EDITORIAL

‘Toma lá, dá cá’ de Lula

27/05/2023 | Tempo de leitura: 2 min

O fato de Lula ter sido eleito presidente sem uma expressiva base aliada no Congresso Nacional começou a cobrar a fatura da gestão do petista. Embora no fim de 2022 o então futuro governo e os parlamentares tenham atuado de forma conjunta para aprovar a PEC da Transição, agora a relação com os congressistas - em especial o chamado centrão - mudou de figura.

Com apenas 130 votos garantidos com sua bancada mais leal, Lula sofreu uma primeira derrota marcante no início do mês, quando a Câmara dos Deputados derrubou decretos sobre as regras do Marco do Saneamento. Na ocasião, o centrão deixou clara sua insatisfação com a articulação política do governo, que até então havia empenhado apenas R$ 486 milhões para o pagamento de emendas de congressistas.

O recado foi entendido. Menos de uma semana depois dessa derrota, o Planalto empenhou R$ 700 milhões para deputados e senadores. E na última terça-feira (23), data em que a Câmara votaria o texto-base do novo arcabouço fiscal, o governo Lula liberou R$ 1,1 bilhão em emendas parlamentares, priorizando congressistas aliados e integrantes do centrão. Foram autorizados R$ 800 milhões para deputados e R$ 288 milhões para senadores. O resultado foi imediato: o texto-base do novo arcabouço fiscal foi aprovado por 372 votos a 108.

Mas, nesse ‘toma lá, dá cá’, a liberação de recursos para o pagamento de emendas não é a única moeda de troca. No dia seguinte, o governo sacrificou sua política ambiental e aceitou de forma passiva a aprovação de medidas que esvaziam os ministérios de Meio Ambiente e Povos Indígenas, afrouxam a proteção da Mata Atlântica e dificultam a demarcação de terras indígenas.

No Planalto, o discurso é de que será preciso entregar alguns anéis para ficar com os dedos. Os dedos, no caso, são as pautas ligadas ao desenvolvimento econômico, que têm impacto mais imediato para o futuro do governo.

Entra governo, sai governo, a relação entre presidentes e congressistas tem sido marcada mais por interesses político-partidários e eleitoreiros do que por um esforço conjunto para melhorar o país.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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