CRIME ORGANIZADO

Aluguel de 'biqueira' em São José custa até mais do que comércio

Por Guilhermo Codazzi | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Editor-chefe de OVALE
Reprodução
Embalagens para venda de cocaína
Embalagens para venda de cocaína

O arrendamento de 'biqueiras' do tráfico de drogas no Campo dos Alemães, na zona sul de São José dos Campos, tem valor próximo ou até maior do que o cobrado pelo aluguel de pontos comerciais em áreas nobres do maior município do Vale do Paraíba, a região recordista em homicídios no estado de São Paulo. A existência de um 'mercado imobiliário do crime' foi revelada por OVALE, por meio de uma série de reportagens especiais.

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A 'biqueira' da rua 15 do Campo, por exemplo, foi arrendada por R$ 6.500. De acordo com a polícia, esse foi o valor pago por Lucas Inácio dos Santos Rodrigues, o 'Chulé'. Preso em 20 de novembro de 2021, por policiais militares, com um quilo de maconha e uma pistola, Chulé admitiu ter arrendado o ponto de drogas.

“Indagado a respeito dos fatos, Lucas declarou informalmente que havia arrendado o comércio de drogas da rua 15 do Campo dos Alemães, pelo valor de R$ 6.500,00 por mês e que o armamento seria para sua segurança pessoal, bem como a droga oriunda de seu ponto de vendas, alegando ainda que é conhecido no meio criminal como Chulé", diz o boletim de ocorrência.

O valor, de acordo com profissionais da área de imóveis, é similar ao cobrado para o aluguel de pontos comerciais em bairros como Vila Ema, Vila Adyana e Jardim Aquárius, entre outros -- o valor varia, obviamente, de acordo com o tamanho do imóvel. Em outros bairros da cidade, menos nobres, o valor do arrendamento da biqueira chega a ser maior do que o dobro do aluguel de pontos comerciais.

De acordo com fontes policiais, o "mercado imobiliário" do tráfico de drogas chega a vender "biqueiras" ou "lojas" (pontos de venda de entorpecentes) por até R$ 2 milhões em São José.

Este foi o valor pago para a aquisição de pontos de venda de droga no bairro Campo dos Alemães, na região sul, após a morte de Lúcio Monteiro Cavalcante -- líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) morto no dia 6 de março de 2017, durante um tiroteio com a Polícia Militar no Anel Viário. De acordo com investigações do Ministério Público, o tráfico no Campo gerava aproximadamente R$ 2 milhões por mês à época.

Mercado do crime.

O 'mercado imobiliário do tráfico' em São José chega a movimentar milhões de reais em apenas uma transação, conforme já revelou OVALE com exclusividade.

O crime organizado aluga, arrenda e vende pontos de venda de drogas em São José e região. Na gíria dos criminosos, os pontos são chamados de 'lojas' ou 'biqueiras'. O PCC (Primeiro Comando da Capital) tem um cadastro dos pontos em atividade, com a informação de quem é responsável por cada um desses espaços, espalhados por suas 'quebradas'.

A 'Sintonia do Progresso', um dos departamentos dessa "multinacional" do crime, é quem cuida do mercado da droga. "Podem ser uma rua, um bairro, uma viela. São espaços públicos", disse um agente envolvido na linha de frente contra o crime no Vale. De acordo com ele, a 'propriedade' chega até a passar de pai para o filho. "Elas são hereditárias. Se o pai morre, então passa para o filho. É mesmo como uma propriedade", completou.

OVALE apurou o caso de um homem que tinha duas biqueiras na zona sul da cidade e, após deixar o crime, vendeu uma (com o dinheiro, comprou um terreno e uma moto) e está em busca de comprador para outra.

Biqueiras.

Como acontece no mercado imobiliário tradicional, fatores pode influenciar na valorização da 'biqueira', principalmente a sua localização.

Os pontos mais valorizados estão em bairros conhecidos pelos usuários, por terem venda de drogas, e próximos a áreas movimentadas, incluindo escolas e bares, por exemplo. "Trabalhei em várias 'biqueiras' e vendia bastante, uma média de R$ 25 mil por dia", afirmou um jovem que trabalhou por anos no tráfico.

Para tentar lucros cada vez mais altos, criminosos criam até grifes. Em São José, por exemplo, biqueiras chegam a vender cocaína, crack e maconha usando nomes de personalidades como, por exemplo, a Neymar, Osama Bin Laden e Pablo Escobar, além de personagens, como Papa Léguas. Os pontos de tráfico funcionam com uma estrutura organizada, com horários de funcionamento, turnos de atuação, funções definidas ('gerente', 'vapores' e também 'vigias').

Combate ao tráfico.

Em 2024, entre os meses de janeiro e novembro, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, foram registradas 412 ocorrências de tráfico de drogas em São José -- o número é 4% superior ao registrado no mesmo período em 2023 (394 casos). O índice é considerado um indicador de produtividade policial.

Comentários

1 Comentários

  • Jeniffer Batista 24 horas atrás
    Descobre-se tudo, e o crime continua nesta porcaria de rua.