ELEIÇÃO EM SÃO JOSÉ

Vou festejar? Beth Carvalho ensina: camarão que dorme a onda leva

Por Guilhermo Codazzi | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Editor-chefe de OVALE
Reprodução
Beth Carvalho, na capa do disco 'De pé no chão'
Beth Carvalho, na capa do disco 'De pé no chão'

Noite de domingo, dia 27 de outubro de 2024.

Após a vitória nas urnas, é hora de por o bloco na rua e festejar pelos lados da campanha de Anderson Farias (PSD), prefeito reeleito de São José dos Campos. Abraçado ao vice-governador de São Paulo, Felicio Ramuth, seu correligionário e padrinho político, um dos principais vencedores da disputa eleitoral joseense, Anderson saboreia o triunfo, cercado por apoiadores e militantes.

Na caixa de som, além do jingle de campanha, quem dá o tom é Beth Carvalho (1946-2019).

"Chora, não vou ligar, não vou ligar/ Chegou a hora, vais me pagar/ Pode chorar, pode chorar/ Mas chora!", canta a sambista. "Chora, não vou ligar/ Não vou ligar/ Chegou a hora, vais me pagar/ Pode chorar, pode chorar", completa a letra. "É, o teu castigo/ Brigou comigo, sem ter porquê/ Eu vou festejar, vou festejar! O teu sofrer, o teu penar", segue a música, preparando o refrão: "Você pagou com traição/ A quem sempre lhe deu a mão/ Você pagou com traição/ A quem sempre lhe deu a mão/ Mas chora...". Tudo isso, obviamente, cantado a plenos pulmões.

Nas entrelinhas, o recado era claro. Anderson venceu nas urnas o ex-prefeito Eduardo Cury (PL), apoiado pelo também ex-prefeito Emanuel Fernandes (PSDB), em uma disputa fratricida, que pôs em lados opostos ex-aliados, que caminharam lado a lado nas últimas três décadas. Em 2022, Felicio e Anderson deixaram o PSDB, migraram para o PSD e o primeiro renunciou à prefeitura, cedendo o lugar para o segundo. O resto, é história.

Nesta campanha, Cury acusou Anderson e Felicio de traírem São José e o grupo encabeçado por Emanuel. Por outro lado, Anderson acusa o adversário de atacá-lo. Com a vitória, Beth Carvalho foi a desforra. Fim de campanha, certo? Errado.

Ainda na tarde de domingo, faltando pouco tempo para o encerramento da votação, a campanha de Cury e de Anderson mantinham o ímpeto.

De um lado, a turma do PL destacava a possibilidade de investigação contra o grupo do PSD, por vídeos com usuários de crack (veja aqui). Do outro, a campanha de Anderson destacava ações contra propagandas do adversário.

E as urnas? Fim do 2º turno: Anderson teve 196.462 votos e 58,26% dos válidos, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Cury ficou com 140.775 votos e 41,74% dos válidos. Mais de 156,5 mil eleitores não votaram (veja aqui).

À noite, enquanto Anderson festejava a vitória, Cury atendia a imprensa, dizendo que fará oposição do governo eleito. “Esse grupo teve uma votação gigante e tem uma responsabilidade com São José e com o Vale, que é continuar lutando pelo nosso projeto, cobrar que o governo cumpra as promessas e apontar os erros que devem ser corrigidos”, disse Cury.

Para isso, contará com apoio de parlamentares de sua coligação, que elegeu nove vereadores -- o grupo de Anderson elegeu 10; o PT elegeu duas, completando as 21 cadeiras (veja aqui).

Ter uma oposição consistente e com alto poder de fogo, com uma junção de forças, como no caso de Cury e do deputado estadual Dr. Elton (União), terceiro colocado nesta disputa, é uma novidade para o time de Felicio/Anderson. Até aqui, em oito anos, a oposição estava em outro espectro politico, enfraquecido na cidade. O tom bélico da campanha transformará o próximo mandato em um terceiro turno?

"Vai ser assim [com embates duros] durante todo o mandato do Anderson", me disse uma importante peça do xadrez político de Anderson, na manhã desta segunda-feira (28), pós-festa da vitória. Além da mensagem, um meme, com a imagem de Cury e seus principais aliados, vestidos de sambistas, acompanhados pela legenda: 'Não perca nos próximos 4 anos, chorinho da atrapalhação'. 

É, a campanha de terceiro turno já começou e todo cuidado é pouco, para não atravessar o samba. Afinal, como cantava Beth Carvalho: "camarão que dorme a onda leva, hoje é o dia da caça, amanhã do caçador...".

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