INDÚSTRIA

Crise na indústria: Vale perde 24% dos trabalhadores em montadoras em menos de 3 anos

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação
Linha de produção da GM em São José
Linha de produção da GM em São José

A linha de produção de desempregados.

Nos últimos dois anos e quatro meses, o Vale do Paraíba acompanhou a demissão de mais de 2.100 trabalhadores da indústria automotiva, que já foi uma das maiores empregadoras da região.

O número de contratos desligados representou 24% da força de trabalho total das montadoras instaladas na RMVale no período. Em média, dois funcionários do setor foram demitidos por dia.

A recente crise na General Motors em São José dos Campos é mais um capítulo do filme de terror que se abateu sobre as montadoras, que estão entre os maiores alvos do processo de desindustrialização pelo qual passa o Brasil há mais de uma década.

No último sábado (21), por telegrama e email, a GM comunicou cerca de 800 trabalhadores da fábrica de São José dos Campos que eles seriam desligados. Entraram na lista desde mulheres grávidas a metalúrgicos com casos de câncer na família (leia texto na página 4).

O Sindicato dos Metalúrgicos reagiu e convocou uma greve na unidade, aprovada pelos trabalhadores. A entidade fez protestos ao longo da semana e mirou na montadora e nos governos federal e estadual, cobrando intervenção. Na sexta-feira (27), sindicato e GM teriam a primeira reunião após os cortes.

Os trabalhadores demitidos da GM entram numa longa lista de infortúnios que se abateram sobre o setor automotivo no Vale.

A crise começou a se agravar em 2021, em plena pandemia da Covid-19, quando a Ford anunciou que estava fechando as portas da fábrica de Taubaté. O fechamento ocorreu no primeiro semestre daquele ano, com cerca de 830 demissões.

Em maio de 2022, foi a vez da montadora Caoa Chery anunciar a paralisação da produção na fábrica de Jacareí. As linhas ficarão paradas ao menos até 2025 e só devem ser retomadas para a fabricação de veículos elétricos, mercado ainda com pouca escala no país (leia mais sobre veículos elétricos nas páginas 12 e 13).

A Volkswagen de Taubaté, com cerca de 3.100 trabalhadores, adotou medidas como layoff (suspensão temporária do contrato de trabalho) e férias coletivas, além de paradas da produção em razão de falta de peças, para não ter que demitir.

“O resultado [das montadoras] no Vale do Paraíba é consequência desse processo de desindustrialização em curso. Não é necessariamente resultado de uma política local, e sim de uma política nacional. Por outro lado, regiões do país ligadas ao setor agrícola têm avançado bastante”, afirmou o economista e professor da Unitau (Universidade de Taubaté), Edson Trajano (leia mais nesta página).

GM

A fábrica da GM em São José é um dos exemplos da redução de empregados do setor na região. O complexo industrial da montadora perdeu 74% da mão de obra nos últimos 23 anos, segundo dados do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).

A montadora empregava 12,5 mil trabalhadores na cidade no início dos anos 2000, número que caiu para 3.200 atualmente – já descontadas as 800 demissões da última semana.

Com isso, a produção da empresa também reduziu nas últimas duas décadas, mesmo conseguindo ser mais eficiente.

No final de 2013, a GM desativou o setor MVA (Montagem de Veículos Automotores) em São José, onde eram fabricados os modelos Zafira, Meriva, Corsa Hatch, Corsa Sedan e Classic, estes dois últimos entre os vendidos do país.

Na ocasião, foram demitidos 1.053 trabalhadores. O setor chegou a ter pico de 2.000 empregados. Hoje, a empresa monta apenas modelos da picape S10 e do SUV Trailblazer em São José.

Na portaria da GM de São José, um varal com uniformes de metalúrgicos da fábrica traz frases de protesto contra os cortes.

“O varal simboliza a luta em defesa dos empregos e chama a atenção da sociedade para que todos se unam a essa mobilização”, disse Valmir Mariano, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos.

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