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Calor extremo pode tornar o Vale 'inabitável' até 2070? Confira

Por Da redação | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução / Nasa
Mapa mostra áreas que experimentaram calor e umidades extremos
Mapa mostra áreas que experimentaram calor e umidades extremos

O Vale do Paraíba é uma das regiões do país que experimentaram níveis altos de calor e umidade brevemente – 0,1% mais quente das temperaturas máximas diárias de bulbo úmido --, de 1979 a 2017, e que podem repetir as combinações nas próximas décadas, o que tornaria a vida muito difícil na região por causa do excesso de temperatura.

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É o que especula um artigo da Nasa (agência espacial americana) que destacou que algumas regiões do planeta – incluindo áreas no Brasil – podem se tornar inabitáveis até 2070 devido ao aumento das temperaturas.

Não se trata de projeção, mas de possibilidade em razão das taxas de calor e umidade verificadas no período anterior. Se nada for feito e o calor continuar a aumentar no planeta, essas regiões correm mais risco.

Em artigo publicado em 2020, a Nasa mapeou em quais regiões do planeta as mudanças climáticas terão maior impacto nos próximos 50 anos, ressaltando como elas “podem tornar alguns lugares quentes demais para se viver”.

Medições.

O estudo se baseia em medições de locais que experimentaram níveis extremos de calor e umidade de 1979 a 2017. Algumas dessas áreas já tiveram condições no limite de sobrevivência humana de 35°C ou próximo a ele, com combinações mais severas de calor e umidade.

O estudo é assinado por Colin Raymond, pesquisador que atua na Nasa e que mapeou as temperaturas do bulbo úmido. Não se trata da temperatura dos termômetros, mas de medida que relaciona calor e umidade do ar para avaliar o estresse térmico.

A partir de certa temperatura do ar, o corpo precisa regular a própria temperatura pela transpiração. Para que isso aconteça, o suor precisa evaporar, mas em um ambiente muito úmido é difícil que isso aconteça. O limite para a sobrevivência seria de 35°C nesta medição.

O que a pesquisa descobriu analisando dados entre 1979 e 2017 é que a Terra já passou por eventos em que chegou a esse limite e que os eventos extremos, com essa temperatura entre 30°C e 31°C, vêm aumentando ao longo do tempo.

“Essas condições, próximas ou além da tolerância fisiológica humana prolongada, ocorreram principalmente por apenas 1 a 2 horas de duração. Elas estão concentradas no sul da Ásia, no litoral do Oriente Médio e no litoral sudoeste da América do Norte”, diz trecho da pesquisa de Raymond, que é do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa.

Ele também aponta que o Golfo Pérsico, o Mar Vermelho, o leste da China e o Brasil podem chegar a esses níveis.

Mapa de calor.

No mapa que acompanha o estudo, áreas no Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil são apontadas como tendo registrado calor e umidade em níveis altos entre 1979 e 2017, o que aumenta o risco de mais calor nas próximas décadas.

Há pontos na região do Rio de Janeiro e na divisa com São Paulo, no Vale do Paraíba. Essas áreas estão marcadas no mapa com as cores vinho e laranja escuro. Mas se tornar inabitável ou não, segundo cientistas, vai depender das condições do clima pelos próximos anos.

À medida que o clima da Terra esquenta, as ondas de calor estão se tornando mais frequentes e severas. Os perigos do calor extremo para a saúde preocupam cada vez mais cientistas e especialistas médicos. Os níveis extremos de estresse por calor mais que dobraram nos últimos 40 anos. Espera-se que essa tendência continue, diz o estudo.

O cientista diz que a temperatura de bulbo úmido mais alta que os humanos podem sobreviver quando expostos aos elementos por pelo menos seis horas é de cerca de 95 graus Fahrenheit (35 graus Celsius). As temperaturas de bulbo úmido estão aumentando em todo o mundo, e o clima da Terra começou a exceder esse limite.

“Quando a temperatura do bulbo úmido excede 35ºC, nenhuma quantidade de suor ou outro comportamento adaptativo é suficiente para reduzir seu corpo a uma temperatura operacional segura”, disse Raymond.

Corpo quente.

De fato, se a umidade for baixa, temperaturas extremas são toleráveis. “Se você estiver sentado na sombra com água potável ilimitada no Vale da Morte da Califórnia, as condições podem não ser agradáveis, mas são suportáveis”, explicou Raymond.

“Mas em regiões úmidas, quando você se aproxima de temperaturas de bulbo úmido de 34 a 36 graus Celsius, não importa o que você esteja fazendo. Você não consegue sobreviver por longos períodos de tempo.”

Os mais suscetíveis a altas temperaturas de bulbo úmido incluem idosos, pessoas que trabalham ao ar livre e pessoas com problemas de saúde subjacentes. Pessoas sem acesso a ar condicionado também são vulneráveis.

O ar condicionado remove a umidade do ar e é a melhor solução quando as temperaturas de bulbo úmido ficam muito altas. Ventiladores podem ajudar o suor a evaporar com mais eficiência, mas são menos eficazes.

Raymond observou que as pessoas morrem de estresse por calor em temperaturas de bulbo úmido muito mais baixas do que 35 graus Celsius. Por exemplo, a temperatura de bulbo úmido durante a onda de calor do noroeste do Pacífico em junho de 2021 foi mais próxima de 25 graus Celsius.

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