CRIME ORGANIZADO

Com venda de bocas, tráfico cria mercado imobiliário em São José

Por Da redação | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução
Em 2024, foram mais de 200 ocorrências de tráfico entre janeiro e maio
Em 2024, foram mais de 200 ocorrências de tráfico entre janeiro e maio

Vende-se.

Após anos no mercado, a decisão: colocar a 'loja' à venda. O ponto é movimentado, com fluxo intenso 24 horas por dia. Por ser perto de uma escola, a 'lojinha' é mais cara neste mercado imobiliário paralelo onde a negociação é feita no fio do bigode. Essa é a regra no "mercado imobiliário" do tráfico de drogas, que chega a movimentar milhões de reais em apenas uma transação, conforme já revelou OVALE com exclusividade.

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O crime organizado aluga, arrenda e vende pontos de venda de drogas em São José dos Campos e região. Na gíria dos criminosos, os pontos são chamados de 'lojas' ou 'biqueiras'. O PCC (Primeiro Comando da Capital) tem um cadastro dos pontos em atividade, com a informação de quem é responsável por cada um desses espaços, espalhados por suas 'quebradas'.

A 'Sintonia do Progresso', um dos departamentos dessa "multinacional" do crime, é quem cuida do mercado da droga. "Podem ser uma rua, um bairro, uma viela. São espaços públicos", disse um agente envolvido na linha de frente contra o crime no Vale. De acordo com ele, a 'propriedade' chega até a passar de pai para o filho. "Elas são hereditárias. Se o pai morre, então passa para o filho. É mesmo como uma propriedade", completou.

OVALE apurou o caso de um homem que tinha duas biqueiras na zona sul da cidade e, após deixar o crime, vendeu uma (com o dinheiro, comprou um terreno e uma moto) e está em busca de comprador para outra.

Mercado das 'lojas'.

Como acontece no mercado imobiliário tradicional, fatores pode influenciar na valorização da 'biqueira', principalmente a sua localização.
Os pontos mais valorizados estão em bairros conhecidos pelos usuários, por terem venda de drogas, e próximos a áreas movimentadas, incluindo escolas e bares, por exemplo. "Trabalhei em várias 'biqueiras' e vendia bastante, uma média de R$ 25 mil por dia", afirmou um jovem que trabalhou por anos no tráfico.

Para tentar lucros cada vez mais altos, criminosos criam até grifes. Em São José, por exemplo, biqueiras chegam a vender cocaína, crack e maconha usando nomes de personalidades como, por exemplo, a Neymar, Osama Bin Laden e Pablo Escobar, além de personagens, como Papa Léguas. Os pontos de tráfico funcionam com uma estrutura organizada, com horários de funcionamento, turnos de atuação, funções definidas ('gerente', 'vapores' e também 'vigias').

Combate ao tráfico.

De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, entre os meses de janeiro e maio, São José registrou 208 ocorrências de tráfico de drogas -- 8,33% de aumento na comparação com o mesmo período do ano passado, que teve 192. Mais da metade das ocorrências de tráfico de drogas em São José dos Campos, de janeiro a maio de 2024, foram registradas na região sul da cidade.

Do total de 2024, 112 ocorrências foram em distritos da zona sul (53,85%) e 63 nas delegacias da região leste (30,29%). A região norte aparece em terceiro lugar, com 21 registros (10%), depois a central com 11 (5%) e a oeste com uma ocorrência (0,48%). Veja os dados completos aqui.

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