O mês de outubro é internacionalmente dedicado à pessoa idosa, o que mostra a importância que o aumento da longevidade possui no cenário de todos os países, mesmo daqueles em que esse fenômeno é sentido há décadas, porque os dados estatísticos demonstram um aumento contínuo do número de pessoas idosas.
No Brasil a expectativa média de vida em 1920 era de apenas 34, saltando, para 76 em 2024. Um aumento admirável, convenhamos, e que chegou para ficar.
Em 1920 éramos uma sociedade basicamente rural daquele Brasil e, atualmente, somos uma sociedade urbana, acelerada e hiper conectada. E, por mais que o acesso universal a educação, saúde e benefícios previdenciários ou assistenciais tenha avançado, são áreas que merecem mais aperfeiçoamento, levando em conta a quantidade de pessoas idosas que atualmente está presente na vida da maioria dos cidadãos, diferentemente do que se dava no início do século XX, no qual chegar na fase da velhice era uma exceção e um privilégio de poucos.
Para dizer um pouco mais sobre a velhice, sabemos que ela possui algumas características comuns a todos os indivíduos - do ponto de vista biológico, psicológico e social -, mas cada pessoa vive de modo singular e único, o que nos permite falar em “velhices”, assim, no plural.
Velhice, no que tem de comum, e “velhices”, no que têm de individual, ambas trazendo desafios próprios - como toda fase da vida, aliás - para a sociedade e para cada pessoa.
A realidade se impõe aos olhos: somos mais longevos, mais pessoas idosas, convivemos com mais amigos e parentes idosos, envolvemo-nos mais com cuidados aos mais velhos, falamos mais sobre a velhice, nossa e dos outros.
Percebemos mais e mais pessoas idosas buscando produtos que atendam aos seus gostos e necessidades próprias, votando e sendo votados, acessando serviços públicos e privados com questões sobre o envelhecimento, desejosos de se aposentar bem ou permanecer bem no mercado de trabalho, enfim de participar de modo protagonista em todos os aspectos da vida.
Aparece cada vez mais claro que se quisermos ser bons familiares, cidadãos, profissionais e gestores públicos e privados, não poderemos permanecer na ignorância do que o envelhecimento projeta nos nossos papéis sociais. Buscando viver uma velhice plena e consciente, quer esteja ela distante, próxima ou presente, igualmente precisamos nos informar.
Esse é o contexto em que se tornou inevitável e urgente conhecer melhor esse fenômeno bastante recente em nosso país e que chama a sociedade a debater a velhice e o envelhecimento com mais constância e profundidade.
O conhecimento desfaz mitos e preconceitos e permite avaliar e projetar de modo mais preciso os passos a serem dados. Graças ao conhecimento, hoje já sabemos que a plasticidade neural permite a continuidade do aprendizado pelas pessoas idosas, que um cuidado adequado mantém a autonomia e a saúde mesmo nos anos finais da vida e confirmamos o conhecimento empírico de que a participação ativa dos idosos e das idosas nas muitas atividades para as quais se mostram capazes e competentes, é eficiente em manter a saúde física e psíquica ao longo dos anos.
Temos então o mês dedicado à pessoa idosa como momento de conscientização e comemoração, mas igualmente privilegiado para nos voltarmos de maneira intensa para o fenômeno do aumento da longevidade e suas múltiplas consequências.
Em São José dos Campos, a Univap e o Sesc são pioneiros no oferecimento de atividades às pessoas idosas e na produção de estudos e pesquisas sobre o envelhecimento.
O Projeto Faculdade da Terceira Idade e o Núcleo de Estudos do Envelhecimento são espaços oferecidas pela UNIVAP as demandas da fase da velhice. Da mesma forma que o SESC oferece atividades de lazer, cuidados e educação continuada para as pessoas idosas, os quais são referência em nossa cidade e no Brasil.
Como fruto mais recente dessa atuação, a UNIVAP e o SESC, promoveram o Painel: “Múltiplos Olhares sobre o Envelhecer”.
No dia 21 de outubro, a programação debateu permitiu a presença de estudiosos na discussão e no debate com o público idoso e outros interessados sobre diversos temas sobre o aumento da longevidade humana.
E o dia 22 de outubro, teve a presença de Marcio Pochmann, professor e pesquisador, e atual presidente do IBGE, que apresentou reflexões importantes sobre Renda, consumo e aposentadoria.
Como resultado desses debates foi possível reconhecer que o prolongamento da velhice abre mais e mais folhas à nossa frente, elas trazem linhas traçadas pela biologia, é verdade, mas cabe à sociedade e aos indivíduos decidir o que será escrito ao longo delas, daqui em diante.
*Assistente Social. Gerontóloga. Mestre em Gerontologia Social e Família (CAPES/PUCSP) Doutora em Planejamento Urbano e Regional (IP&D). Coordenadora e Pesquisadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre o Envelhecimento Humano, Longevidade e Velhice (NEPEH). Coordenadora da Faculdade da Terceira Idade (UNIVAP). Presidente do Comitê de Referência para Curricularização da Extensão Universitária (UNIVAP). Membro do Comitê de Direitos Humanos Maria Carolina de Jesus (UNIVAP).