O policial militar Wagner Vieira viveu o maior drama da vida na última semana, quando foi levado por uma enxurrada no Rio Grande do Sul e gravou um vídeo de despedida para a mulher e as três filhas. Ele temia não escapar com vida da enchente.
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O caso aconteceu numa estrada na cidade de Torres, no litoral do estado, que é perto da cidade de residência do policial, Morrinhos do Sul. Ele estava indo com seu carro para o trabalho, ainda de madrugada, quando foi surpreendido por uma enxurrada, que levou o veículo e quase o matou.
“O rio está me levando, já estou sem força e vou ficar sem bateria”, disse ele no começo do vídeo. Sem forças, ele resolve mandar uma mensagem de vídeo para se despedir da esposa e das três filhas, por achar que não conseguiria sobreviver.
“Estou ilhado e sem bateria, perdi meu carro. Perdi meu telefone que estava no colete. Estava indo para o trabalho. Não sei se foi um deslizamento ou uma queda d’água, que levou meu carro para dentro do rio. Não sei como, graças a Deus, consegui sair de dentro do carro e me segurar numa árvores. Estou morto. Na hora estou pensando em achar um lugar seguro para ficar, mas está tudo alagado e inundando. Está difícil e crítico. Estou tentando encontrar um lugar seguro, mas as estradas parecem rios. Tentando voltar para a casa. Estou sem internet”, disse ele na gravação.
RESGATE
O soldado enviou primeiro uma mensagem para colegas da Polícia Militar, se houvesse a chance de ser resgatado, e depois para a família. Mas o lugar onde ele estava não permitiu o resgate, e Vieira precisou encontrar a salvação sozinho, com fé em Deus e amor pela família.
“Faço esse vídeo porque eu posso não sair daqui e a minha bateria está acabando. Houve um desmoronamento quando estava indo para o trabalho e levou meu carro para dentro do rio. Graças a Deus eu saí. Mas não sei onde está meu carro. Eu não sei nem se eu vou chegar vivo em casa agora. Tá tudo transbordando. Eu quero dizer que eu te amo, tá amor, que eu amo minhas filhas”, afirmou Vieira no vídeo.
Ele contou à TV Record que chegou a ser arrastado pelas águas, ainda dentro do veículo, por mais de um quilômetro, e que conseguiu saltar do carro antes de ser tragado pela enchente. “Tive que saltar do carro. Se ficasse, certamente teria morrido. Tudo muito escuro e muita água. Saltei em direção ao rio”, disse.
Vieira se segurou num tronco de árvore e permaneceu ali suportando a correnteza fortíssima até recuperar o fôlego, para conseguir ir até a margem do rio e sair das águas. “Estava todo equipado, com cinto e colete, muita força física para me manter vivo”.
Ele contou que precisou caminhar por cerca de 20 quilômetros por dentro da água para voltar à residência. No local onde estava, a PM não conseguiu resgatá-lo. “É região de serra, mas está toda alagada. Água no peito e na cintura, quando mais baixa”.
“Minha vida dependia da minha tranquilidade emocional e força de vontade de viver”, disse o soldado, que serve na Brigada da Polícia Militar há 13 anos.
“A gente está numa união para trabalhar nessa tragédia. A gente coloca a nossa vida em risco para salvar a vida de outras pessoas. Passamos por dificuldades como todo mundo, mas vamos fazer de tudo para salvar o próximo”, disse ele.
Até o momento, as enchentes no Rio Grande do Sul provocaram a morte de 90 pessoas e afetou a vida de mais de 1 milhão. Segundo governo gaúcho, as chuvas atingiram mais da metade dos municípios do estado e há 132 desaparecidos.
