Em texto publicado na internet, em seu perfil no Linkedin, o reitor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Anderson Correia, fez duras críticas à baixa qualidade de congressos acadêmicos.
Segundo ele, os eventos têm se tornado repetitivos, sem novidades e caros demais, atendendo mais a interesses individuais do que à coletividade e ao avanço da ciência.
“Desculpem a franqueza, mas eu não tenho mais paciência para participar de muitos congressos acadêmicos, tanto no Brasil, quanto no exterior”, escreveu o reitor.
“Honestamente, não vejo vantagem em permanecer 3, 4 ou 5 dias assistindo palestras de baixa qualidade, sem nenhuma inovação científica ou tecnológica. Não trazem mais nada disruptivo e a maioria dos papers é repetição de anos anteriores, trocando as equações, alguns dados e fazendo novos estudos de caso que não interessam a ninguém.”
FEUDOS
Correia também criticou sociedades científicas que se tornaram “feudos” geridos por poucos professores.
“Muitas sociedades científicas tem se tornado feudos de meia dúzia de professores de universidades, que se revezam a cada biênio na diretoria, por décadas a fio. Quando esgotam as possibilidades, os mesmos figurões reassumem a presidência. São irrelevantes do ponto de vista de representatividade”, disse o cientista.
Ele ainda questionou a baixa participação de empresas em sociedades e congressos, o que seria danoso para a ciência do país.
“As empresas passam ao largo destas sociedades e congressos. Os acadêmicos só vão atrás delas quando precisam de patrocínio e dão 3 minutos na abertura para dar uma palavra e passar um vídeo institucional. Aliás, o desinteresse das empresas pelos congressos demonstra que não conseguem ver potencial em muitas das pesquisas. Porque não convidam as empresas para avaliarem os artigos acadêmicos?”, questionou Correia.
EVENTOS CAROS
O reitor do ITA disse que os eventos têm se tornado “extremamente caros” e que, se realizados no exterior, cada professor ou aluno que queira participar não irá gastar menos do que R$ 20 mil.
“As inscrições têm ficado muito elevadas, com valores em dólares e euros. Tenho visto muitas sociedades juntarem eventos na sequência, onde os participantes tem estendido idas ao exterior totalizando até 2 semanas fora, fazendo com que os custos explodam, a maioria com recursos públicos.”
Correia questionou a contrapartida que esses eventos trazem para a ciência e a sociedade, em forma de novas ideais e projetos.
“Quantas dessas pesquisas de congressos tem gerado patentes, inovações disruptivas, novas empresas, negócios de sucesso, ou até mesmo soluções para a melhoria de nossa sociedade, educação e saúde. E o pior é que muitos eventos não tem mais serventia nem mesmo para aprimoramento dos trabalhos. Tenho visto gente gastar uma fortuna para apresentar um trabalho e ao final não receber quase nada de bons comentários, críticas construtivas e novas ideias. Parece que as sessões científicas tem se tornado rodas de autobajulação.”
SOCIEDADE
Por fim, Correia questionou a justificativa de se participar de congressos para fazer ‘networking’.
“Muito bem, mas porque então a cooperação do Brasil com universidades internacionais é baixíssima? Mesmo dentro do Brasil, não temos muita cooperação entre as universidades. De que adianta participar de churrascos, coquetéis, happy-hours com os professores internacionais e depois não desenvolver os projetos concretos e não estabelecer as parcerias, inclusive trazendo recursos estrangeiros para complementar as verbas da CAPES e do CNPq? E ainda somos poucos citados internacionalmente.”
E completou: “Precisamos rever o financiamento destas atividades, cobrando resultados concretos, impactos na sociedade e exigindo parcerias internacionais relevantes. Os recursos públicos precisam ser melhor utilizados”.