HABITAÇÃO

Brasil terá 85% da população morando em cidades em 2050, aponta relatório do ONU-Habitat

Relatório Anual 2022 do ONU-Habitat foi divulgado na última quarta-feira (26)

Por Xandu Alves | 31/07/2023 | Tempo de leitura: 3 min
São José dos Campos

Divulgação / Luciano Claudino / Código 19

Construção de casas embriões de 15 m² em Campinas: medidas descumprem diretrizes do ONU-Habitat
Construção de casas embriões de 15 m² em Campinas: medidas descumprem diretrizes do ONU-Habitat

O desafio nas cidades.

Com seus oito metros de altura e feita em bronze, a escultura "Os Guerreiros", instalada na Praça dos Três Poderes, em Brasília, simboliza os trabalhadores que ergueram a capital do país, com grande parcela de retirantes do Nordeste.

Por isso, a obra do escultor Bruno Giorgi (1905-1993) ficou conhecida como "Os Candangos", expressão vinda de Angola que identificava a maneira como os africanos chamavam os portugueses. No Brasil, os operários que construíram a capital eram chamados desta mesma forma.

Eles são o símbolo de um dos maiores desafios que o Brasil terá até 2050, quando as áreas urbanas abrigarão 85% da população brasileira. Oferecer moradia digna para milhões de pessoas será um imperativo da sociedade.

É o que mostra o Relatório Anual 2022 do ONU-Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos), divulgado na última quarta-feira (26).

O documento apresenta um panorama das diferentes formas de enfrentamento aos desafios urbanos no país.

Segundo o Relatório Mundial das Cidades, as áreas urbanas já abrigam 55% da população global, que deve chegar a 68% até 2050. Esse número sobe para 81% ao considerar a região da América Latina e do Caribe, e para 85% quando o foco é o Brasil.

"Os desafios urbanos são grandes quando pensados de forma global, mas seu enfrentamento só pode ser encarado quando pensamos no nível local. É no nível do território que a transformação para um desenvolvimento urbano sustentável pode ser concretizada", disse Alain Grimard, representante do ONU-Habitat para o Brasil e Cone Sul.

MORADIA DIGNA

Recentemente, série de reportagens de OVALE, baseada nas diretrizes do ONU-Habitat, mostrou que as casas embriões construídas em Campinas para pessoas de baixa renda descumpriam normas do órgão. As moradias têm 15 m² e apenas um cômodo e um banheiro.

As casas embriões tornaram-se assunto nacional e a pressão da opinião pública levou a Prefeitura de Campinas a antecipar o projeto de ampliar as moradias para até 54 m². As primeiras famílias já foram transferidas para o bairro.

O episódio revelou como a questão habitacional ainda é desafiadora no Brasil, fato confirmado pelo novo relatório do ONU-Habitat. O documento incentiva os cidadãos a questionarem o poder público em suas cidades sobre o que estão fazendo para "promover um futuro urbano melhor".

"Foi realmente impressionante a repercussão que o trabalho do jornal teve. Fico sinceramente feliz em saber da ampliação das casas", disse Alexia Saraiva, assessora do ONU-Habitat no Brasil.

INCLUSÃO

O tema da inclusão habitacional permeia todo o relatório da ONU, que cobra soluções diante da carência por moradia que já existe no país e que pode piorar se novas políticas públicas não forem criadas.

"Em 2022, o ONU-Habitat se juntou a novas cidades e comunidades para não deixar ninguém e nenhum lugar para trás", informou a direção do programa.

Rayne Ferretti Moraes, oficial nacional do ONU-Habitat para o Brasil, explicou quais frentes de atuação foram as protagonistas em 2022 e que figuram ao longo do relatório.

"Essas iniciativas envolvem a coleta e análise de dados para a promoção de políticas públicas assertivas que consideram a especificidade de cada região", disse a executiva.

Segundo ela, tais políticas devem contemplar a promoção de espaços públicos mais inclusivos, seguros, resilientes, verdes e sustentáveis. Também a "capacitação de pessoas para pensar, comunicar e resolver problemas urbanos, além da construção da resiliência urbana e outros temas englobados pela Nova Agenda Urbana e pela Agenda 2030 da ONU", afirmou Rayne.

INTERATIVIDADE

Para fazer com que seu relatório chegue a mais pessoas no Brasil, a ONU-Habitat transformou a edição de 2022 em uma experiência interativa e online. Por meio da internet, pode-se navegar pelo documento e explorar os mapas de cada local em que o órgão esteve presente ao longo do ano passado, entrando em contato com diferentes aspectos de cada espaço.

O relatório também reúne uma linha do tempo, as publicações realizadas no ano e as metodologias de maior destaque no período, além de histórias de pessoas que fizeram parte e foram impactadas por essas ações.

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