ENTREVISTA

‘Preciso cruzar a vocação das cidades com a ambição dos empresários’, diz Jorge Lima

Em entrevista exclusiva a OVALE, secretário de Desenvolvimento Econômico de São Paulo aponta as metas para o crescimento econômico

Por Xandu Alves | 13/08/2023 | Tempo de leitura: 6 min
São José dos Campos

Xandu Alves / OVALE

Jorge Lima conversa com empresários do Vale do Paraíba
Jorge Lima conversa com empresários do Vale do Paraíba

A meta da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo é cruzar a vocação das cidades do estado com a ambição dos empresários, e fazer surgir daí novos negócios e oportunidades de geração de emprego e renda.

O ponto chave é a Coalizão Empresarial, grupo que vem sendo criado em todas as regiões administrativas do estado para ser um ponto de contato com o governo. Na última quarta-feira (9), foi a vez de a RMVale ganhar a sua coalizão.

“Preciso entender e cruzar a vocação da cidade com a ambição dos empresários, seja de multinacionais, pequenos, médios e grandes. Quando enxergamos isso, conseguimos alocar recursos e o esforço é muito mais objetivo”, disse o secretário Jorge Lima a OVALE. Confira.

Por que o governo está criando a Coalizão Empresarial em todo estado?

A diretriz do governador Tarcísio de Freitas é a de desenvolver São Paulo como um todo. Se fosse um país, o estado seria a 21ª economia do mundo. Mas quando se olha o PIB interno vê-se um desequilíbrio muito forte: 81% do PIB está em quatro regiões, incluindo a RMVale. E, dentro do Vale, três cidades dominam 55% do PIB: São José dos Campos, Taubaté e Jacareí. Temos que desenvolver a região e, dentro dela, as pequenas cidades. Temos que achar a vocação delas.

Qual a proposta?

Já fui em 148 cidades do estado em seis meses e a meta é visitar todas. Vamos usar as nossas alavancas adequadas para o desenvolvimento. Tem coisas que estão comigo e outras com meio ambiente, governo digital e outras secretarias. Esse grupo tem foco na geração de emprego, renda e desenvolvimento.

Como participa a iniciativa privada?

O dinheiro está nas empresas. Quando enxergamos aonde eles estão e quais são os processos, começamos a destravar os investimentos. Em seis meses, trouxemos R$ 177 bilhões e atingindo 98 cidades das 142 acima de 100 mil. O plano está dando certo. Agora, essa participação é fundamental. Preciso entender e cruzar a vocação da cidade com a ambição dos empresários. Seja de multinacionais, empresários locais e de pequenos, médios e grandes. Quando enxergamos isso, conseguimos alocar recursos e o esforço é muito mais objetivo do que ficar tentando adivinhar lá em São Paulo.

Como vai funcionar a Coalizão?

A ideia é ter uma por região administrativa. Mas há lugares que, por eficiência, devemos ter mais de uma. Devemos chegar a 22 grupos. Há grupos que estão na terceira reunião. Cria-se a coalizão e eles têm de 30 a 45 dias para se reunir, normalmente liderados pelo Ciesp, porque indústria puxa comércio e serviços. Com isso, começamos a delinear o prazo curto, médio e longo. Faz-se o arcabouço e vamos deixar num sistema, para que fique disponível para qualquer pessoa.

Na prática, como o grupo vai operar depois de criado?

Teremos um ciclo de uma reunião a cada três meses, quatro por ano, nas quais a gente faz o plano e dá satisfação do andamento dele, o que deu certo e o que não deu. Nesse meio tempo, também podem entrar outras propostas. O grande desafio é trazer empresários que representem toda a região. Pequenas cidades podem ser representadas em um consórcio. Preciso atender 100% das cidades daquela região. No Vale, temos 39 cidades e preciso convencer todas a participar, e esse desafio é dos empresários também.

A maior indústria das cidades pequenas é o turismo. Como vê a importância dessa área?

Temos parceria muito forte com a Secretaria de Turismo. Tem dois lados. Turismo tem que ser considerado um negócio. Tem uma parte econômica do turismo que as duas secretarias estão fazendo. É uma solução, assim como a agricultura cooperativada e a economia circular. Tem um modelo japonês que gostamos muito que é fazer com que as empresas comprem de fornecedores dentro de um raio de 50 km. Desenvolve o local e dá muito certo, gera emprego, ganha logística e tempo. Temos que fazer isso para todos os setores. É esse conjunto de soluções que tenho que trazer para os empresários.

