O número exorbitante de 177 bilhões de dólares é o quanto o mercado de second hand movimentou no mundo todo em 2022, e com uma previsão de 350 bilhões de dólares até 2027. Os números refletem a preocupação crescente e latente com o meio ambiente – algo já destacado nesta coluna em novembro do ano passado, quando trouxe o tema brechós à tona destacando que além de ajudar a economia girar com sustentabilidade, podemos dizer que assim como na natureza, na moda circular nada se perde tudo se transforma.
Este ano estamos assistindo uma forte tendencia de grandes marcas criando ou expandindo seus programas de revenda. Zara, H&M, Renner, C&A, assim como Gucci, Hugo Boss, Coach, Jimmy Choo, são alguns exemplos de marcas que sozinhas ou em parceria com grandes plataformas, aderiram ao programa de revenda, como forma de controlar a venda de usados, ajudar a garantir a autenticidade dos produtos, entender a demanda, ajustar produção e preencher possíveis lacunas no estoque.
E você faz a moda circular? Além do ato de doar peças que não nos serve mais (seja no tamanho ou na nossa imagem) os brechós e bazares vem mostrando seu crescimento, assim como a tendencia do UPCYCLING - termo utilizado para a reutilizar de um item, trazendo-o de volta ao ciclo da vida, e muitas vezes com maior valor que o produto original, que seria descartado. Um exemplo são as customizações de peças do vestuário
Fui conversar com Nico Puig, ex-modelo e ator que atualmente comanda o Laje 61 (Instagram @splaje61) projeto idealizado por ele. Um espaço “aconchegante pela simplicidade” como ele mesmo descreveu. Uma laje no centro de São Paulo onde é possível garimpar roupas, acessórios, móveis, objetos de decoração e ainda tomar bons drinks vendo o pôr do sol.
“Já há alguns anos trabalho com upcycling de móveis e objetos e entendo que a moda está intimamente ligada. Quando jovem trabalhei como modelo e ator, e sempre gostei muito de moda, enxergando nela uma forma de nos expressarmos. Algo para que o mundo nos perceba como de fato a gente quer ser percebido, se apropriando de vários elementos, seja do passado, os atuais, ou aqueles que prospectamos para o futuro.”
Para Nico os números do mercado dizem muito sobre o “mercado tanto no aspecto do sustentável, visando a redução de consumo e o descarte desenfreado, como no resgate de histórias e particularidades.”
No Laje 61, através da equipe de curadoria, figurinista e consultor de estilo, inicia-se a busca por peças em brechós, bazares, ou até de forma particular. Cada peça recebe a atenção necessária - algumas seguem para costureira, outras para a lavanderia, e outras para o processo interno de lavagem e higienização. Na sequência elas ganham um lugar nas arraras em um ambiente aromatizado com um aroma próprio que encanta a todos.
O espaço e a experiência que o ambiente proporciona são fatores que inibem qualquer resistência possível em relação a esse tipo de consumo e passa a ser visto como um caminho possível para se reinventar, se apropriar e ditar a própria moda.