Nos textos anteriores pudemos acompanhar toda a preparação e a primeira chegada do homem na Lua no ano de 1969. A missão Apollo não encerrou suas atividades com apenas essa viagem, aqui vamos contemplar as próximas missões Apollo, seus desafios e seu encerramento.
Com o sucesso da missão Apollo 11 e com todas as etapas já testadas e aprimoradas, a missão Apollo 12 foi prontamente preparada para ser lançada. Em 14 de novembro do mesmo ano de 1969 o foguete Saturn V decolou do Cabo Kennedy com Charles Conrad Jr., Alan L. Bean e Richard F. Gordon Jr. a bordo. Ela sofreu seu primeiro desafio já no lançamento que ocorreu num dia cheio de nuvens sendo, logo em seguida, atingida por um relâmpago, o que por alguns segundos comprometeu a comunicação com a base de controle. Outro fato interessante foi que um planejamento incorreto da trajetória, colocou a missão em uma órbita incorreta que comprometeria a missão, o que foi corrigido a tempo. Apesar disso tudo, o lançamento foi um sucesso e durante as órbitas em torno da Terra, que acontecem antes da nave ser injetada na órbita translunar, tudo estava funcionando perfeitamente dando aval para que a missão seguisse seu caminho para a Lua.
Quase toda a missão foi transmitida pela televisão e os astronautas mostraram todas as etapas dessa jornada para o público ao vivo. Eles testaram uma nova forma de sobrevoar em alta inclinação com relação ao equador lunar e alterar a trajetória de retorno. Isso poderia melhorar o desempenho e o consumo de combustível além de permitir a acesso a locais que melhoraria a capacidade de comunicação entre o modulo lunar. Outros experimentos científicos foram realizados durante a permanência deles em solo Lunar que foi também em outro local, o Oceano das Tempestades. Lá eles coletaram poeira lunar e rochas, exploraram várias crateras, foram orientados por geólogos diretamente da Terra, coletaram restos de uma sonda chamada Surveyor III que foi lançada para a Lua anteriormente em 1967. No retorno do modulo lunar para a espaçonave que aguardava em órbita para o retorno a Terra, os astronautas realizaram mais um experimento que foi lançar de volta para a Lua o módulo que foi responsável por colocar eles em órbita.
Com isso mediram o seu impacto que foi comparável a um explosivo de uma tonelada de TNT. Foi também mapeado possíveis locais de interesse para as próximas missões lunares. Dessa forma a missão foi concluída com sucesso.
O mesmo não ocorreu para a Apollo 13 em Abril de 1970. Os astronautas James A. Lovell Jr., Fred W. Haise Jr. e John L. "Jack" Swigert Jr. não chegaram até a Lua. Até mesmo antes do lançamento a missão foi comprometida pela contaminação do piloto principal Charles Duke por sarampo que teve que ser substituído pelo astronauta Jack. Durante o lançamento houve um descompasso na queima de combustíveis pelos motores. Houve alterações no tanque de Oxigênio que, foram corrigidos e testados, mas ainda assim, houve comprometimento em outras partes durante esse processo de recuperação que apareceram apenas durante o voo. Ainda assim, após o lançamento, testes feitos em órbita e nesse momento os astronautas sentiram um estrondo. A famosa frase “Houston, we’ve had a problema...”, traduzida em português para “Houston, nós temos um problema...”, foi dita pelo astronauta Jack Swigert que junto dos outros dois astronautas tiveram que realizar uma surpreendente manobra de recuperação das capacidades de voo da espaçonave de forma a garantir que eles conseguissem voltar para a Terra em segurança. Todo o mundo parou para acompanhar esse momento trágico que colocou em xeque a missão e toda a atenção dos especialistas se voltaram para a solução desse problema. A perda do Oxigênio que vazou para o espaço, o nível elevado de dióxido de carbono e o comprometimento dos suprimentos de energia que atrapalhariam até mesmo a capacidade de comunicação entre os astronautas e os especialistas em solo, foram os primeiros desafios encontrados. Para isso, eles adentraram o módulo lunar que seria usado para pousar na Lua e utilizaram todos os recursos necessários a partir desse módulo. A temperatura baixa, os suprimentos alimentares e a água foram pontos críticos e os astronautas se desidrataram significantemente. Quando o estrondo aconteceu, eles já estavam em órbita translunar, assim, precisaram remanejar a órbita para o retorno à Terra, mas isso levaria um certo tempo não esperado de se viver nessas condições. O alinhamento, por exemplo, que normalmente utilizaria sistemas de navegação estavam comprometidos e, inclusive, o sensor de estrelas estava comprometido pelos detritos gerados na explosão. Assim, o alinhamento precisou ser feito pelo Sol, o que normalmente é evitado por segurança. A umidade que ficou aprisionada dentro do módulo oferecia risco de curto-circuito elétrico, mas, devido as adaptações feitas após o acidente da Apollo 1, nenhum problema desses ocorreu. O que houve foi uma sensação de que chovia dentro do módulo durante a reentrada. Finalmente eles conseguiram chegar à Terra, o mais seguro possível dentro de tudo o que aconteceu de problema.
Apesar de não ter chegado a Lua, a missão Apollo 13 ofereceu um avanço no desenvolvimento de medidas de segurança em voo e para a equipe, ficou conhecida como “falha bem-sucedida”.
