Nove meses após ação civil pública contra a cooptação de profissionais do setor aeroespacial na RMVale, entidades do setor apontam que a ‘fuga de cérebros’ continua e acusam a Boeing de tirar talentos de empresas da região de forma irregular.
Somente a Embraer já teria perdido 120 profissionais para a companhia norte-americana nesse período, movimento incomum num mercado altamente competitivo e que busca blindar suas equipes técnicas.
“A Embraer tem perdido, em média, cerca de 10 profissionais altamente especializados por mês para a empresa norte-americana. São profissionais com muitos anos de experiência e de substituição impossível”, disseram Julio Shidara e Roberto Gallo.
Eles presidem, respectivamente, a Aiab (Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil) e a Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança), entidades que entraram, em novembro do ano passado, com uma ação civil pública acusando a Boeing de cooptar engenheiros brasileiros.
Segundo ambos, o processo está na segunda instância da Justiça Federal, com as associações defendendo a concessão, em caráter de urgência, de pedidos liminares para evitar o “agravamento da perda de capital humano altamente especializado pelas empresas de defesa brasileiras”.
“Com a recente revisão de posicionamento, temos posição favorável do Ministério da Defesa e também do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, da Advocacia-Geral da União e do Ministério Público Federal para que a Justiça Federal julgue, em caráter de urgência, os citados pedidos liminares”, apontam os presidentes das duas entidades.
Segundo eles, a saída de profissionais resultará, no curto prazo, na desestruturação momentânea de uma estrutura funcional, eficaz e produtiva.
“É importante destacar que, em última instância, os principais prejudicados serão o Estado e a sociedade brasileiros, pela ameaça que a cooptação traz para a soberania nacional, bem de valor intangível para o país, além de potenciais impactos negativos que a ação da empresa norte-americana pode provocar em projetos estratégicos de interesse nacional contratados junto às indústrias nacionais afetadas pela cooptação.”
E completam: “É essencial a justiça brasileira posicionar-se, com firmeza, contra esse tipo de ação predatória contra os interesses nacionais. Do contrário, amanhã, outros setores poderão ser atingidos com ações semelhantes de cooptação de talentos brasileiros”.
Em recente entrevista a OVALE, o CEO e presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, sem citar diretamente a Boeing, disse que a fabricante brasileira “se opõe ao processo de captura sistemática e contratação de engenheiros que atuam em projetos estratégicos para o país, ameaçando a soberania nacional e a Base Industrial de Defesa”.
OUTRO LADO
Procurada, a Boeing destacou a parceria com o Brasil: “Como empresa global, estamos comprometidos em atrair e desenvolver os melhores talentos nos Estados Unidos e em todo o mundo para atender à demanda global por nossos produtos e serviços aeroespaciais. Temos orgulho de nossos mais de 90 anos de parceria com o Brasil no fomento à inovação aeroespacial, sustentabilidade e segurança”.
E completou: “O país possui um rico histórico de aviação, universidades técnicas de ponta e um forte ecossistema de engenharia. Esperamos continuar contribuindo com a indústria aeroespacial no Brasil”.