Noite de domingo, dia 27 de outubro de 2024.
Após a vitória nas urnas, é hora de por o bloco na rua e festejar pelos lados da campanha de Anderson Farias (PSD), prefeito reeleito de São José dos Campos. Abraçado ao vice-governador de São Paulo, Felicio Ramuth, seu correligionário e padrinho político, um dos principais vencedores da disputa eleitoral joseense, Anderson saboreia o triunfo, cercado por apoiadores e militantes.
Na caixa de som, além do jingle de campanha, quem dá o tom é Beth Carvalho (1946-2019).
"Chora, não vou ligar, não vou ligar/ Chegou a hora, vais me pagar/ Pode chorar, pode chorar/ Mas chora!", canta a sambista. "Chora, não vou ligar/ Não vou ligar/ Chegou a hora, vais me pagar/ Pode chorar, pode chorar", completa a letra. "É, o teu castigo/ Brigou comigo, sem ter porquê/ Eu vou festejar, vou festejar! O teu sofrer, o teu penar", segue a música, preparando o refrão: "Você pagou com traição/ A quem sempre lhe deu a mão/ Você pagou com traição/ A quem sempre lhe deu a mão/ Mas chora...". Tudo isso, obviamente, cantado a plenos pulmões.
Nas entrelinhas, o recado era claro. Anderson venceu nas urnas o ex-prefeito Eduardo Cury (PL), apoiado pelo também ex-prefeito Emanuel Fernandes (PSDB), em uma disputa fratricida, que pôs em lados opostos ex-aliados, que caminharam lado a lado nas últimas três décadas. Em 2022, Felicio e Anderson deixaram o PSDB, migraram para o PSD e o primeiro renunciou à prefeitura, cedendo o lugar para o segundo. O resto, é história.
Nesta campanha, Cury acusou Anderson e Felicio de traírem São José e o grupo encabeçado por Emanuel. Por outro lado, Anderson acusa o adversário de atacá-lo. Com a vitória, Beth Carvalho foi a desforra. Fim de campanha, certo? Errado.
Ainda na tarde de domingo, faltando pouco tempo para o encerramento da votação, a campanha de Cury e de Anderson mantinham o ímpeto.
De um lado, a turma do PL destacava a possibilidade de investigação contra o grupo do PSD, por vídeos com usuários de crack (veja aqui). Do outro, a campanha de Anderson destacava ações contra propagandas do adversário.
E as urnas? Fim do 2º turno: Anderson teve 196.462 votos e 58,26% dos válidos, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Cury ficou com 140.775 votos e 41,74% dos válidos. Mais de 156,5 mil eleitores não votaram (veja aqui).
À noite, enquanto Anderson festejava a vitória, Cury atendia a imprensa, dizendo que fará oposição do governo eleito. “Esse grupo teve uma votação gigante e tem uma responsabilidade com São José e com o Vale, que é continuar lutando pelo nosso projeto, cobrar que o governo cumpra as promessas e apontar os erros que devem ser corrigidos”, disse Cury.
Para isso, contará com apoio de parlamentares de sua coligação, que elegeu nove vereadores -- o grupo de Anderson elegeu 10; o PT elegeu duas, completando as 21 cadeiras (veja aqui).
Ter uma oposição consistente e com alto poder de fogo, com uma junção de forças, como no caso de Cury e do deputado estadual Dr. Elton (União), terceiro colocado nesta disputa, é uma novidade para o time de Felicio/Anderson. Até aqui, em oito anos, a oposição estava em outro espectro politico, enfraquecido na cidade. O tom bélico da campanha transformará o próximo mandato em um terceiro turno?
"Vai ser assim [com embates duros] durante todo o mandato do Anderson", me disse uma importante peça do xadrez político de Anderson, na manhã desta segunda-feira (28), pós-festa da vitória. Além da mensagem, um meme, com a imagem de Cury e seus principais aliados, vestidos de sambistas, acompanhados pela legenda: 'Não perca nos próximos 4 anos, chorinho da atrapalhação'.
É, a campanha de terceiro turno já começou e todo cuidado é pouco, para não atravessar o samba. Afinal, como cantava Beth Carvalho: "camarão que dorme a onda leva, hoje é o dia da caça, amanhã do caçador...".