui intimado a depor [em setembro], porém mudei a versão no depoimento por nova ameaça do vereador em realizar um atentado contra minha família caso desse seguimento no boletim", disse o então assessor, que relatou que um carro não identificado havia ficado estacionado em frente à casa dele três dias antes do depoimento feito em setembro. "Temendo pela vida de minha família, mudei a versão".

À Polícia, Bruno disse ainda que, no dia 3 de outubro, na Câmara, após questionar "as condições abusivas de trabalho" no gabinete, Tigrão teria feito nova ameaça. "Ele [Tigrão] alegou: 'cuidado, algo de muito ruim pode acontecer com minha família', e saiu do gabinete", afirmou o então assessor. "O vereador já havia me falado em conversa particular que havia mandando pessoas atrás de mim, porém desistiu", concluiu.

Câmara.

No dia 3 de outubro, Bruno procurou o então presidente da Câmara, vereador Alberto Barreto (PRD), e fez o mesmo relato.

À reportagem, a Câmara informou que o caso foi remetido, à época, para a Comissão de Ética. "A Comissão de Ética, em decisão unânime tomada em 10 de dezembro, decidiu pelo arquivamento da denúncia", afirmou o Legislativo.

Segundo apuração da reportagem, três fatores levaram os vereadores da Comissão da Ética a arquivar a denuncia: o ex-assessor não ter apresentado provas; o fato de faltarem apenas três semanas para o fim da legislatura, o que impediria uma apuração detalhada; e o fato de a Polícia Civil já investigar o caso.

Repercussão.

Bruno atua na GCM (Guarda Civil Municipal) de Taubaté desde 2008, mas ficou licenciado da corporação no período em que trabalhou na Câmara. O ex-assessor foi exonerado do gabinete de Tigrão no dia 6 de outubro, um dia antes do terceiro depoimento à Polícia Civil. Procurado pela reportagem, Bruno não quis se pronunciar. O ex-assessor deve ser ouvido novamente pela Polícia no dia 11 de fevereiro.

À Polícia, ainda no depoimento de junho, Bruno afirmou que outro assessor de Tigrão, Felipe Mazzuia, poderia confirmar os relatos. Procurado pela reportagem, Felipe negou que tenha participado do esquema de rachadinha. "O Tigrão nunca me pediu nem exigiu a nada a respeito". Felipe, no entanto, não quis dar mais detalhes sobre o caso. "As denuncias do Bruno estão sendo apuradas pela Policia Civil e pelo Ministério Publico, eu não gostaria de comentar antes de qualquer posição desses órgãos".

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que "o caso citado é investigado por meio de inquérito policial instaurado pela Central de Polícia Judiciária", que "realizou oitiva com a vítima". "Diligências são realizadas visando o esclarecimento dos fatos. Mais detalhes serão preservados para garantir autonomia do trabalho policial", completou a pasta, à qual a Polícia Civil é vinculada.

Outro lado.

Ouvido pela reportagem nessa segunda-feira (13), Tigrão classificou como "mentira" a denúncia e afirmou que o ex-assessor teria "inveja" dele.

O ex-vereador disse ainda que irá processar Bruno por calúnia. "A justiça será feita. Ele [Bruno] será responsabilizado pelas mentiras".

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