IDEIAS

A desmedida luta pela verdade

Por Guilherme Codazzi | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 2 min

Qual é a medida?

Régua, altímetro, amperímetro, ampulheta, anemógrafo, anemômetro, balança, barômetro, trena, ecobatímetro, esfigmomanômetro, frequencímetro, manômetro, multimedidor, sextante, etc...

Essa e outras ferramentas foram criadas para medir tudo aquilo que é mensurável.

Pode-se medir a velocidade com que um carro de Fórmula 1 rasga a reta na linha de chegada. Com o nocturlábio, os antigos marinheiros calculavam a hora através do movimento das estrelas. E o que dizer do teodolito, que mede ângulos verticais e horizontais?

Nem tudo, porém, pode ser medido de forma milimétrica. “Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica, nem com balanças, nem com barômetros, etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que essa coisa produz em nós”, disse o poeta Manoel de Barros (1947-2014), cujo ‘quintal era maior que o mundo’.

À medida que lia a citação, buscava na cabeça alguns exemplos de coisas incomensuráveis... Um astrolábio, capaz de medir a altura dos astros, seria eficiente para medir quantas constelações cintilam no céu da boca daqueles dois jovens apaixonados que tocam os lábios em seu primeiro beijo? O termômetro é preciso e, com rapidez, revela a temperatura. Porém, ele é inútil para medir o aperto no peito da mãe que vê o filho com quase 40ºC de febre.

Ao longo deste mês, em cobertura já histórica, OVALE revelou que casas embriões em construção pela Prefeitura de Campinas com somente 15 m² violam as diretrizes definidas pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Esta é a ‘fita métrica’ da ONU -- referendada por especialistas da USP (Universidade de São Paulo) e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). 

O que a régua da ONU diz?

Ela diz que uma casa é adequada quando até três pessoas partilham o mesmo quarto habitável, com área mínima de 9 m², além de espaços como a cozinha e o banheiro. As casas embriões vão ter até sete pessoas em 15 m².

Mas como podemos medir o sonho dos moradores da ocupação Mandela de deixar seus barracos e morar em uma casa -- independentemente de seu tamanho?

Isso é imensurável.

Fazendo uma analogia, se você estivesse com fome, qualquer alimento seria um banquete, não seria? Mesmo que fossem migalhas.

O sentimento dos moradores do Mandela, portanto, é inquestionável -- eu, no lugar das famílias que lutaram anos para ter um pedaço de chão (e teto), estaria satisfeito.

No entanto, neste caso, é a prefeitura do município mais rico do interior do Brasil que está sendo medida -- não os moradores. Para ela, vale a ‘régua’ da ONU e também a ‘fita métrica’ que norteia o nosso país: a Constituição. Além, é claro, do escrutínio público.

Debaixo de forte pressão, cabe à gestão Dário Saadi uma medida apenas: ampliar as casas, com a ajuda do Estado ou da União.

Seria a melhor notícia para a comunidade. E, falando em notícia, e qual é a nossa medida?

A medida de OVALE é a desmedida busca pela verdade, jamais o jornalismo sob medida.

Comentários

Comentários