
Dados das pesquisas em três das principais cidades do interior de São Paulo mostram que o clima de polarização política persiste e não acabou com o segundo turno da eleição presidencial, em 30 de outubro de 2022.
Realizado em Campinas, São José dos Campos e Taubaté, o levantamento de OVALE/Sampi/Ágili Pesquisas aponta boa avaliação para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), figura ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e problemas de rejeição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
É o mesmo quadro verificado nas urnas ao final do segundo turno, com vitória de Bolsonaro sobre Lula no interior de São Paulo.
Derrotado nacionalmente, Bolsonaro venceu as eleições em 547 cidades das 645 do estado de São Paulo e obteve a preferência de 55,23% (14,12 milhões de votos) do eleitorado paulista. Lula ficou com 97 cidades e 44,77% dos eleitores (11,5 milhões).
Na RMVale, a diferença foi ainda maior para Bolsonaro: 913,8 mil votos (62,14%) contra 556.8 mil de Lula (37,86%). Na cidade de Campinas, o ex-presidente ficou com 56,22% do total de votos ante 43,78% do petista.
PESQUISAS
A maior diferença deu-se em São José, com 79,36% de aprovação para Tarcísio e 64,64% de reprovação a Lula, que foi aprovado por 27,07%, um ‘fosso’ de 193% a favor do governador.
Em Taubaté, o republicano recebeu 67,75% de aprovação e o petista ficou com 59,75% de reprovação e 33,5% de aprovação – a de Tarcísio foi 102% maior.
Campinas foi a cidade com a menor diferença entre Tarcísio e Lula. O governador foi aprovado por 59,65% e o presidente reprovado por 56,84%, mas aprovado por 31,56%, o que dá 89% de diferença para Tarcísio.
POLARIZAÇÃO
Para o advogado e cientista político Melillo Dinis, membro da direção do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, o clima de polarização se mantém numa espécie de “terceiro turno” das eleições que “parece que ainda não terminaram”.
O resultado da pesquisa revela essa conflagração política entre bolsonaristas e petistas e que acaba influenciando na avaliação das administrações, que roçam a objetividade pela preferência política.
“É o clima de torcida de futebol que tomou conta da política. Cada um tem o seu lado e não admite o do outro”, afirmou.
A cientista e consultora política Dora Soares avaliou que os resultados das pesquisas evidenciam o histórico conservador da região, que tende a avaliar os gestores com base em valores mais pessoais e não tanto em evidências científicas.
“É um retrato sério do conservadorismo no país e na região, que é muito influenciada por questões religiosas e militares e tem uma formação de pensamento diferente. Os dados também refletem que a democracia ainda não conseguiu construir políticas públicas e cidadania”, disse Dora.
A historiadora da USP (Universidade de São Paulo), Janice Theodoro, avaliou que esses indicadores de polarização não se alteram devido às mudanças capitaneadas no mundo digital.
“Estamos vivendo uma crise da linguagem. Antes das redes terem a importância que têm hoje em dia, quando você comprovava a existência de um fato, as pessoas mudavam de posição. Com as redes você quebrou essa lógica. As pessoas são manipuladas no sentido de não responder às evidências, mas às emoções dela”, disse Janice.
“Você deixa o universo da realidade, da comprovação e vive a realidade que mais lhe agrada. As redes estão utilizando todo esse arsenal de manipulação, por meio do medo, para conduzir as pessoas numa determinada direção. E essas linguagens não estão sendo usadas pelo grupo do PT e do Lula. A direita usa com força e a esquerda está sem condições de responder a língua contemporânea.”