IDEIAS

O problema do lixo espacial

Por: Cláudia Medeiros

05/06/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Créditos/NASA

Na tarde de 10 de Fevereiro de 2009 o satélite de telecomunicações Iridum 33 colidiu com o satélite de comunicação desativado Kosmos 2251 sobre a Sibéria em uma altitude de cerca de 800 quilômetros. A colisão se deu a uma velocidade maior do que 42000 km/h gerando uma nuvem de cerca de 2000 com dimensões da ordem de pelo menos 10 centímetros.  Com o tempo, a nuvem se espalhou por toda a região gerando um enorme risco de colisão para outros satélites próximos, inclusive aqueles em funcionamento.

Esse tipo de situação foi previsto por Willy Ley no início da era espacial. Ele dizia que em questão de tempo o número de satélites seria tão alto se acumulariam de forma a ser necessário removê-los para evitar colisões acidentais.  Em 1978, Donald J. alertou sobre o efeito cascata que uma colisão poderia gerar. Esse efeito recebeu o nome de Síndrome Kessler em sua homenagem. Uma colisão em cascata poderia inutilizar regiões do espaço por décadas.

Do que são formados os detritos espaciais?

A origem desses detritos são os próprios satélites, o motor do foguete ou partes do foguete que levou o satélite ao espaço além de peças do satélite que são usadas durante seu funcionamento chamadas em inglês de debris. Os debris podem ter origem na própria degradação do satélite devido a exposição constante à radiação ultravioleta, rompimento de peças ou fragmentos de colisões com meteoroides. Os painéis solares do satélite Sentinel-1A e do telescópio Hubble foram confirmadamente atingidos por debris mostrando marcas visíveis desse estrago. Simulações de colisão com partículas da ordem de 1 centímetro feitas em solo, mostram que numa velocidade tão elevada os danos podem levar a acidentes além do painel solar, mas da própria infraestrutura do satélite. Uma colisão, por exemplo, com uma bateria ou um tanque de combustível, poderiam causar perda total da operação do satélite assim como desencadear a Síndrome Kessler e colocar outros satélites em risco.

De que forma estamos em risco aqui na Terra?

O principal risco se dá pela perda de serviços que utilizem o espaço. O mal funcionamento de um satélite meteorológico como os que previnem desastres ambientais, por exemplo. A perda de controle de sistemas que usam a rede GPS, inclusive sistemas de distribuição de energia elétrica. Sistemas de comunicação mundiais que usam satélites no espaço. Isso e muito mais, se comprometidos os satélites fornecedores desses serviços, afetariam seriamente a nossa vida diária.

Observações feitas em solo que necessitam de um cone de visibilidade sem poluição por objetos, como as redes de astronomia mundial, teriam mais um desafio a contornar.

O mais temido seria a queda de um objeto como um satélite ou estação espacial com dimensões que ultrapassariam a capacidade de queima da nossa atmosfera, poderiam levar esse objeto a atingir áreas povoadas causando acidentes e, dependendo do conteúdo, destruição em massa de regiões, incêndios entre outros riscos ambientais.

E o que vem sendo feito a respeito disso?

Quanto a população de debris, existem órgãos mundiais responsáveis por encontrar, catalogar e monitorar novos objetos. O maior desafio é a dimensão desses objetos que podem ser tão pequenos que sejam quase indetectáveis, mas ainda assim são capazes de causar danos. Hoje estima-se que existam mais que 1.000.000 de objetos espaciais maiores que 1 centímetros numa região conhecida como “debris environment” abaixo da altitude de 10 raios terrestres ou seja, cerca de 63.000 quilômetros. Nessa região, só são monitorados cerca de 35.000 objetos que tem dimensões acima de 10 centímetros.

Satélites ativos e estações espaciais catalogados são monitorados diariamente e em caso de risco de colisão com esses debris, recebem alertas gerados com antecedência, normalmente suficiente para mitigar risco. Alguns deles, tem a capacidade de alterarem suas órbitas para evitar a colisão e realizam manobras. No entanto, alguns não tem essa capacidade de manobra pois não possuem sistemas de propulsão ou eles estão inutilizados. 

Já a população de satélites em final de vida se faz necessário a manutenção de estratégias de “de-orbita” que é o termo usado para remover um satélite colocando-o em um movimento que facilite sua reentrada na atmosfera.

Além disso, existem projetos em desenvolvimento para remoção de lixo espacial. Alguns exemplos são: a captura desses objetos em órbita levando os a reentrada ou a um empurrão forçado por laser em solo de forma a alterar a trajetória de forma controlada, entre outras.

A Organização das Nações Unidas (ONU) no âmbito do uso do espaço possui um guia de boas práticas para uma vida sustentável no espaço onde são apresentados estudos feitos por diversas agências espaciais no mundo. As principais agências e projetos envolvidos nesse esforço são a NASA (Estados Unidos), ESA (Europa), CNES (França), DLR (Alemanha), JAXA (Japão), projeto ISON (Rússia) e a SMARTnetTM (Suíça).

Como sugestão para aprofundamento do tema, sugiro a leitura do guia feito pelas Nações Unidas sobre o assunto além de uma visita aos sites das agências e dos projetos acima. Para entretenimento, temos alguns filmes de ficção científica como “Gravidade” de 2013 e o “Salyut-7” de 2017, sendo este baseado na história real de um acidente na estação espacial Russa.

Quer saber mais sobre o assunto acima? Visite o canal MaisQueRaios no Youtube e @maisqueraios no Instagram. Um agradecimento especial ao jornal O Vale por nos apoiar para que esse conteúdo chegue a mais pessoas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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