VIOLÊNCIA

Cruzeiro, Lorena e Caçapava estão entre as cidades com aumento na taxa de homicídio

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação
Polícia em Cruzeiro
Polícia em Cruzeiro

As cidades do Vale do Paraíba que lideram o ranking da violência em São Paulo têm os maiores percentuais de aumento da taxa de vítimas de homicídio por 100 mil habitantes entre 2010 e 2023, período em que a região tornou-se a mais violenta do estado.

A subida desses municípios na lista estadual fez com que a região se tornasse o maior desafio em segurança para o governo paulista há mais de uma década, de acordo com dados da SSP (Secretaria de Estado de Segurança Pública).

A RMVale é a única região do interior a ultrapassar 300 vítimas de homicídio por ano – 368 mortes no ano passado. Ultrapassar esse patamar de óbitos violentos se repete na região há mais de uma década.

Atualmente, seis cidades do Vale lideram o ranking paulista da violência: Cruzeiro, Lorena, Caraguatatuba, Caçapava, Ubatuba e Guaratinguetá.

Cinco delas têm taxa de vítimas de homicídio por 100 mil maior em 2023 do que tinham em 2010, quando apenas Caraguatatuba e São Sebastião estavam no topo do ranking.

Cruzeiro é a cidade com o segundo maior aumento percentual da taxa no estado, com 258% de crescimento. A taxa é de 32,57 neste ano – considerando o período de 12 meses, entre abril de 2022 e março de 2023 – contra 9,09 em 2010. Em 2001, a cidade tinha uma taxa ainda menor, de 8,12.

O município perde apenas para São Carlos, na região de Ribeirão Preto, cuja taxa subiu 275% entre 2010 e 2023, passando de 4,06 para 15,24. Depois aparecem Vinhedo (+211%) e Mogi Mirim (175%).

Lorena é a quinta cidade com maior aumento percentual da taxa de homicídio, 134% de crescimento: 31,27 ante 13,33 em 2010. No primeiro ano da série histórica da SSP, em 2001, a cidade tinha 44,61 vítimas de homicídio por 100 mil – ou seja, Lorena tem voltado ao patamar de violência registrado há mais de 20 anos.

Também tiveram aumento na taxa as cidades de Caçapava (+69,50%), Ubatuba (+3,62) e Guaratinguetá (+4,58). A única cidade do Vale entre as seis mais violentas a registrar queda foi Caraguatatuba, com a taxa caindo 22,8% entre 2010 e 2023, de 35,77 para 27,59 – o município do Litoral Norte deixou a liderança do ranking paulista com essa redução.

MUDANÇA

"O governador Tarcísio [de Freitas] tem falado da situação do Vale na segurança desde a primeira reunião do secretariado. Na importância de fazer algo prioritariamente para o Vale, a região mais violenta do estado. A SSP está desenvolvendo ações para que possamos fazer a diferença em relação à segurança pública na região", disse Felicio Ramuth, vice-governador de São Paulo, em entrevista a OVALE.

Uma das ações é atuar mais fortemente nas médias cidades da região que registram maior aumento dos crimes violentos, como Cruzeiro, Lorena e Caçapava. Os números mostram como esses municípios ultrapassaram os maiores na questão da violência.

Nos últimos 12 meses, de abril de 2022 a março de 2023, o Vale acumula 354 mortes em homicídios dolosos.

Desse total, as três maiores cidades – São José, Taubaté e Jacareí – foram responsáveis por 101 homicídios, 28,5% do total, sendo que elas têm metade da população da região.

Com 23,5% dos habitantes do Vale, Cruzeiro, Lorena, Caraguatatuba, Caçapava, Ubatuba e Guaratinguetá acumulam 159 vítimas de homicídio nos últimos 12 meses, nada menos do que 45% do total do Vale. A discrepância é notável.

"De fato, a região tem as seis cidades mais violentas do estado e isso está sendo estudado para tirarmos o Vale do topo da violência", afirmou Felicio.

CAMPINAS

Para efeito de comparação, a RMC (Região Metropolitana de Campinas) trilhou um caminho oposto ao da RMVale.

Em 2001, Campinas era a 11ª cidade mais violenta do estado, com 568 pessoas assassinadas e 57,93 vítimas de homicídio por 100 mil habitantes.

O município de mais de 1 milhão de habitantes caiu para a 19ª posição em 2010, com 169 homicídios e taxa de 15,66. No último levantamento, Campinas é a 31ª cidade mais violenta e contabiliza 112 homicídios em 12 meses, com taxa de 9,38, queda de 40% na comparação com 2010.

ATUAÇÃO LOCAL

Ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel da reserva da Polícia Militar, José Vicente da Silva Filho conhece bem a realidade do Vale e disse que a violência contra a vida exige uma identificação e atuação localizadas, sob medida para cada cidade.

Trabalhando como consultor em segurança pública, José Vicente avaliou que a região tem atualmente picos de violência em alguns municípios, como Cruzeiro e Lorena, que são diferentes dos indicadores de outras cidades, o que interfere na média regional.

"O problema é que a taxa de homicídios é afetada por alguns casos isolados, como no município de Cruzeiro. Não se pode uniformizar o conjunto do Vale, são realidades diferentes", afirmou. "Há cidades com níveis muito altos de segurança, como São José dos Campos, e agora casos como Cruzeiro, que está com 32 mortes por 100 mil, o que afeta a média do Vale."

José Vicente disse que a segurança tem que ser tratada como um fenômeno local, de cidade para cidade, para que a análise dos indicadores não perca o sentido.

Na avaliação dele, são necessárias medidas como verificação dos locais de ocorrência dos crimes, mapeamento do tipo de violência e estudo das vítimas para identificar o tipo de providência a ser tomada. E a atuação do poder público não deve ser apenas na área da segurança pública.

Comentários

Comentários