
Na madrugada de 10 de janeiro de 2025, o Brasil testemunhou mais uma tragédia que expõe suas entranhas mais cruéis. O ataque ao assentamento Olga Benário, em Tremembé, em nossa RMVale, berço esplêndido da tecnologia aeroespacial, foi um massacre orquestrado, covarde, que revelou como o poder e a ganância seguem ceifando vidas enquanto o Estado se cala.
Três mortos, cinco feridos e dezenas de famílias despedaçadas – esse é o saldo de um crime que vai além das balas disparadas. É o reflexo de um país que insiste em abandonar seus trabalhadores rurais e transformar suas lutas em túmulos.
Valdir do Nascimento, conhecido como Valdirzão, Gleison Barbosa de Carvalho e Denis Carvalho foram assassinados por ousarem resistir. Valdir, liderança histórica, era a voz de uma comunidade que, há mais de duas décadas, constrói o assentamento com suor e esperança. Gleison, aos 28 anos, era um jovem cheio de sonhos que acreditava no direito à dignidade. Denis, que lutou até o último instante, tornou-se mais uma vida arrancada pela brutalidade de um sistema que prefere atender aos interesses de milícias e especuladores imobiliários do que proteger o povo.
Não acredite que essas mortes foram aleatórias. Foram planejadas. Durante anos, os moradores do assentamento Olga Benário alertaram sobre as ameaças que pairavam sobre eles. Durante anos, o silêncio do poder público foi ensurdecedor. Prefeitura, Estado e Governo Federal. O que aconteceu ontem a noite foi o resultado direto da ausência de segurança, da conivência de quem deveria governar para todos e da omissão de um estado que escolhe quem deve viver e quem deve morrer.
O assentamento Olga Benário, regularizado pelo Incra há mais de 20 anos, leva o nome de uma mulher que enfrentou o regime nazista e covardemente foi entregue pelo Estado brasileiro a Hitler pagando com a vida por lutar por justiça. Hoje, essa mesma terra testemunha a repetição de uma violência histórica. Olga foi traída por um governo que deveria protegê-la. Valdir, Gleison e Denis foram traídos pelo mesmo sistema que prometeu direitos e entregou abandono. Suas mortes carregam o peso de um país que não aprendeu com seu passado e continua a escrever sua história com sangue.
O governador Tarcísio de Freitas, e todas as autoridades responsáveis pela segurança do estado têm suas mãos manchadas. Não se trata apenas da ausência física naquele momento, mas da negligência crônica que criou o ambiente propício para essa barbárie. Quem escolhe ignorar ameaças, minimizar denúncias e desamparar os mais vulneráveis é cúmplice. Não adianta emitir notas de repúdio ou pedir investigações protocolares. O tempo da retórica acabou. Tremembé exige justiça real, ação imediata e respostas contundentes.
Enquanto carros e motos invadiam o Olga Benário naquela noite, disparando tiros indiscriminados contra homens, mulheres e crianças, as instituições permaneciam como sempre permaneceram sobre essa situação: inertes. A presença de armas de alto calibre nas mãos de criminosos também não é coincidência. É o resultado de um sistema que arma a violência enquanto desarma os direitos. O Brasil não pode mais aceitar que vidas sejam descartáveis. Cada tiro disparado em Tremembé não só dizimou vidas, mas gritou a verdade sobre quem somos enquanto nação.
Não há espaço para silêncio. Não há espaço para esquecimento. Valdir, Gleison e Denis não podem ser reduzidos a números em estatísticas oficiais. Eles eram pais, filhos, companheiros. Eles eram resistência. O que aconteceu no assentamento Olga Benário é um crime contra a humanidade, contra a justiça e contra a dignidade. É uma vergonha que recai sobre todos nós.
Tremembé precisa ser um marco. Não há mais espaço para aceitar que o lucro de especuladores valha mais que a vida de trabalhadores. Não há mais tempo para tolerar a inércia de um estado que deveria ser a primeira linha de defesa dos oprimidos e, em vez disso, se torna o facilitador de sua destruição. O massacre de Tremembé não pode se perder na poeira do tempo. Ele precisa ecoar como um basta, exigindo que o Brasil olhe para si mesmo e faça as escolhas que já deveriam ter sido feitas há muito tempo.
Este é o momento de agir. Não por discursos, mas por vidas. Não por conveniência política, mas por justiça. Não por memória, mas por futuro. Que Tremembé não seja apenas mais um capítulo sombrio em nossa história, mas o ponto de virada que nunca tivemos coragem de escrever.