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ARTIGOS
A culpa é sua, Vinicius Jr.
Por Ricardo Castilho* | 12/06/2023 | Tempo de leitura: 2 min
Pablo Morano / Reuters
Sabe por que, infelizmente. você continuará sendo crucificado no altar da insensatez humana? Porque você é preto. Preto, e não, Pelé, entende? Fora o Rei, qualquer preto, não importa o que faça na vida, tem de ser subserviente, respeitar a hierarquia. Sim, senhor. Onde já se viu, garoto, desafiar a massa caucasiana que não se conforma em ver um preto fazendo coisas que só a eles é permitido fazer? Você é da senzala, e eles jamais irão admitir tal afronta.
A verdade nua e crua, Vinicius, é que, muito além das reflexões éticas e culturais que têm se intensificado nos últimos anos, a deliberada, insana e reiterada afronta racista e discriminatória de que você vem sendo vítima, representa a permanência de uma atitude abjeta que não ocorre apenas na Espanha, mas que vimos ser escancarada diariamente em nosso país.
Aqui, garoto, ser negro é carregar a culpa na própria pele, como se ela fosse carimbo inapagável que a associa à criminalidade, uma das heranças mais perversas da escravidão. É o surreal impondo a abjeta face da estupidez humana. Mais triste e lamentável ainda é constatar que tal tipo de repulsa já não se manifesta de forma sub-reptícia, segregada em guetos.
Agora, ela chega ao incrível paroxismo que nos leva a compará-la com aquela geringonça científica que ficou conhecida como moto perpétuo, um sistema mecânico imaginário que não precisa de combustível ou energia para continuar a mover um motor de maneira contínua e eterna. E como desligar tal geringonça?
Lá se vai quase um mês que você foi achincalhado pela 11ª vez exercendo sua profissão. Não se iluda, não foi a última, mesmo com tantos discursos e campanhas mundo afora. E vai continuar enquanto as várias instâncias ligadas ao esporte, à cultura e à educação não se derem conta de que todas as iniciativas para controlar a fera besta do racismo têm que que funcionar em sincronia e simultaneamente, com severa e permanente vigilância. A mídia também deve fazer a sua parte. Afinal, estamos falando de torcedores de má índole, desumanos, intolerantes e criminosos, que só vão interromper esse moto perpétuo do racismo nojento quando sentirem punições severas e radicais.
Não parece coincidência que a ascensão da violência nos estádios de futebol tenha sido justamente na Inglaterra. Foi lá que tudo começou, o futebol e a violência nos estádios. Aparentemente, porém, não temos aprendido nem mesmo depois que os ingleses decidiram dar um basta aos “hooligans”, punindo clubes, levando para a cadeia e afastando dos estádios de futebol os seus torcedores violentos. É inadmissível, repito, é inadmissível que, seja nas arenas esportivas ou em qualquer outra dependência de uso público, o negro continue carregando esse fardo de subserviência, como se tudo fosse motivo para lembrá-lo do seu lugar nessa desajustada escala social em que o Brasil foi estruturado.
Ricardo Castilho é escritor, professor e jurista, pós-doutor em Direito pela USP e Universidade Federal de Santa Catarina. É diretor-presidente da Escola Paulista de Direito (EPD).
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