
Com duas mortes e seis feridos a tiro, o massacre no assentamento Olga Benário, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em Tremembé, foi perpetrado por uma milícia com "armamento de guerra", que atua a serviço da especulação imobiliária, com apoio político. Foi o que apontou Gilmar Mauro, membro da direção e um dos fundadores do MST, em entrevista a OVALE.
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De acordo com Gilmar, a RMVale tem assentamentos próximos às áreas urbanas, que sofrem forte pressão imobiliária (com a tentativa de compra ou invasão de lotes), articulada com políticos locais e tendo um "braço armado". Os assentados já vinham sendo ameaçados.
Na avaliação do dirigente, os criminosos foram ao assentamento de Tremembé com um objetivo: matar. Ele cobra a identificação dos atiradores e dos mandantes do crime. "É a conjunção desses três ingredientes [especulação imobiliária, políticos e milícia], com a especulação imobiliária nas áreas de assentamento. A invasão foi feita por vários carros, fortemente armados", afirmou a OVALE.
O assentamento Olga Benário do MST em Tremembé, que abriga cerca de 45 famílias, é regularizado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) há cerca de 20 anos.
"[A RMVale] É uma região de alguns assentamentos muito próximo às áreas urbanas e onde há uma pressão da especulação imobiliária muito intensa, articulada com políticos locais e também com milícias para adentrar nos nossos territórios e tomar alguns lotes para ir expandindo o capital imobiliário", disse Gilmar, à revista Fórum.
O dirigente do MST afirmou a OVALE que conversou com o presidente Lula (PT) neste sábado (11), por telefone, sobre o caso. "Ele me disse que a PF está vindo para cá, assim como o ministro [Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar]", afirmou Gilmar.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou, neste sábado (11), que a Polícia Federal instaure inquérito para apurar o ataque ao assentamento Olga Benário, do MST.
O massacre.
Os criminosos invadiram o assentamento com cinco carros e três motos, portando armas de fogo (calibre 12 e 9mm) e armas brancas, por volta das 23h20 de sexta-feira (10). Eles abriram fogo contra os assentados. A polícia suspeita que o crime esteja ligado a disputa por terras. Após o massacre, os criminosos chegaram a amarrar vítimas e prometeram que "iriam voltar".
Morreram Valdir do Nascimento, de 54 anos, o Valdirzão, considerado uma das principais lideranças do MST na RMVale, e Gleison Barbosa de Carvalho, o Guegue, que era assentado. Denis Carvalho, de 29 anos, irmão de Gleison, levou dois tiros na cabeça e está em estado grave. No sábado, o movimento chegou a confirmar a morte do jovem, mas a informação foi posteriormente corrigida.
Em nota, o MST lamentou o crime: "Neste momento de profunda dor, o movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, se indigna perante a violência e a falta de políticas públicas de segurança nos territórios, que põem a vida de tantos em constante risco. Aos nossos mortos, nenhum minuto de silêncio, mas uma vida inteira de luta!". Veja a nota completa aqui.
Polícia.
Em nota enviada a OVALE, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) de São Paulo informou que a Polícia Civil investiga o massacre.
"A Polícia Civil de Taubaté investiga as mortes de dois homens, 28 e 52 anos, ocorridas na noite desta sexta-feira (10), na Estrada Canegal, em Tremembé. Outras seis pessoas, com idades entre 18 e 49 anos, ficaram feridas e foram encaminhadas ao Hospital Regional de Taubaté e o PS de Tremembé. Depoimentos das vítimas indicaram que suspeitos em carros e motos teriam atirado. Um homem foi abordado no local e autuado em flagrante por porte ilegal da arma. O caso foi registrado como homicídio, tentativa de homicídio e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido no plantão da Delegacia Seccional de Taubaté", informou o Estado, em nota encaminhada a OVALE.