E se vocês acham que as missões Apollo se encerraram, não, eles ainda voltaram para a Lua nas missões Apollo 14, Apollo 15, Apollo 16 e Apollo 17. No entanto, conforme o tempo ia passando, o mundo ia mudando e a economia estava entrando em uma fase mais crítica. As pessoas já não se entusiasmavam mais com a conquista do espaço pois já era certo que os Estados Unidos haviam vencido essa batalha. O orçamento gasto no investimento espacial era amplamente questionamento em detrimento das demais causas sociais que o país enfrentava e os riscos não pareciam justificar tamanho sacrifício.
Em 9 de fevereiro de 1971, a Apollo 14 com Alan B. Shepard Jr., Edgar D. Mitchell e Stuart A. Roosa a bordo, levou novos experimentos para a Lua, inclusive experimentos que passariam a observar o espaço profundo, além de aprimorar o banco de dados de imagens com fotos de melhor resolução, explorar novos pontos, instalar e testar sistemas de comunicação melhores em banda S e VHF. Sua localização de pouso em solo lunar foi Fra Mauro e percorreram a maior distância ao redor coletando materiais que serviriam para pesquisas em mais de 187 grupos científicos além de servirem de amostras também para países parceiros.
A Apollo 15 lançada em 26 de julho de 1971 trouxe uma inovação à exploração espacial. Os astronautas David R. Scos, James B. Irwin e Alfred M. Worden, foram responsáveis por levar o primeiro veículo para o espaço, conhecido hoje como Rover, o “Lunar Rover Vehicle”. O seu local de exploração seria a região Hadley-Apennine e eles seriam os primeiros a permanecerem por um período maior na Lua, realizando experimentos, aprimorando a engenharia de equipamentos em solo lunar além de realizar experimentos em órbita lunar. Esse foi o primeiro lançamento em solo lunar que pode ser televisionado em tempo real. Foi nessa missão também que pela primeira vez um astronauta, o Alfred Worden, caminhou fora da espaçonave no que chamamos de espaço profundo.
A missão Apollo 16 decolou em 16 de abril de 1972 rumo a região chamada Descartes que é montanhosa e tem características vulcânicas que eram de interesse de serem estudadas. Ali foi instalada o que seria a quarta base de experimentos em sequência das anteriores da Apollo 12, 14 e 15. Foram feitas melhorias em equipamentos comuns de serem usados na lua inclusive no veículo lunar Rover. Até mesmo as habilidades de realizar manobras de curva do veículo foram testadas. Foram instaladas câmeras multiespectrais apontadas para a Terra e para as estrelas. Foi testado também o lançamento de um subsatélite a partir do módulo de comando. Os astronautas John W. Young, Charles M. Duke Jr., Thomas K. Maungly II retornaram a Terra com sucesso no dia 27 de abril de 1972.
E assim chegamos a última missão que levou o homem a Lua. A Apollo 17 levou Eugene A. Cernan, Harrison H. Schmis (primeiro astronauta cientista), Ronald E. Evans no dia 7 de dezembro de 1972 até as terras altas e o vale Taurus Lisrow, uma região com solo diferente dos explorados anteriormente, mas que já havia sido observado pelas missões Luna 16 e 20. Nessa missão foram testados sistemas de energia baseado em baterias para o Rover em contrapartida aos painéis solares além de aprimorar as capacidades de infraestrutura para equipamentos científicos. Experimentos biomédicos foram também alvo dessa missão. Assim, a sexta estação de pesquisa automatizada foi instalada na Lua e no dia 19 de dezembro de 1972, o retorno dos astronautas marcou o fim dessa etapa.
Não pense que a exploração espacial se encerrou com o fim da Apollo 17. Pelo contrário, os experimentos em solo Lunar e o material colhido que retornou a Terra são objeto de estudo até os dias de hoje. Satélites e missões de outros países vêm explorando a Lua desde então mesmo que de forma não tripuladas. Depois dessa fase, a NASA, principal instituição durante a Apollo, voltou seus olhos para uma outra missão: a construção da estação espacial, a famosa “ISS”. Ela nos permitiria manter astronautas em órbita da Terra no espaço próximo realizando experimentos em microgravidade e servindo de apoio em estudos espaciais.
Anos se passaram e algumas descobertas a respeito da Lua e de seus recursos fizeram com que a atenção novamente se voltasse para nosso satélite natural. Assim, em um plano ambicioso que combina o uso de tecnologias inovadoras e muito investimento, os Estados Unidos em parceria com diversos países elaboraram um novo plano de volta a Lua. A nova missão já começou e se chama Artemis. Na próxima semana vamos falar sobre ela, o presente e o futuro.
A minha sugestão de filmes e séries dessa semana fica por conta Apollo 13 - Do Desastre ao Triunfo do ano de 1995 com Tom Hanks que, apesar de ser ficção pode nos levar a emoção de estar a deriva no espaço hostil. Outra sugestão é o documentário The Lunar
Rover: Apollo's Final Challenge que conta a história do Rover na Lua. Se você quer saber mais sobre a missão Apollo, fotos, filmes, curiosidades e detalhes das missões visite o site na NASA (clique aqui).
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