OPINIÃO

Elian Matte, silêncio rompido: a luta contra o assédio nos meios de comunicação

Por Fabrício Correia | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 2 min
Reprodução
Elian Matte, jornalista que deixou a TV Record
Elian Matte, jornalista que deixou a TV Record

Em um momento de crescente conscientização sobre a necessidade de combatermos práticas de assédio nos locais de trabalho, as violências sofridas pelo jornalista Elian Matte na Record TV representam uma narrativa alarmante e instrutiva.

Seus relatos de assédio sexual e moral, culminando em uma demissão repleta de controvérsias, escancaram não apenas a vulnerabilidade dos indivíduos diante do poder corporativo, mas também a resistência sistêmica à mudança e a proteção.

O ponto de partida dessa história é o assédio sexual descarado alegadamente perpetrado por Márcio Santos, ex-diretor de RH da empresa, que usou sua posição de autoridade para infligir terror psicológico em Matte. A magnitude desse assédio é ampliada pela invasão de privacidade e pelo monitoramento obsessivo, atitudes que ultrapassam todas as fronteiras do decoro profissional.

A progressão para a Síndrome de Burnout, diagnosticada em Matte, lança luz sobre um ambiente de trabalho insidioso, onde o estresse crônico é uma constante. Esta condição, frequentemente decorrente de ambientes laborais tóxicos, é reveladora de um problema muito mais profundo: uma cultura organizacional que desgasta em vez de empoderar.

Quando Matte buscou refúgio na legalidade e no tratamento de saúde, a Record TV, por meio das ações que ele relata, praticadas por Angelica Balbin, engajou-se em táticas dissimuladas, visando sua demissão sob o véu de "mudanças na empresa". O incidente descrito como uma "emboscada", se comprovado, transcende a falta de ética e adentra o território do ilegal, desconsiderando as leis trabalhistas que protegem os trabalhadores em tratamento médico.

A essência mais perturbadora desses acontecimentos é a suposta retaliação movida pelo ato de Matte tornar seu caso público. O confinamento forçado em uma sala e a coerção para assinar documentos de demissão soam como uma tentativa flagrante de intimidação e silenciamento.

Nos solidarizarmos com Matte e repudiarmos esse comportamento corporativo é um chamado à ação.  Deve servir como um lembrete assombroso de que, apesar dos avanços na legislação e na sensibilização, a luta contra o assédio no local de trabalho continua urgente.

As organizações, grandes ou pequenas, devem ser santuários de segurança e respeito, não arenas de abuso de poder. As ações alegadas da Record TV não apenas falham em alcançar esse padrão; elas destroem ativamente a confiança e a dignidade de seus colaboradores e deixa severas dúvidas em seus telespectadores e clientes sobre os reais compromissos da empresa.

É imperativo que a Record TV e outras organizações façam uma introspecção séria. Devem não apenas compensar as vítimas e punir os perpetradores, mas também reconstruir suas culturas internas. A dignidade dos trabalhadores não é uma commodity negociável; é o alicerce sobre o qual as empresas devem ser construídas. A hora de ouvir e agir é agora; o silêncio não é mais uma opção.

* Fabrício Correia é professor universitário, com especialização em Diversidade, Acessibilidade e Inclusão, escritor, apresentador e diretor de televisão. Preside a Academia Joseense de Letras e é membro da Academia Brasileira de Cinema.

Comentários

1 Comentários

  • Falante 24/04/2024
    História contada de um lado sempre é complicada, agora que está clara a forçação de barra de jornalista, isso é nítido, Já vi casos assim, no final o que havia era o inverso!