SONHO DE FILHA

Foto é a única esperança de filha que sonha reencontrar a mãe após 38 anos; COMPARTILHE

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação
Ivanda Aparecida Tozatti em foto de 1985, única lembrança que Elizabeth tem da mãe
Ivanda Aparecida Tozatti em foto de 1985, única lembrança que Elizabeth tem da mãe

A Mona Lisa de Elizabeth.

O enigmático sorriso da mais notável obra de Leonardo da Vinci (1452-1519), o quadro Mona Lisa (A Gioconda), aparece, por coincidência, no rosto de uma mulher em uma foto esmaecida de 1985, tirada no interior do Paraná. A foto é, ao mesmo tempo, um tesouro e um mistério, o cordão umbilical da esperança de uma filha que sonha reencontrar a mãe.

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Na imagem, a mulher está em pé com um vestido simples, em meio a flores e com uma casa nos fundos. Seus lábios estão contraídos, a exemplo do clássico renascentista.

E assim como o quadro de Da Vinci, recheado de mistérios, a foto é um dos maiores tesouros de Elizabeth Tozatti, 42 anos, cozinheira e mãe de uma filha de 19 anos.

CLIQUE AQUI para ver o vídeo de Elizabeth Tozatti sobre a mãe desaparecida

RETRATO

É o único retrato que ela tem da mãe, Ivanda Aparecida Tozatti, que abandonou a família em 1985 para nunca mais voltar. Elizabeth tinha quatro anos quando viu a mãe biológica pela última vez. Desde então, o paradeiro de Ivanda é um mistério.

Segundo Elizabeth, a mãe e o pai tinham 16 anos quando a tiveram. Ambos são nascidos em 1965 e têm atualmente 58 anos – caso a mãe esteja viva.

Elizabeth nasceu em Ivaiporã, no interior do Paraná, em 1981. A mãe morou com a família por quatro anos e foi embora em 1985. Elizabeth não sabe o motivo e diz que o pai pouco fala no assunto, nem antes e nem agora. “É um tabu para ele”, disse a cozinheira.


PROCURA

O pai casou-se novamente e Elizabeth tem duas meias-irmãs. A vida continuou para a família e, após se casar, ela se mudou para Cubatão (SP) em 2006, onde mora atualmente com a filha Emily. Ela conta que começou a procurar pela mãe por volta de 2014, incentivada pela filha.

“Eu sempre me interessei pela história, mas não tinha coragem de fazer uma busca. Não sei se é mágoa, orgulho, medo de magoar o meu pai, porque sempre foi um tabu para ele a história da minha mãe, foi difícil para ele”, admite Elizabeth.

Convencida pela filha, porém, ela resolveu procurar pela mãe. “Depois de adulta, e minha filha me cobrou bastante, resolvi procurar a minha mãe, saber a história dela e ver como está”.

Elizabeth fez uma postagem em seu perfil no Facebook, em abril de 2022, relatando a sua história e pedindo informações sobre a mãe para quem pudesse ajudá-la. Recebeu inúmeras demonstrações de carinho e incentivo em continuar a pesquisa, mas nenhuma informação valiosa.

“Talvez nunca a encontre,talvez ela não queira ser encontrada. Mas, pode ser que ela também esteja vivendo essa espera, por isso quero deixar registrado”, escreveu ela na postagem. O intuito é mostrar para a mãe, caso um dia ela veja, que a filha a estava procurando.

DOCUMENTO

Elizabeth conseguiu o registro de nascimento da mãe e encontrou uma irmã dela. A tia esteve em Cubatão e conversou com a sobrinha, mas também não tinha notícias da irmã. A tia faleceu anos atrás.

Segundo Elizabeth, a mãe viveu numa família dividida como ela própria, sendo criada pelo pai e sem contato com irmãs e outros parentes. Quando se tornou mãe, repetiu o gesto e foi embora de casa, abandonando o marido e a filha pequena.

“No Brasil, fiz todas as buscas possíveis que poderia fazer, como em cartório eleitoral, Receita Federal e não consta nenhum registro com o nome dela. Ela deve estar em outro país ou pode ter mudado de nome”, afirma Elizabeth.

A cozinheira acredita que a mãe possa estar vivendo no exterior. Ela conta que descobriu informações de que Ivanda teria ido para as cidades paranaenses de Cascavel e Marechal Cândido Rondon, perto da divisa do Paraná com o Paraguai.

“Não posso afirmar isso, não sei se é verdade. Ele [pai] fala que ela teria ido embora para o Paraguai com um grupo de ciganos. Se está viva, acredito que esteja por aquelas bandas de lá”, diz Elizabeth.

ACERTO DE CONTAS

Não há espírito de revanche ou de vingança na intenção de Elizabeth em encontrar a mãe depois de 38 anos. Há uma tentativa de acertar as contas com a própria história e colocar ponto final num vazio que ficou em seu coração.

“Há dois lados: não sei se ela me rejeitou ou se foi embora por outro motivo, não podendo voltar. Por isso, quero saber a verdade. Isso me traria paz e preencheria o vazio. Seja qual for a resposta, colocaria ponto final.”

Se e quando reencontrar a mãe, Elizabeth diz que estará com o coração e os braços abertos para recebê-la e confortá-la.

“Não tenho mágoa, rancor, isso não faz parte da minha vida. Quero que a gente consiga ter uma convivência. Ela saber que tem uma neta que a quer conhecer. Mas sou muito emotiva e vou chorar bastante se a encontrá-la”, diz a cozinheira.

Com a sua Mona Lisa nas mãos, a foto desbotada de Ivanda, Elizabeth persegue o sonho de ver abrir o sorriso enigmático da mãe na pintura, mas desta vez ao vivo e em cores vibrantes. As cores da esperança.


VÍDEO

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