REDE PÚBLICA

VÍDEO: Vereador do PL acusa livro de ‘apologia ao aborto’ em SJC

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Repórter Especial
Reprodução / TV Câmara
Thomaz Henrique critica obra em sessão da Câmara
Thomaz Henrique critica obra em sessão da Câmara

O vereador Thomaz Henrique (PL) acusa o livro “Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas”, escrito pela juíza Flávia Martins de Carvalho, de fazer “apologia ao aborto” para crianças e adolescentes da rede municipal de ensino de São José dos Campos. Ele criticou a obra durante sessão da Câmara, na última terça-feira (11).

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O livro foi recolhido das salas de leitura das escolas municipais na quarta-feira (12) por determinação da prefeitura, que informou que o conteúdo será “reavaliado pela equipe técnica da Secretaria de Educação e Cidadania”. O motivo da reavaliação não foi informado.

Lançada em julho de 2022, a obra conta a história de 20 pesquisadoras que alcançaram posições de destaque. Assim como a autora, a maioria das mulheres mencionadas são negras e brasileiras, entre elas a vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018, e a antropóloga Débora Diniz.

O livro usa uma linguagem de cordel para escrever sobre a vida e trabalho das mulheres. “Por meio de poesias sensíveis e profundas, a autora homenageia, celebra e canta a vida de 20 mulheres com histórias inspiradoras”, diz texto sobre o livro, publicado pela Editora Mostarda.

Flávia Martins é juíza de direito no Tribunal de Justiça de São Paulo e juíza auxiliar no STF (Supremo Tribunal Federal), considerada a única magistrada negra na Suprema Corte do país.

OFÍCIO.

Em ofício encaminhado à Prefeitura de São José, Thomaz critica a obra e mulheres retratadas pela autora, além de afirmar que o livro faz “apologia ao aborto”.

“O livro traz, além da figura da ex-vereadora Marielle Franco, em clara doutrinação ideológica, também a apologia ao aborto, ao retratar a sra. Débora Diniz, notadamente uma das maiores defensoras da legalização e descriminalização do aborto no Brasil”, diz trecho do ofício.

Thomaz ainda diz que, no poema sobre Débora Diniz, “a defesa do aborto é tratada como direitos reprodutivos” que, segundo ele, é um “eufemismo utilizado pela esquerda para falar em assassinato de bebês”.

O vereador conclui que o conteúdo do livro é “impróprio para crianças na rede pública municipal de ensino” e exige que seja “imediatamente retirado das escolas”. Ele ainda quer saber “quem são os responsáveis pela seleção do conteúdo de livros distribuídos na rede pública”.

OUTRO LADO.

Procurada pela reportagem, a Editora Mostarda informou que vai se reunir nesta quinta-feira (13) para “definir os próximos passos”. OVALE aguarda o posicionamento da editora e da autora. O espaço segue aberto.

Também procurada, a antropóloga Débora Diniz disse que seguirá as recomendações da editora e da autora do livro.

Em São José, o recolhimento da obra causou estranheza e indignação entre professoras e mães.

“É assustador o que aconteceu. O livro é muito voltado para as meninas. Falei com algumas alunas e elas não entenderam o que aconteceu. Nunca vi uma situação como essa, sem justificativa e sem diálogo”, disse Jéssica Marques, professora de História em escola municipal de São José.

“São José está beirando o extremismo político”, disse uma mulher em comentário no Instagram. “A retirada deste livro das salas de leitura das escolas municipais representa um retrocesso na educação antirracista da cidade de São José dos Campos”, disse outra internauta.

Comentários

1 Comentários

  • Joao Prisco 13/06/2024
    Censura vergonhosa, criminosa, racista e discriminatória muito próprias de fascistas que envergonham uma cidade tida e havida como progressista, porém tão mal representada por vereador retrogrado e referendado por uma administração infectada pela epidêmica onda de hipócritas conservadores.