ENTREVISTA

Droga Zumbi se espalha por São José e efeitos podem até matar, aponta delegado da Dise

Droga é feita com sustâncias sintéticas e vicia 100 vezes mais do que maconha

Por Xandu Alves | 29/02/2024 | Tempo de leitura: 4 min
São José dos Campos

Divulgação

Apreensão de drogas, entre elas a K9 ou spice, em São José dos Campos
Apreensão de drogas, entre elas a K9 ou spice, em São José dos Campos

As drogas sintéticas chamadas de K (K2, K4, K9) ou spice estão se espalhando pelas biqueiras de São José dos Campos e colocam a polícia em alerta, em razão do alto poder viciante e destrutivo das substâncias.

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São drogas sintéticas desenvolvidas com o intuito de reproduzir os efeitos do THC (tetrahidrocanabinol), o princípio ativo da maconha. Elas surgiram em laboratórios no início dos anos 2000 e são até 100 vezes mais potentes do que a maconha.

Usando apenas uma vez, o usuário fica entorpecido e completamente fora da realidade, inclusive com a perda dos sentidos, por isso a imagem de que ele vira um “zumbi” após o uso da droga, de acordo com especialistas na área médica.

“A pessoa fica altamente alienada, não consegue concatenar o pensamento”, disse Marcelo Augusto Boccardo Paes, delegado da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) de São José dos Campos.

“Ela faz o consumo, senta no canto e fica meio que largada ali, como se fosse só um pedaço de carne até os efeitos pararem. Infelizmente, a pessoa fica nesse efeito negativo. Você olha para o olho dela e parece que ela não está olhando para lugar nenhum”, completa o policial, que vai completar um ano em São José. Antes, ele chefiou a Dise em Taubaté.

APREENSÕES.

Segundo Paes, a droga K tem aparecido mais em São José. “Já fizemos apreensões desde meados do ano passado, aqui em São José. Não é muito comum, mas tem aumentado a frequência nas biqueiras espalhadas pela cidade. Não é nada para causar pânico, mas para ficar alerta”.

O motivo do aumento, na avaliação do delegado, é o alto poder viciante da droga K. “Acabou pegando com rapidez os usuários em razão do alto nível de dependência. Basta a pessoa fazer a utilização de uma única vez e o usuário acaba ficando dependente da substância”.

Ou seja, tal poder de viciar serve quase como uma “ferramenta de mercado”, com os traficantes “prendendo” os consumidores nesse círculo vicioso do consumo da droga K.

“Isso é um fator que aproxima o traficante do destinatário final. Ele mantém sempre a clientela viciada, e automaticamente fazendo a compra da substância ilícita”, disse Paes.

ZUMBI.

Por outro lado, segundo ele, os próprios traficantes identificaram que o alto poder da droga de causar efeitos colaterais pode reduzir o número de consumidores, por causa dos severos efeitos que as substâncias produzem no organismo.

“São psicoativos fortes e a pessoa acaba virando quase como um zumbi. Então, em vez de fazer a compra, em algumas pessoas [a droga] afeta o cérebro, a saúde e pode levar até ao óbito”.

“A medicina fala desse efeito que causa agitação, ansiedade, e algumas pessoas com doenças e em outras um ataque cardíaco, pode realmente dar uma parada cardíaca, além de náuseas, vômitos. É como se fosse usuário de crack, que é uma droga feita com substâncias mais podres do resto da cocaína”, explicou o delegado da Dise.

SUBSTÂNCIAS.

Por causa dos efeitos devastadores das drogas K, a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) chegou a proibir seu consumo na região da Cracolândia, no centro de São Paulo.

Entre as substâncias encontradas nas drogas K, estão a quetamina (de uso veterinário), o fentanil (opioide utilizado para combater dores), que pode ser fatal se usado fora do ambiente hospitalar, e ainda ácido sulfúrico.

A mistura é borrifada em tabaco, ou mesmo em maconha velha, e vendida como canabinoide sintético, mesmo não tendo nenhum indício da presença deste tipo de molécula na composição.

LABORATÓRIOS.

As drogas K são feitas em laboratórios clandestinos e há traficantes que usam borrifadores para potencializar as drogas, e automaticamente aumentar esse nível de dependência do usuário.

“Alguns bandidos usavam borrifadores para potencializar as drogas e aumentar esse nível. O formato dela é como se fosse uma porção de maconha granulada, cortada em pedaços pequenos. Ela tem um aspecto de ferragem, vendida normalmente em envelope. Ela tem um odor característico de anis. Então, essas drogas têm também esse odor bem característico, de cheirar um pouco como anis, são perfumadas”, disse Paes.

Segundo o delegado, ainda não foram localizados laboratórios clandestinos de spice em São José. “Conseguimos fazer a apreensão delas nas biqueiras ou nas famosas casas-bombas, que são usadas para armazenamento de drogas e posterior distribuição no ponto de venda na rua”.

USUÁRIOS.

Paes disse que não há um perfil único de usuários de drogas K, segundo a observação da polícia nas ruas de São José.

“Não tem um perfil único dos usuários. Temos visto aumentar o número de pessoas cada vez mais novas fazendo o consumo, mas também cada vez mais idosos fazendo o consumo de todos os tipos de drogas”, afirmou.

Segundo o delegado, crack e spice são drogas que fogem um pouco do público mais elitizado, que prefere maconha e cocaína e outros tipos de drogas sintéticas, comumente usadas em raves (festas que duram várias horas ou dias), como haxixe e LSD.

A Secretaria de Saúde de São José dos Campos informou que o Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) ainda não tem registro de atendimento a usuários das drogas K na cidade.

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