ADEUS, ZIRALDO

Crônica de um adeus bem maluquinho

Fabrício Correia é escritor, historiador e professor universitário. Preside a Academia Joseense de Letras

Por Fabrício Correia | 12/04/2024 | Tempo de leitura: 2 min
São José dos Campos

Reprodução

Ziraldo e alguns de seus personagens
Ziraldo e alguns de seus personagens

Há momentos em que a vida nos pede uma pausa para contemplação, para reverência ao que se foi.

Hoje, as tintas parecem mais pálidas, as linhas menos audazes. O Brasil veste o luto pelas cores que se despediram de sua paleta: Ziraldo, nosso eterno menino, fechou os olhos para o mundo que ele próprio coloriu.

Não é apenas o artista que partiu. É o riso fácil de uma nação, é o abraço que estendíamos a cada página virada, cada traço reconhecido.

Ziraldo sempre foi mais que um nome, é um estado de espírito, uma permissão para a alma brasileira ser livre, maluquinha, sonhadora.

Nascido em Minas Gerais, o lugar onde as montanhas tocam o céu, Ziraldo nos ensinou a tocar as estrelas com os pés no chão.

Cada personagem que criou, desde o Pererê até o Menino Maluquinho, foram moldados com o barro desse país, com a água clara de sua genialidade.

“O Pasquim”, voz que não se deixou calar pela escuridão dos anos de chumbo, foi o palco onde Ziraldo e seus colegas esgrimiam o humor e a arte como armas de liberdade. E que liberdade! Poder rir quando o mundo exigia prantos, poder criticar quando o silêncio era imposto.

Nos deixou dormindo, como quem não quer fazer alarde de sua partida. Talvez sonhando com suas criações, seus maluquinhos a correr por um Brasil que aprendeu a desenhar suas próprias histórias, um país melhor porque Ziraldo o eternizou em papel e tinta.

Não se enganem: o menino maluquinho não morreu. Ele apenas tirou seu famoso capacete e, com um sorriso maroto, sussurrou um "até logo". Heróis como Ziraldo não se vão;  simplesmente se transformam em lendas que, página após página, continuarão a ensinar, emocionar e inspirar.

Pode se dizer que com sua partida o pôr do sol teve a cor do seu cabelo, aquele branco que nos remete à sabedoria dos contadores de histórias.

E enquanto houver um céu para ser pintado, um riso para ser desenhado, um pequeno coração maluquinho para ser conquistado, Ziraldo estará ali, vivo e traquinando.

Adeus, mestre. Obrigado por nos ensinar a leitura das entrelinhas do coração.

Fabrício Correia é escritor, historiador e professor universitário. Preside a Academia Joseense de Letras

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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