ADEUS, CAMILE

Briga por mulher gera guerra entre gangues e termina com morte da inocente Camile

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 5 min
Reprodução / Redes Sociais
A jovem Camile perdeu a vida por estar no lugar errado e na hora errada
A jovem Camile perdeu a vida por estar no lugar errado e na hora errada

Romeu e Julieta às avessas.

Diferente da tragédia de William Shakespeare sobre dois adolescentes apaixonados cuja morte une famílias rivais, a morte da vendedora Camile Santos, 19 anos, em São José dos Campos, teve a paixão entre duas pessoas de grupos rivais como estopim para seu assassinato. Não sobrou nenhum amor.

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A violência que culminou com os tiros que a mataram teve início sete meses antes da sua morte, em um caso de amor que terminou em disputa entre gangues, envolvendo até o PCC (Primeiro Comando da Capital), uma das mais temidas organizações criminosas do país.

A investigação policial mostrou que Camile estava no lugar errado, na hora errada e com a pessoa errada, que era o verdadeiro alvo dos bandidos. Ele sobreviveu ao ataque. A inocente Camile, não.

A vendedora estava dentro do carro atingido por diversos tiros na madrugada de 21 de novembro de 2023, na saída de uma adega na zona sul de São José. Ela tinha conhecido o motorista momentos antes do crime e não era o alvo da tentativa de homicídio, mas acabou atingida na nuca e morreu no hospital.

Desde então, a Delegacia de Homicídios de São José dos Campos empenhou esforços para elucidar o mistério que pairava sobre a morte da vendedora. A primeira descoberta foi que ela não era o alvo dos bandidos, e sim o motorista do carro.

O ALVO.

Pedro Diório da Silva, 19 anos, dirigia o veículo que levava Camile e outra jovem de 20 anos. Os três tinham se encontrado numa casa noturna na região central de São José, naquela mesma noite.

Eles resolveram ir para uma adega na zona sul. Na saída do estabelecimento, o carro foi emparelhado por outro, no semáforo, e baleado com diversos tiros.

Sem ser o alvo da emboscada, Camile foi atingida na nuca, não resistiu aos ferimentos e morreu no hospital. Pedro levou um tiro no pescoço e também foi internado, mas fugiu da unidade de saúde.

Ele foi preso nove dias depois em São Lourenço (MG), em ação conjunta entre as polícias Civil e Militar. A prisão dele começou a jogar luz sobre a urdidura que levou ao assassinato de Camile.

ROMANCE SANGRENTO.

A violência que culminou na morte de Camile começou por uma série de desentendimentos violentos entre grupos rivais e assassinatos por vingança, que nada tiveram a ver com a vendedora.

Tudo começou quando Pedro engatou um relacionamento amoroso com uma jovem da região norte de São José, que morava nos chamados ‘Predinhos do Jaguari’. Ele passou a frequentar o local.

Um homem conhecido como “Piu” disse a Pedro que era o namorado da moça. Ele ameaçou o rival amoroso e proibiu Pedro de retornar ao condomínio. Temendo pela vida do então namorado, a jovem terminou o relacionamento com Pedro.

IRMÃO.

Flávio Diório da Silva, irmão de Pedro, não aceitou a situação e tomou a frente da confusão, decidido a ir com o irmão até o condomínio conversar com Piu e tentar apaziguar a discórdia.

Ao chegarem de carro numa área comum do condomínio, os irmãos foram recebidos a bala. Flávio ainda tentou sair para conversar, mas os tiros o impediram e ele revidou. Ninguém foi atingido no tiroteio, mas o carro dos irmãos foi danificado.

Após a escaramuça, bandidos da área ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) organizaram um “sumário” para discutir a questão entre Piu e Flávio. Nesse “julgamento”, ficou decidido que os irmãos estavam proibidos de frequentar aquela região.

VINGANÇAS.

Na noite de 25 de março do ano passado, Flávio viu o carro do desafeto Piu na zona oeste de São José e resolveu se vingar colocando fogo no veículo.

A ocorrência foi registrada e Flávio virou investigado. Ele disse à polícia que teria feito a “campana” (vigília) para que o irmão Pedro ateasse fogo no carro de Piu.

Identificado no boletim de ocorrência como Lucas Felipe dos Santos Cunha, Piu alegou que não conhecia Flávio, mas resolveu tecer a sua vingança.

Ele reuniu alguns comparsas e começou a ameaçar os irmãos Flávio e Pedro, violência que se concretizou na noite de 21 de abril. Por volta de 22h40, Flávio foi vítima de diversos disparos de arma de fogo, não sobrevivendo aos ferimentos.

CONFLITO.

Para a polícia, o motivo da execução foi o desentendimento que Flávio e Pedro tinham com o grupo de Piu, em razão da malograda tentativa de namoro de Pedro, que prometeu se vingar do irmão assassinado.

Outras duas pessoas foram assassinadas: o próprio Piu e Eder Cesar de Oliveira Coutinho, 37 anos, conhecido como “Oreia”, que tinha passagem criminal por roubo e era investigado pelo homicídio de Flávio.

Piu foi morto numa emboscada também envolvendo um carro, na noite de 18 de agosto. Eder foi morto no final de novembro, de maneira semelhante ao assassinato de Piu. Em ambos os crimes foi usado um carro furtado no pátio de um shopping na zona sul de São José.

Na tentativa de matar Pedro, cujos tiros tiraram a vida de Camile, surgiu mais um capítulo da guerra entre os grupos rivais. Os autores foram identificados pela Polícia Civil. Dois deles foram presos e um está foragido.

PRISÕES.

Neste ano, em 7 de março, a polícia prendeu Ítalo Henrique Martins Luiz, 22 anos. Ele tinha uma prisão preventiva decretada pela Justiça no inquérito que apurava a morte de Flávio.

O segundo matador foi preso no bairro Vila Unidos, na região norte de São José, na manhã de quinta-feira (4). Kauã Messias de Souza, 18 anos, também tinha um decreto de prisão preventiva contra si.

A polícia agora procura o terceiro envolvido na morte de Camile. A Justiça decretou a prisão preventiva de Caíque Ferreira dos Santos, 22 anos, que está foragido.

Informações sobre o paradeiro dele podem ser repassadas de forma anônima, pelo telefone 197 ou pelo WhatsApp (12) 98108-7510.

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