PERSONAGENS

Empoderamento à la carte: jantar nudista em SP traz no cardápio a aceitação do corpo

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 5 min
Divulgação / Alle Manzano
Paôla Yaeli (centro) e outras mulheres no primeiro jantar nu realizado em São Paulo, em maio
Paôla Yaeli (centro) e outras mulheres no primeiro jantar nu realizado em São Paulo, em maio

Um jantar para mulheres com gastronomia vegana, alimentos diferenciados, atividades corporais e todas as participantes nuas ao redor da mesa.

O evento é preparado pela jornalista e mentora de saúde Paôla Yaeli, 36 anos, que saiu do Vale do Paraíba há mais de 10 anos para ganhar o mundo atrás de autoconhecimento.

Depois de morar em Tel Aviv (Israel), em Washington e Los Angeles (Estados Unidos), ela voltou à cidade natal de Jacareí no ano passado e trouxe na bagagem um certificado de Health Coach (mentora de saúde) e diversos trabalhos holísticos para cuidar da saúde de forma completa. Ela dá aulas de Hot Yoga e de terapia tântrica e vem se especializando em alimentos naturais, alguns pouco convencionais.

Nesse contexto, Paôla e a fotógrafa Alle Manzano, idealizadora do jantar, se uniram no projeto UMMA, que visa reunir mulheres num mesmo local para conversar sobre si mesmas, trocar experiências e vivenciar um jantar com alimentos saudáveis. E, claro, tirar a roupa.

NUDEZ

O jantar nu é parte central da ideia, que foge do conceito de erotismo e procura empoderar as mulheres diante da autenticidade de cada corpo sem roupa, para compreender a sexualidade de forma saudável e sem tabus.

Como explica Paôla, que se converteu ao judaísmo e adotou o sobrenome Yaeli, a ideia é de desenvolver vivências femininas para que cada participante se aceite como é e faça a própria jornada da vulnerabilidade ao empoderamento, sem máscaras ou preconceitos. Para tanto, o processo exige preparação até que se tire a roupa.

“Trazemos outras vivências para que a mulher se prepare para o ritual de tirar a roupa. Não é chegar lá e ficar nua. Tem toda uma preparação, com atividades corporais que eu e convidados trazemos, para que a mulher chegue ao ponto de se sentir à vontade de se sentar à mesa e, sem roupa, ter essa conversa sobre a dificuldade da autoaceitação”, conta Paôla.

Ela e Alle fizeram o primeiro jantar nudista em maio, na cidade de São Paulo, ainda encarado como projeto piloto. O primeiro evento para valer será no próximo sábado (24), também na capital, que reunirá oito mulheres. A ideia é ter um clima intimista.

VALE DO PARAÍBA

Estão previstos dois jantares nus em julho, em São Paulo e no Rio de Janeiro. E o primeiro no Vale do Paraíba será na Chácara Mariah, em Jacareí, em 26 de agosto. Neste dia, segundo Paôla, a meta é fazer uma imersão com o dia todo de atividades, com o jantar ao final do evento, quando as mulheres serão incentivadas a tirar a roupa.

“Nesse do Vale teremos mais atividades durante o dia. Não vai ser o tempo todo sem roupa. É todo um processo. As mulheres têm que se sentir confortáveis para tirar a roupa. Não é o projeto de um retiro. Estamos começando agora”, diz a jornalista.

VULNERABILIDADE

Paôla admite que o momento de ficar nua é quando a mulher se sente mais vulnerável. E o sentimento faz parte do roteiro do evento, que as organizadoras procuram desvincular de terapia ou de qualquer leitura enviesada e aproximar da arte.

“É uma imersão para a mulher entender que a dificuldade de não se aceitar é comum. Não é um jantar terapêutico, de cura e nem nada disso. É preparar a mulher para conseguir se sentar à mesa sem roupa e se aceitar.”

Em live com Paôla, a fotógrafa Alle resumiu assim o evento: “É o momento para que as mulheres possam se olhar uma nas outras e parar de comparação. Para falar sobre você e o que está entendendo. Vivência para estimular o conhecimento e a sexualidade, mais o alimento. Por isso estamos propondo os pratos muito bonitos e saborosos”.

Segundo ela, a proposta central é de ficar nua e, mesmo que algumas participantes relutem, no final elas acabam seguindo e aproveitando a ideia do jantar nudista.

“Ninguém vai se importar com a fisionomia de ninguém. O jantar abre a situação de trocar ideias. Estar livre da roupa de marca e do que se limita”, diz Alle.

TRANSFORMAÇÃO

Paôla completa: “O coração [do projeto] é o jantar, porque quando você se senta numa mesa sem roupa está num momento de vulnerabilidade. É um grupo pequeno e acontece a transformação, enxerga a nudez de uma forma diferente, transforma a maneira de ver o corpo”.

A liberdade é presença obrigatória no evento, que estimula as mulheres a falarem o que bem entenderem e da maneira que quiserem, sem pressão. Por isso, por enquanto, a proposta do jantar se limita ao público feminino. No futuro, Paôla e Alle não descartam fazer algo com casais.

A jornalista conta que o jantar nu será feito em outras cidades do país e até fora do Brasil. Nestes casos, os pratos servidos seguirão a proposta de alimentos naturais e aproveitarão a culinária local, sempre tentando mostrar que o “corpo é sagrado” e que a beleza “vem de dentro para fora”, como uma “nutrição da alma”.

ESTADOS UNIDOS

Nos EUA, um jantar que reúne mulheres e homens nus vem fazendo sucesso em Nova York. Na programação entra meditação, menu vegetariano, nenhuma bebida alcoólica e nudismo. O evento custa US$ 88, quase R$ 450, e vem atraindo comensais para a casa.

A ideia nasceu da rejeição que Charlie Max, a dona do restaurante, tinha pelo próprio corpo. Ex-bailarina, ela contou à imprensa que não se sentia feliz com o próprio corpo e que sentiu uma “libertação” ao experimentar o nudismo. Resolveu abrir o restaurante Füde Dinner Experience para os clientes ficarem nus para o jantar vegano.

 

SERVIÇO

Jantar UMMA
São Paulo: 24/6 e 8/7
Rio de Janeiro: 22/7


Imersão UMMA
Chácara Mariah, em Jacareí: 26/8


Interessados: (11) 91288-8589

Paôla Yaeli: (12) 99727-6762




Paôla (centro) durante atividade

Comentários

Comentários