CASA EMBRIÃO

Casas de 15 m²: Lilia Schwarcz diz que não se pode ‘naturalizar a aberração social'

Por Xandu Alves | Campinas
| Tempo de leitura: 2 min
Divulgação / Eduardo Lopes
Casas embriões de 15 m² em Campinas
Casas embriões de 15 m² em Campinas

O pobre sem opção.

Abertamente criticada por ultraconservadores, a Teologia da Libertação defende a “opção preferencial pelos pobres” como um manual de conduta de cristãos comprometidos com a justiça social.

No caso das casas de 15 metros quadrados construídas pela Prefeitura de Campinas para famílias de baixa renda, o mantra se inverte. Ali são os pobres que ficam sem opção diante da insalubre residência.

Essa é a tese defendida pela historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, que criticou o projeto de casas embriões de 15 m² para atender a Ocupação Mandela, em Campinas.

“Desigualdade social tem um imenso dom de iludir, no sentido de buscar naturalizar o que é do universo da aberração social”, escreveu a pesquisadora em sua conta no Instagram.

“Alguns devem morar com sete ou oito familiares no espaço. Não há como defender uma suposta ‘casa’, de 15m². Importante também chamar atenção para a luta do movimento de Ocupação Nelson Mandela e do movimento de moradia em geral”, escreveu a pesquisadora em sua conta no Instagram.

A historiadora se posicionou na polêmica que ganhou o país após série de reportagens de OVALE sobre as casas embriões de Campinas.

Para ela, embora reconheça a luta do movimento social por moradia, o projeto “escancarou a desigualdade social” no país.

“Em 2017, a mesma ocupação foi removida em um processo violento, em um terreno que seis anos depois segue ilegal. Desde seu surgimento, em 2016, a Ocupação viveu um contexto marcado por um completo vazio de políticas habitacionais em Campinas, no estado de São Paulo e na esfera federal”, afirmou a antropóloga.

Segundo ela, o episódio revela que são “muitos os silêncios da desigualdade”. Lilia ainda apontou que as casas de 15 metros quadrados “são uma perversa metáfora e uma realidade dela”.

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POSTURA CRIMINOSA

Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, Gisela Leonelli disse que o projeto das casas de 15 m² é mais um sinal de como são tratados os pobres no país.

Ela classificou o tamanho das moradias como “inaceitável” e disse que o projeto “está reproduzindo a precariedade habitacional das pessoas que já são vulneráveis”.

“Esse discurso de ‘dar um pouco a mais porque eles vivem mal’ e ‘qualquer coisa serve para o pobre’ é criminoso, preconceituoso e excludente”, afirmou a especialista.

“É desculpa para quem quer solução rápida e não comprometida. Não temos que aceitar esse tipo de solução que reproduz e reforça a precariedade dessas pessoas”.



Historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz (Divulgação / Renato Parada)

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