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FRAN GALVÃO
O que vestimos não é um convite!
É comum escutarmos que nosso estilo, nossa imagem, nossas roupas podem ser motivo ao convite do machismo e da violência
Por Fran Galvão | 02/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min
Consultora de imagem e estilo
Divulgação
Quando falamos de estilo pessoal, imagem, look do dia etc., falamos sobre personalidade, sobre rotina, sobre hábito, sobre expressão. Falamos sobre ousar, sobre descobertas, sobre significado. Falamos sobre autoestima e autoconhecimento. E que especial falar sobre isso na semana do dia das mulheres. Será mesmo?
O Dia Internacional da Mulher é uma data que foi oficializada pela Organização das Nações Unidas na década de 1970. Ela simboliza a luta histórica das mulheres para terem suas condições equiparadas às dos homens. Inicialmente, essa data remetia à reivindicação por igualdade salarial, mas, atualmente vai além, simboliza a luta das mulheres não apenas contra a desigualdade salarial, mas também contra o machismo e a violência.
Mas, desde a oficialização da data até hoje, é comum escutarmos que nosso estilo, nossa imagem, nossas roupas podem ser motivo ao convite do machismo e da violência - uma objetificação do corpo feminino que permanece e se amplia.
Ainda ressoa em minha cabeça uma pesquisa do IPEA sobre “Tolerância Social à Violência contra as Mulheres”. O estudo revelou que 58% dos entrevistados concordaram, total ou parcialmente, que “se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros” e que mais de 40% das pessoas também concordaram, no todo ou em parte, que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.
De lá pra cá, esses números pouco sofreram alteração, ficando evidente que a maioria das pessoas continua a culpabilizar a vítima da violência sexual, seja pela roupa “provocante”, seja por não se comportar adequadamente. Sem dúvida um grande alerta a ser levantado.
“As condições sociais da mulher e suas lutas estiveram representadas na indumentária e no vestuário. Por muito tempo as roupas femininas foram usadas como ferramenta de controle social e exibicionismo masculino. Enquanto os homens faziam uso de vestimentas que possibilitavam que seus movimentos fossem livres, as mulheres eram limitadas ao desconforto e a impossibilidades. Uma das peças femininas mais conhecidas e discutidas da indumentária por seu poder de imobilizar a mulher foi o espartilho. A dificultosa e apertada estrutura dos espartilhos, favoreciam os maridos a realizarem amarrações que os permitissem detectar possíveis traições” (citação de Sueli Garcia, texto de 2011).
Seria nossa roupa um álibi? O não a essa resposta é fácil de dizer em alto e bom som pra mim, para algumas de vocês, mas infelizmente não é para todas. Percebo isso através das interações que tenho através das redes – também junto à clientes e alunas do Estilize-se – e reforço o titulo dessa coluna, “o que vestimos não é um convite”
O que vestimos é, sim, parte importante da nossa comunicação não verbal, diz muito sobre nós. Através dela é possível revelarmos nossa identidade pessoal e profissional, evidenciarmos o simbolismo de uma geração, o espirito do tempo, a transparência de nosso lugar sociocultural. Mas não é um convite!
A pergunta que quero deixar finalizando esse texto, é o quanto cada uma de nós fazemos nossa parte reforçando esse coro de que nossa roupa não é um convite? O quanto ainda consciente ou inconscientemente (sendo bem boazinha aqui) apontamos dedos e tecemos comentários a outras mulheres baseado na roupa que ela usa? Para refletirmos!!
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