EDITORIAL

Um silêncio que grita

Bolsonaro diz muito ao se manter em silêncio durante o depoimento no inquérito sobre as negociações de joias

02/09/2023 | Tempo de leitura: 2 min
da Redação

A principal característica de Jair Bolsonaro sempre foi a verborragia. Após anos e mais anos de uma atuação parlamentar pífia e sem qualquer brilho, o militar reformado caiu de paraquedas no noticiário nacional e nos programas de TV pelo simples fato de ser um falastrão.

Anos antes da eleição de 2018, Bolsonaro não desperdiçava nenhuma chance de aparecer em qualquer programa de auditório ou de humor para disparar sua metralhadora verbal, sempre carregada de ódio, preconceito e polêmicas.

Foi assim que, mesmo antes de chegar ao Palácio do Planalto, ele já era conhecido por frases como “o erro da ditadura foi torturar e não matar”, “eu sou favorável à tortura”, “vamos fuzilar a petralhada”, “a PM tinha que ter matado mil [no Carandiru]”, “as minorias têm que se curvar às maiorias”, “eu jamais ia estuprar você porque você não merece”, “prefiro que [um filho] morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”, entre outros absurdos que saíram de sua boca.

Após quatro anos de um governo trágico, de se tornar o primeiro presidente do país derrotado em uma tentativa de reeleição e de ver naufragar seu plano golpista para se manter no poder, um Bolsonaro diferente apareceu na última quinta-feira para prestar depoimento à Polícia Federal. Conhecido por ser falador, o agora ex-presidente ficou em silêncio. Por orientação de seus advogados, não respondeu nenhuma pergunta sobre a negociação ilegal de presentes luxuosos recebidos pelo governo brasileiro.

A mesma estratégia foi seguida pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, por Fábio Wajngarten (ex-chefe da comunicação do governo) e pelo militar Marcelo Câmara (ex-assessor especial). Outros quatro investigados falaram: Mauro Cid (ex-ajudante de ordens), Mauro Lourena Cid (pai do ex-ajudante de ordens e colega de Bolsonaro no período militar), Frederick Wassef (advogado da família do ex-presidente) e Osmar Crivellati (ex-assessor). Mauro Cid e Crivellati, aliás, pretendem colaborar com as investigações e devem admitir as infrações cometidas.

O silêncio de Bolsonaro, nesse caso, é simbólico. Grita. Para quem chegou à presidência dizendo que iria combater a corrupção, se manter calado diante de acusações tão graves diz muito.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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