A desburocratização faz parte dos planos?

Estamos com uma equipe de desburocratização liderada pelo Caio Andrade, que é fora da curva. A pegada do governador é fazer. Ideia é abrir empresa em 24 horas e depois em 8 horas. Quero atingir essa meta em dois anos. Não tem jeito de no mundo moderno você não ser digital. Temos que avançar nessa cadeia. Estou muito otimista com isso. Nas cidades pequenas, isso é sobrevivência. O custo de arrecadação é baixo em relação ao que tem que gerar. Tem que ir para um modelo de conectividade, economia circular e digitalização. São Paulo tem 645 cidades e 503 abaixo de 50 mil, 117 de 20 mil a 50 mil, 386 abaixo de 20 mil e 150 abaixo de 5.000. Tem que ter esse olhar de facilitar a vida deles.

Como vê a instalação da fábrica do carro voador em Taubaté?

Brinco com o pessoal da Embraer dizendo que é meu filho. É o projeto da Embraer que sou mais apaixonado. Fiquei muito feliz de a empresa ter dado esse voto de confiança para São Paulo, porque o Rio de Janeiro estava na disputa. A Embraer entendeu a parceria. Envolvemos secretarias, a Desenvolve SP e teve participação da Prefeitura de Taubaté, que nos ajudou muito. Estou extremamente feliz pela decisão da Embraer, que terá R$ 500 milhões de investimento na primeira etapa. Acho esse projeto maravilhoso.

É a primeira vez que o Brasil tem um produto que está na fronteira tecnológica. Qual a importância disso?

Acho isso muito importante. Na verdade, estamos descobrindo São Paulo. Temos municípios que estão entre os maiores produtores de café, amendoim e pães do mundo. Temos 275 vinícolas com 20 premiadas. São Paulo é gigante, é um país e é a locomotiva do país mesmo. Está vindo para o Brasil a maior fábrica de drones do mundo e estamos negociando para vir para São Paulo. Tem muita oportunidade.

Essas características permitem atrair mais investimentos?

O Brasil tem capacidade muito alta de captar investimentos, até ante os problemas mundiais, como aumento da taxa de juros na Inglaterra, crise americana e a guerra da Ucrânia, que afeta muita gente. São Paulo tem a logística adequada, 46 milhões de consumidores e é a segunda maior renda per capta do Brasil, perdendo apenas para Brasília.

Aqui é um lugar de desenvolvimento. As regiões do Vale e de Campinas têm excelentes estradas e estão próximas de aeroportos importantes, para carga e passageiros, além de porto. Também vamos recuperar a ferrovia oeste e olhar a hidrovia. Estamos entrando em todos os modais e daqui a pouco ficaremos imbatíveis em logística.

Nesse contexto, a reforma tributária é indispensável? E o que achou da queda dos juros?

Há 50 anos que esperamos a reforma tributária. Tenho dois sonhos: reforma tributária e a desoneração da folha de pagamento. A reforma não vai agradar todo mundo, mas tem alguns parâmetros que são fundamentais, como a simplificação. E a cobrança no destino que acaba com a guerra fiscal. Todo mundo quer tirar uma casca de São Paulo, que é líder.

Os outros equilíbrios, como lei complementar o pacto federativo, a gente vê depois. Mas temos que avançar. A taxa de juros vem em queda e tem que cair mesmo, mas acho que na medida em que a inflação for cedendo e resolvendo o arcabouço fiscal, a tendência é de a taxa cair mais.

Economia verde é oportunidade ou entrave?

Temos 60% da matriz energética limpa. Temos etanol, biogás, biometano. Trazer gás de Santos para cá. Posso usar o resíduo para gerar energia. Temos fotovoltaica, espelho d’água, temos várias ferramentas. Achar que a economia verde é entrave é loucura.

Temos que tirar da cabeça que não existe desenvolvimento sustentável. É possível fazer, e essa é uma das questões do governador, a transição energética. O governo está trabalhando muito forte nessas políticas. Vejo um valor agregado incrível e com uma cultura forte para fazer.

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1 COMENTÁRIOS

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  • Jeferson
    13/08/2023
    É louvável a iniciativa de se buscar atrair desenvolvimento para os municípios menores. Porém, isso não deve se traduzir em menor foco nos municípios maiores. Jacareí, por exemplo, praticamente não recebe atenção nenhuma do governo estadual e vem deixando de atrair novos investimentos por conta da novela da atualização do Plano Diretor. O Estado deveria apoiar Jacareí, assim fez com Taubaté e não virar as costas novamente.