O mistério da montanha.
Na manhã de 8 de junho de 1985, um sábado, um grupo de quatro escoteiros de 15 anos e um líder de 36 anos, todos de São Paulo, partiu do acampamento para tentar alcançar o cume do Pico dos Marins, em Piquete, a 2.420 metros.
No meio do caminho, a 1.700 metros, um dos garotos torceu o pé, por volta de 14h. O líder autorizou que o escoteiro Marco Aurélio Simon voltasse sozinho para pedir ajuda, enquanto os demais levavam o rapaz machucado.
O grupo se perdeu e só chegou ao acampamento às 5h de domingo. Lá estava a mochila de Marco Aurélio, mas não o adolescente. Desde então, ele nunca mais foi visto na face da Terra, vivo ou morto.
Após meses de buscas e cinco anos de investigação, o inquérito foi arquivado em abril de 1990, sem que nenhum vestígio de Marco Aurélio tenha sido encontrado.
Em junho de 2021, após novas informações que poderiam levar a locais em que o corpo do escoteiro pudesse estar enterrado, a Polícia Civil reabriu o caso com ordem judicial. Mas também nada foi localizado.
Agora, 38 anos depois do desaparecimento de Marco Aurélio em Piquete, a Polícia Civil do Vale do Paraíba tenta novamente desvendar um dos maiores mistérios do mundo.
A investigação foi retomada em 18 de setembro com a utilização de equipamentos tecnológicos e peritos do setor de Antropologia e Odontologia Legal do IC (Instituto de Criminalística) e do IML (Instituto Médico Legal).
INVESTIGAÇÃO
Cinco novos pontos foram identificados no Pico dos Marins como possíveis locais que tenham ossos enterrados. Eles foram indicados após o sobrevoo de um drone, capaz de ‘enxergar’ materiais em uma grande profundidade.
Com ajuda de GPS, a Polícia Civil mapeou os cinco pontos e montou uma força-tarefa para investigá-los, com peritos do setor de arqueologia do IC (Instituto de Criminalística) de São Paulo, do IML e do Corpo de Bombeiros.
Nessa última semana, os profissionais recolheram dezenas de materiais nesses pontos para tentar localizar fragmentos de ossos, que podem estar esmigalhados em razão do processo de decomposição.
OSSOS
As amostras coletadas estão sendo encaminhadas para o IC na capital, que vai analisar se o material se trata de ossada humana. Se o resultado for positivo, serão realizados exames de DNA para identificar se os ossos pertencem a Marco Aurélio.
“É um trabalho extremamente demorado e muito técnico. O local precisa ser preparado para que os peritos possam fazer o seu trabalho”, disse Marcelo Cavalcante, delegado responsável por essa nova fase da investigação.
“Há um drone que usa inteligência artificial e que foi programado para procurar covas com ossos. Ele subiu e fez um escaneamento da área no Pico dos Marins e identificou cinco pontos que foram detectados, onde poderíamos ter uma cova com ossos. Foi feito mapeamento de GPS nessas áreas e deflagrada essa nova fase”, explicou o delegado.
Cavalcante explicou que os peritos do IC e do IML vão realizar um pente fino no material coletado, para verificar se existe alguma maneira de se comprovar o encontro de ossos de Marco Aurélio em um desses cinco pontos.
"Não sei como vai ser o desenvolvimento das atividades. Eles usam peneira, roupa própria para a coleta e essa fase de trabalho é muito técnica e muito tecnológica, podendo demorar mais do que o esperado", afirmou o delegado.
A previsão inicial era de que a operação levasse cinco dias, mas o prazo deverá ser estendido para uma nova etapa de pesquisa.
Até o momento, segundo informações da investigação, nenhum fragmento de osso foi encontrado na montanha. Alguma pista poderá vir da análise do material coletado.
Ivo Simon, pai do escoteiro, disse que a nova investigação reacende a esperança e a angústia da família com o caso.