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Missão Ucrânia: professor de São José quase é preso ao tentar entrar na Rússia

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação / Victor França
Professor posa em cima de tanque destruído em praça de Kiev
Professor posa em cima de tanque destruído em praça de Kiev

Após duas semanas na Ucrânia, o professor Victor França, de São José dos Campos, tentou ir para a Rússia pela Finlândia e depois por uma cidade no norte da Polônia, de ônibus, munido de carta do Consulado, com convite de pessoas que moram lá, com reserva do hotel e passagem de volta. “Eu estava todo ‘armado’ para não dar problema”.

Mas deu, e foi o pior drama da viagem do joseense, confundido com um espião.

“Eles não me deixaram entrar e eu fiquei 12 horas na fronteira, porque eles queriam fazer um mapeamento da minha vida no Brasil e durante a passagem pela Ucrânia. Fizeram uma série de perguntas, porque eles acharam que eu era algum tipo de espião”.

“Esse foi o momento mais dramático da viagem porque, como professor de sociologia, eu sei que a Rússia é um dos países que mais encarceram no mundo”, admitiu o professor.

“Os policiais de imigração pediram para o ônibus seguir viagem sem mim. Praticamente ninguém falava inglês. Você não tem turista tentando ingressar na Rússia. Provavelmente por isso eles dispensaram algum tipo de tradutor.”

França conta que havia uma ucraniana no ônibus que conseguiu entrar na Rússia, ao contrário dele. Foi mais uma lição aprendida: os dois países têm muito em comum.

“Eles têm nomes russos, monumentos históricos, pontos turísticos, muitas estátuas retratando amizade entre russos e ucranianos, lá tem um arco de metal enorme que é o arco da aliança, o arco da amizade, monumento para comemorar a amizade entre Rússia e Ucrânia”, disse o professor.

“Ali eu entendi que existe uma simbiose que nós aqui no Brasil não sabemos. Dizem por aqui que é uma guerra de nada contra nada, mas não é bem assim, porque existia uma união, uma questão de unha e carne muito intensa.”

De volta à fronteira, França teve o celular tomado e ficou umas oito horas sem o aparelho. Inspecionaram tudo no celular dele: fotos, vídeos e documentos. Também confiscaram o passaporte e ele teve que assinar uma série de documentos em russo.

“Eu fiquei muito aflito e sem comer, sem tomar água, sem nada. Como eu estava no país que é campeão de encarceramento, pensei que era uma possibilidade [de eu ser preso]. Ninguém falava inglês. Tinha um policial que não estava fardado, ele estava de tênis, calça jeans e camiseta e sabia uma ou outra palavra em inglês. A maior parte da comunicação foi via Google Tradutor.”

“Não teve nada de agressão física, mas era um assédio, uma violência, uma coação muito forte, uma brutalidade muito forte. Era uma cólera muito grande da parte deles.”

O drama de França foi tanto que, o ônibus em que ele veio já estava voltando, indo para a Polônia, e ele ainda estava detido na fronteira. “O motorista me viu lá e levou um susto muito grande”.

No momento de os passageiros passarem pelo detector de metais, o policial perguntou quem falava inglês e apareceu uma mulher, que traduziu para o joseense: “Você não vai entrar na Rússia e vai nesse ônibus de volta para a Polônia”.

Dos males, o menor.

“Ela me pediu desculpa e disse que poderia ter sido bem pior. Ela me tranquilizou e falou que era uma bela cidade e quem sabe da próxima vez. Os policiais encaminharam para o ônibus e havia umas cinco pessoas lá. Eram ucranianos, pessoas bem jovens, de no máximo 30 a 40 anos. E aí voltamos.”

Na Praça da Independência da Ucrânia, França comprou uma bandeirinha do país e desenhou a bandeira do Brasil e escreveu uma frase de apoio.

“Continuo tendo solidariedade ao povo ucraniano, que tem as maiores baixas, o lado que está morrendo no conflito. Praticamente você tem mais de 210 mil mortes e a maioria esmagadora do lado ucraniano.”

Victor França na Ucrânia
Victor França na Ucrânia
Vista da cidade da janela do hotel em Kiev
Vista da cidade da janela do hotel em Kiev
Arco da amizade entre russos e ucranianos
Arco da amizade entre russos e ucranianos

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