Sempre quando chega esta época do ano me vem a sensação de que eu deveria ter feito mais. Talvez o sentimento seja comum quando se aproxima o aniversário e já possuamos uma certa idade e, claro, quando se acredita que não atuou na potência máxima.
Embora tenha uma nota mental de como quero estar daqui a um ano, eu não me lembro das promessas feitas no inverno passado. É possível que esse esquecimento seletivo me salve de mim, visto que me ajude a ser mais benevolente com as expectativas tortas a meu respeito.
A crença de que no próximo ano estarei melhor do que agora pode ser tanto positiva –se me dá esperança – como perigosa – se me enterra na ideia morosa de que há muitos dias pela frente. Logo, não preciso começar hoje aquilo que esmero por um resultado crível num prazo de 365 dias. E assim, silenciosamente, os anos atravessam o outro lado da rua e seguem até sumir de nossas vistas, tornando-se uma vaga memória empoeirada.
Quando mais jovem, eu nutria uma teoria que me dava poderes especiais. Pensava que no momento em que eu realmente quisesse mudaria toda e qualquer circunstância que me causasse incômodo. E para sempre. Mas, só quando eu quisesse de fato.
“A vida é o trem que passa enquanto eu chego atrasada na estação”, eu reclamava para mim. Teórica que sou, dizia apenas, sem o entendimento prévio de que bastava eu me mexer para dar ação ao meu pensamento e numa catarse freudiana me transmutar no maquinista que guia a minha existência. O poder estava nas minhas mãos e a hora de usá-lo ainda não chegara.
Seria como alguém que sempre guarda a roupa nova para usar numa ocasião especial, sem saber que o depois é um tempo que nunca chega. De que servem os aniversários além de nos deixar um ano mais velhos? Seria o momento perfeito para limpar a poeira que encobre os nossos sonhos e desenhar os trilhos por onde o trem irá passar?
O aniversário é um dia do ano que é inteiramente nosso. Amigos e familiares nos desejam “Parabéns!” só por estarmos vivos, ainda que invariavelmente não mereçamos a saudação.
Não sou mãe, mas nessas horas, eu sempre lembro da minha. Fico a pensar nas dores que uma mulher sente para dar à luz, na preocupação com o nascimento do bebê e naquele dia especial que de agora em diante será só do filho. Ninguém dá “Feliz Dia que Pariste!” para a genitora.
Pois aproveito o espaço oportuno e digo eu: “Feliz Dia em que me Pariste, mãe”. Apesar dos desafios em mover o trem, é muito bom viver. Escrevo de roupa nova.