HOMICÍDIOS

Palco de disputa de gangues, bairro de Cruzeiro tem o metro quadrado mais violento de SP

Bairro é o mais violento na cidade com a maior taxa de vítimas de homicídio do estado de São Paulo; Cruzeiro registra cinco mortes violentas em pouco mais de um mês

Por Xandu Alves | 23/04/2024 | Tempo de leitura: 4 min
São José dos Campos

Reprodução / Meu Bairro Visto de Cima

Trecho do bairro Itagaçaba, em Cruzeiro
Trecho do bairro Itagaçaba, em Cruzeiro

Cinco mortes violentas em pouco mais de um mês. Três homicídios nas últimas 24 horas. Esses são os números que aterrorizam a população de Cruzeiro, cidade com a maior taxa de vítimas de homicídio do estado de São Paulo – 40 vítimas por 100 mil, quase 10 vezes maior do que a da capital.

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Na cidade, o bairro de Itagaçaba vem se tornando território de terror, com disputa de gangues e assassinatos em sequência. Dois jovens são procurados pela Polícia Civil, um deles com 50 mil de recompensa.

Na manhã desta segunda-feira (22), Luiz Carlos de Souza, 68 anos, foi encontrado morto no Itagaçaba. De acordo com a Polícia Militar, moradores escutaram disparos de arma de fogo e, quando saíram das residências, visualizaram a vítima alvejada por vários tiros, caída na via pública ao lado de um veículo.

Antes dele, dois homens de 30 e 20 anos foram executados no domingo (21). Na madrugada, um homem de 30 anos foi morto a tiros no conjunto habitacional Colinas da Mantiqueira, na Vila dos Comerciários. Segundo o boletim de ocorrência, a vítima, que era procurada pela Justiça, foi encontrada com perfurações na face e no tórax.

Na noite de domingo, o jovem Vinicius Michel Santana de Almeida, 20 anos, foi baleado e morto no bairro Vila Loyelo. Vizinhos ouviram barulhos de tiros e acionaram a Polícia Militar. Ao chegar ao local, os policiais encontraram o jovem caído com uma moto em cima dele. Ele tinha marcas de tiros na cabeça, nas costas, na axila e na nádega.

A Polícia Civil investiga se os três casos estão relacionados. Até o fechamento dessa reportagem, ninguém havia sido preso pelos crimes.

TIROS

O número de mortos não foi maior em razão de um quase milagre. Em 18 de março, no bairro Vila Romana, um homem foi baleado e saiu andando pela rua pedindo ajuda.

Segundo a Polícia Civil, ele estava em uma casa de um amigo quando saiu para, na sua versão “dar um peão” e acabou baleado. Foram pelo menos quatro tiros. A vítima era conhecida nos meios policiais, principalmente por envolvimento com tráfico de drogas, tendo inclusive cumprido pena pelo crime.

A mesma sorte não teve Yasmin de Cássia Velloso Moraes, 28 anos, que foi executada dentro de casa, no bairro Itagaçaba, no dia 19 de março. Mãe de três filhos pequenos, ela levou quatro tiros, dois na cabeça. O namorado dela também foi baleado, mas sobreviveu.

Moradora do Itagaçaba, Ellen Vitória, 18 anos, também foi vítima da violência em Cruzeiro. “Sempre me mandam mensagem me humilhando e falando que me deixaram aleijada”, contou a moça, baleada nas costas há um ano e que, desde então, não consegue andar.

No dia 15 de março, a violência atingiu o pai dela, Eli da Silva Moreira Júnior, 43 anos, morto a tiros em um ponto de ônibus em Itagaçaba. O pai trabalhava vendendo frango.

De acordo com a filha, o pai foi morto por uma gangue de criminosos ligada ao tráfico de drogas na região. O crime foi cometido com o objetivo de atingi-la. A quadrilha teria uma rixa com o ex-namorado de Ellen.

Em setembro do ano passado, no espaço de três dias, dois homens foram baleados em Cruzeiro, um no Itagaçaba e outro na Vila Batista. Dois jovens de 23 anos sofreram tentativa de homicídio, um deles atingido na cabeça e no peito. Ambos sobreviveram.

ITAGAÇABA

Um dos bairros mais populosos e antigos de Cruzeiro, o Itagaçaba vem se tornando território de disputa entre grupos rivais.

À frente da Delegacia Seccional de Cruzeiro, o delegado João Paulo de Oliveira Abreu está na cruzada por descobrir os autores dos assassinatos e reduzir o número de mortes na cidade, que vem registrando queda nos homicídios desde 2021, mas com um recrudescimento neste começo de 2024.

Em entrevista a OVALE, em março, ele falou sobre a disputa entre gangues violentas no Itagaçaba. “O bairro Itagaçaba está dividido por dois grupos que estão rivalizando entre eles”, afirmou João Paulo.

Dos sete homicídios registrados em 2024 (sem contar os três das últimas 24h), cinco já foram esclarecidos e noves suspeitos estão presos. Mas dois estão foragidos. A Polícia Civil caça os dois homens, Bruno Dias e Lucas Willians – Bruno tem recompensa de R$ 50 mil para informações que possam levar ao seu paradeiro.

“Os dois são procurados e podem estar relacionados com os crimes e outros registrados na cidade. Cada um deles pertence a um grupo distinto do outro”, disse o delegado.

Cruzeiro tem 40,02 vítimas de homicídio por 100 mil habitantes, a maior taxa do estado de São Paulo, considerando os homicídios registrados nos últimos 12 meses.

A cidade passou por uma escalada de violência nos últimos anos. Com apenas seis pessoas assassinadas em 2001, Cruzeiro viu o patamar subir para 28 no ano passado, com recorde de 42 vítimas em 2021. Com isso, a média de mortes violentas por ano passou de sete, entre 2001 e 2010, para 20 no período de 2011 a 2023.

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