O café vem ganhando um parceiro importante nos mais tradicionais redutos de cultivo no Brasil. Desde o sul de Minas até o Vale do Paraíba, as vinícolas têm conquistado espaço e dividido as atenções com um dos produtos mais importantes da história do país. O que poderia ser uma competição, está cada vez mais parecendo um casamento. E quem diz isso é Lucas Bueno, enólogo da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), à frente de vários projetos de vinhos de inverno na região Sudeste. “Onde tem café bom, vai dar uva boa”, afirma.
Exemplos da boa convivência não faltam. Na rota turística de Espírito Santo do Pinhal, café e o vinho se entrelaçam em dezenas de atrações. A Cave das Vertentes, em Santo Antônio do Amparo (MG), ressalta a importância da água abundante para a produção tanto de cafés de excelência quanto de uvas finas.
Em Boa Esperança, Sul de Minas, a Fazenda Capetinga, que comercializa garrafas do vinho 'Maria Maria' desde 2013, mantém a cultura cafeeira como principal até hoje. O vinhedo é cercado pelo cafezal por quase todos os lados. Praticamente um abraço.
Essa convivência, no entanto, não aporta aromas e sabores. Mas o perfil da uva de colheita de inverno é de grande concentração de açúcar, o que aumenta o potencial alcoólico do vinho e consequentemente sua capacidade de guarda. É nesse momento que outra mágica acontece.
Após o estágio em barricas de carvalho, com a exposição às moléculas existentes na atmosfera, o líquido desenvolve notas complexas que podem ser associadas às nozes, ao caramelo e, claro, ao café. É impossível separar essa dupla!
HARMONIZAÇÃO
Carnes com molhos de café, como pernil de porco, fazem o casamento perfeito com vinhos de Malbec com passagem em barrica.
DICAS
Antigas fazendas de café que apostaram na vocação vitivinícola recebem visitantes com as duas bebidas. Isso acontece em uma das pioneiras, a vinícola Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal na fronteira com o estado de Minas Gerais. Na vinícola Família Davo, em Ribeirão Branco, sul do estado de São Paulo, o café de marca própria é produzido em São Gonçalo do Sapucaí (MG) em homenagem ao patriarca da família. É considerado um diferencial na recepção aos turistas.